Mostra L.A. Rebellion

12/04/19 - 18/04/19

Cine Humberto Mauro | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

Mostra L.A. Rebellion chega a Belo Horizonte com curtas e longas inéditos no Brasil, que desafiaram os códigos de Hollywood

De 12 a 18 de abril, o Cine Humberto Mauro exibe a mostra L.A. Rebellion, com entrada gratuita e retirada de ingressos 1 hora antes de cada sessão.

Nos anos 1970 a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) iniciou uma política de inclusão de jovens estudantes de cinema de origens diaspóricas e imigratórias nos EUA, impulsionando a produção afro-americana de um conjunto de filmes que ficou conhecido como L.A. Rebellion. A partir do dia 12 de abril, no Cine Humberto Mauro, a mostra homônima vai se debruçar sobre esse contexto de ebulição de um novo cinema negro, com obras de cineastas como Julie Dash, Charles Burnett, Larry Clark e Haile Gerima, além de contar com diálogos inéditos com os race films e os indicados ao Oscar Infiltrado na Klan (2018),  Corra! (2017), entre outros.

 

Confira a PROGRAMAÇÃO da mostra.

Acesse as SINOPSES dos filmes.

Depois de passar por Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, a curadoria, assinada por Luís Fernando Moura e Victor Guimarães, traz à Fundação Clóvis Salgado um recorte de 14 filmes restaurados do vasto e diverso leque de obras produzidas pelos cineastas afro-americanos da UCLA, dentre os quais alguns filmes até então inéditos no Brasil, sem contar com outras cópias acessíveis. Aclamadas pela crítica internacional e reivindicadas pelas novas gerações de cineastas, as obras expressam o vigor e a singularidade dos realizadores. Em BH, sessões comentadas e debates também farão parte da programação.

Para Bruno Hilário, gerente do Cine Humberto Mauro, a mostra dá continuidade a um debate que já estava em curso na programação anual. “Desde o ano passado queríamos exibir alguns filmes em película da L.A. Rebellion que estavam no Brasil, além de continuar a intensa discussão que tivemos na última edição do Festcurtas BH, que foi sobre o cinema negro”, conta. “Queremos que esse tema colabore para manter o debate aceso, aberto e acessível”, enfatiza.

Segundo os curadores Luís Fernando Moura e Victor Guimarães, não só cineastas negros do circuito comercial como Ava DuVernay e Barry Jenkins referenciam a L.A. Rebellion, como também produtores independentes e cineastas experimentais. “Em cada cidade a mostra se relacionou com outras iniciativas de cinema negro que já aconteciam, e em BH não vai ser diferente. A realização da mostra num cinema central e gratuito é muito importante porque ficou claro para nós que há uma sede por esses filmes, e que realizadores audiovisuais se apropriam desse repertório para suas próprias produções”, comenta Victor.

Pouco conhecidas principalmente devido às estruturas de distribuição, as obras evidenciam os processos de autonomia histórica e emancipação artística que moveram os realizadores desse período e que permanecem efervescentes na atualidade. “A cada expansão da mostra temos respostas que dão a sentir que esses filmes da L.A. Rebellion deveriam ser estudados nas universidades, como se o público já estivesse esperando para conhecê-los”, conta Luís. Segundo o curador, essa fatia da produção não costuma ser abordada nas aulas de cinema, apesar de relevante.

 

Cena de “Diário de uma Freira Africana”

 

A rebelião dos cineastas era contra um espelho embaçado de Hollywood no qual não se reconheciam, mesmo a apenas alguns quilômetros da UCLA. “Há um gesto de negação dos códigos vigentes do cinema hollywoodiano, mas também um movimento de invenção com produções que trazem questões muito atuais. Apesar de diversos, todos os filmes são uma tentativa de reconstruir a figura de pessoas negras na história das imagens, a partir da perspectiva negra”, explica Victor, enfatizando que os filmes se inspiram na produção africana e latino-americana.

Com temas afrocentrados e elencos muitas vezes compostos inteiramente por pessoas negras, a L.A. Rebellion se caracteriza, também, por trazer engajamento político com as questões de seu tempo. “Foi o primeiro conjunto expressivo de realizadores dentro dos Estados Unidos a fazer um cinema anticolonial. Era um momento político insurgente, com os Panteras Negras, a prisão de Angela Davis e os movimentos de descolonização na África e na América Latina”, observa o curador.

