Mostra David Lynch

19/07/19 - 06/08/19

Cine Humberto Mauro | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

No período de 19 de julho6 de agosto, o Cine Humberto Mauro homenageia uma das personalidades mais cultuadas da história do cinema: o diretor, roteirista, produtor, artista visual e músico David Lynch. A mostra conta com exibições de 14 obras do cineasta, entre curtas, médias e longas-metragens, além da última temporada da série Twin Peaks, lançada em 2017. O estilo marcado pelo surrealismo despertou mistério e admiração por David Lynch em todo o mundo, sendo muitas vezes considerado complexo e incompreensível.

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Segundo Vitor Miranda, que assina a curadoria da mostra junto a Bruno Hilário, gerente do Cine Humberto Mauro, acompanhar a obra de Lynch com o objetivo de extrair o máximo de sentido de uma narrativa é um equívoco. “Uma abordagem mais sincera é enxergá-lo como um diretor que utiliza os recursos do cinema para construir uma sensorialidade, uma imagem diferente e arrebatadora que resulta numa atmosfera única”, ressalta o pesquisador. “No final de um filme você pode até não ter entendido a história, mas com certeza sentiu algo, talvez o mesmo que o personagem sente na trama”.

Transitando entre o thriller surrealista, o neo-noir, o policial e o drama, Lynch iniciou sua carreira inspirado pelo cinema alemão experimental e surrealista. “Na época, Lynch estudava na Academia de Belas Artes da Transilvânia e levou seu trabalho em artes plásticas para o cinema. Durante sua carreira, a plasticidade e o som foram se tornando cada vez mais relevantes para a construção do seu cinema autoral”, conta Vitor. Entre as influências do diretor, estão os cineastas Federico Fellini, Alfred Hitchcock, Roman Polanski, Jacques Tati e Stanley Kubrick.

Entre os elementos que levaram David Lynch a ser considerado um diretor extremamente autoral, estão a luz e a eletricidade, manifestadas em lâmpadas que queimam, descargas elétricas afetando personagens e telefones que tocam sem ninguém na outra linha, criando densas atmosferas de mistério. Outros aspectos interessantes do cinema lynchiano são o design sonoro diegético, em que o som desorienta a experiência do espectador no espaço, e o duplo, elemento ou personagem que, duplicado, evidencia projeções da realidade.

 

Uma viagem pelo universo de Lynch – Seu primeiro longa-metragem foi o terror surrealista Eraserhead (1977), um dos destaques da mostra que, na época, tornou-se rapidamente um clássico cult das sessões da meia-noite. Essa foi uma das maiores complicações de produção da história do cinema, já que demorou sete anos para ser filmado. Enquanto Lynch passava por questões complicadas envolvendo paternidade em sua vida pessoal, Eraserhead acompanha um homem que cuida, sozinho, de seu filho deformado numa paisagem industrial isolada.

Para Bruno Hilario, o surrealismo é onde o cinema encontra sua maior potência poética. “O importante no cinema de Lynch é acompanhar a experiência sensorial e refletir sobre ela sem apego ao certo e errado, já que o diretor propõe uma emancipação do espectador para que ele questione suas próprias percepções”, ressalta o gerente, observando que o cinema de Lynch desorienta o observador assim como suas personagens são desorientadas.

 

Indicado ao Oscar em oito categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, o longa O Homem Elefante (1980) é um drama histórico sensível sobre um homem severamente deformado em Londres no século XIX. No filme, Lynch mantém sua estética barroca explorando o chiaroscuro (claro e escuro) e bebe da fonte dos noir alemães, mas passa longe do surrealismo. O trabalho de maquiagem que compõe o inteligentíssimo e adorável protagonista foi tão notável que motivou a criação do Oscar de Melhor Maquiagem e Penteados no ano seguinte.

 

Em Veludo Azul (1986), outro destaque da mostra, Lynch flerta com narrativas clássicas criando um neo-noir que consolida seus fãs e marca de vez suas características autorais. No filme, um estudante volta à sua cidade natal para visitar o pai e descobre uma orelha decepada num lote vago, levando-o a descobrir uma vasta conspiração enquanto se envolve romanticamente com uma misteriosa cantora de cabaré. “O público e a crítica ficaram fascinados pela sua construção do subúrbio dos Estados Unidos, da vizinhança falsamente perfeita em que todos têm algo a esconder. Essa pesquisa possibilitou, mais tarde, o lançamento de Twin Peaks”, conta Vitor.

 

Na programação da mostra do Cine Humberto Mauro está incluída a terceira temporada de Twin Peaks (2017) e o filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992). Frequentadores do Cine já conferiram em outras mostras as duas primeiras temporadas da série, que explora a investigação do assassinato da admirada jovem Laura Palmer na pacata cidade fictícia de Twin Peaks. Durante a gravação da segunda temporada, Lynch abandonou a série por não sentir liberdade criativa e, mais tarde, decidiu trazer luz à trama com o filme de 1992. Segundo Vitor Miranda, o longa complementa os sentidos da última temporada da produção de TV, que foi gravada mais de 25 anos depois da sua estreia nos anos 1990.

 

Outro destaque (foto) é Estrada Perdida (1997), neo-noir com experimentações de música eletrônica, cuja atmosfera propõe um atravessamento da experiência cinematográfica. Na trama, um músico recebe estranhas VHS contendo imagens do seu cotidiano com a esposa em casa e é preso pelo seu assassinato. Logo depois, David Lynch também dirige a premiada animação da Disney História Real (1999), road movie que acompanha um senhor decidido a atravessar os Estados Unidos num cortador de grama.

 

Assim como o longa de 1997, Cidade dos Sonhos (2001), que será exibido em cópia DCP na mostra, não segue uma narrativa clássica e consolida outros elementos autorais de Lynch, como o duplo, ao contar a história de uma aspirante a atriz recém-chegada em Los Angeles, que se torna amiga de uma mulher com amnésia após um acidente de carro. A cópia em DCP que será exibida é restaurada e foi cedida gentilmente pela distribuidora Zeta Filmes. Por fim, em seu último longa, Império dos Sonhos (2006), o cineasta explora os sonhos e alucinações de uma atriz de Holywood que passa a absorver a personalidade de uma personagem interpretada por ela num filme.

 

História Permanente do Cinema

Nos dias 1º e 5 de agosto, serão exibidas sessões comentadas da mostra História Permanente do Cinema. No dia 1º será exibida uma sessão de curtas-metragens experimentais que serviram de inspiração para a carreira de David Lynch. São eles: A Concha e o Clérigo, de Germaine Dulac; Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel; e Tramas do Entardecer, de Maya Deren. Já no dia 5 o público confere uma das inspirações para o filme de Lynch Coração Selvagem (1990): será exibido O Mágico de Oz (1939). As duas sessões acontecem no horário habitual das 17h.

 

 

 

 

Informações

Local

Cine Humberto Mauro | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

Informações para o público

31 3236-7400