Outra característica presente nos filmes da mostra é a relação com a música negra americana, em especial o jazz e o blues, além de influência da literatura. Segundo Luís, alguns filmes adotam a forma da crônica, com um olhar voltado para o cotidiano em bairros negros de Los Angeles. “Há um interesse pelo Neorrealismo, pela vida doméstica, as relações de trabalho e os vínculos que se formam nesses lugares”, explica. Já outras produções utilizam uma linguagem ensaística, explorando imagens de arquivo e recursos de montagem que saem do formato narrativo comum.

A construção da identidade da mulher negra é um tema recorrente na programação, tanto em produções de homens quanto de mulheres. Um dos destaques da mostra é o conjunto de curtas de Julie Dash, a primeira mulher negra nos EUA a lançar um filme nos cinemas comerciais. Na programação estão Diário de uma Freira Africana (1977) e Ilusões (1982), ambos em cópias restauradas. O primeiro é uma adaptação de um conto de Alice Walker, e acompanha os questionamentos de uma freira ugandesa sobre sua relação com Cristo e com o continente africano. Já o segundo curta trabalha a questão do colorismo, em que uma cantora negra se passa por uma mulher branca na indústria cinematográfica dos anos 1940.

Outro destaque é Dando um Rolê (1977), que será exibido em oportunidade única: o longa foi concebido como um espetáculo de jazz para as salas de cinema e por isso não possui cópia doméstica, somente a cópia restaurada em DCP cedida pela UCLA. Bush Mama (1979), que abre a mostra no dia 12 de abril, será exibido em 16mm. A trama acompanha Dorothy, mulher negra moradora de um bairro periférico em Los Angeles, vivendo a precariedade do desemprego em meio à prisão do marido, a violência do bairro, da polícia, e a ameaça da assistência social de retirar o benefício que recebe.

Diálogos temporais e cinematográficos – Pela primeira vez a mostra L.A. Rebellion será exibida juntamente de filmes de outros períodos para estabelecer um diálogo de influências sobre o cinema negro. Na programação estão alguns expoentes dos chamados race films, primeira iniciativa de produção independente negra nos Estados Unidos, datada entre 1915 e os anos 1950. “Esses cineastas transformaram o cenário de segregação racial em uma oportunidade de fazer filmes para negros de maneira independente e com grande audiência, já que foi um momento em que o cinema era muito acessível”, explica Victor.

Segundo Luís, embora os produtores da L.A. Rebellion não referenciem diretamente os race films, pesquisadores têm encontrado pontes entre as gerações de filmes independentes. “Ambos trazem filmes de baixo orçamento feitos por pessoas negras para pessoas negras, mas nos anos 1970 os filmes são certamente mais experimentais. Os cineastas da L.A. Rebellion eram mais radicais e estavam investigando uma forma de fazer cinema negro, enquanto os race films estavam se apropriando de métodos já vigentes. São longas mais populares, narrativos e de entretenimento, mas sem abandonar questões políticas relevantes”, avalia o curador.

Faz parte da programação o filme mudo Nos Limites dos Portões (1919), primeiro longa-metragem ainda disponível realizado por um afro-americano, recuperado depois de ser considerado perdido por anos e que celebra seu centenário em 2019. A história acompanha Sylvia Landry, jovem negra e bem-educada que ajuda a levantar fundos para uma escola para crianças negras e pobres no Sul, onde se esconde um terrível acontecimento de seu passado. O longa é considerado um retrato da situação racial dos EUA no começo do século XX. Outro destaque é Material de Pesquisa de Campo (1928), primeira produção audiovisual dirigida autonomamente por uma mulher afro-americana, a antropóloga Zora Neale Hurston.

O indicado ao Oscar deste ano Infiltrado na Klan (2018) também será exibido em diálogo com a L.A. Rebellion. Dirigido por Spike Lee, o longa retrata a história real de Ron Stallworth, primeiro policial negro de Colorado Springs, no estado do Colorado, que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Comunicando-se com outros membros do grupo por telefonemas e cartas, enviava um policial branco no seu lugar quando precisava estar fisicamente presente. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pela organização racista.

Em complemento à exibição dos filmes, diversas sessões durante a mostra serão comentadas e na quarta-feira, dia 17, às 19h, acontecerá o debate L.A. Rebellion, passado e presente com Fábio Rodrigues Filho, Layla Braz, Luís Fernando Moura, Tatiana Carvalho Costa e Victor Guimarães. As conversas com o público pretendem refletir a importância cinematográfica e social desse conjunto de filmes.

 

O evento tem correalização da APPA- Arte e Cultura.

Informações

Local

Cine Humberto Mauro | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

Classificação

VERIFIQUE A CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

Informações para o público

(31) 3236-7400