Prêmio Décio Noviello de Fotografia

03/12/20 - 13/02/21

CâmeraSete - Casa da Fotografia de Minas Gerais

Inventário Verde da Boa Esperança. Créditos Maurício Pokemon

A Fundação Clóvis Salgado anuncia a reabertura das exposições do Prêmio Décio Noviello de Fotografia, edição que marca a troca de nome do antigo Edital de Ocupação FCS de Fotografia, publicado em 2019. Com diferentes e criativas propostas, foram contemplados os jornalistas e fotógrafos Dalila Coelho (MG) e Maurício Pokemon (PI), que ocupam a CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais até 13 de fevereiro de 2021, com as exposições É verão o ano inteiro e Inventário Verde da Boa Esperança, respectivamente. Este evento possui correalização da Appa – Arte e Cultura.

Em É verão o ano inteiro, Dalila Coelho nos convida a um passeio ao sol pelas periferias de Belo Horizonte, retratando a prática do bronzeamento com fita isolante. Entre o fotojornalismo e a potência artística das imagens, o público é convidado a imergir em um universo de figurações que vão ao encontro de uma estética por vezes desconhecida e repleta de histórias. Nas imagens de Maurício Pokemon, em Inventário Verde da Boa Esperança, está a comunidade ribeirinha Boa Esperança, situada em Teresina, no Piauí. A partir de sua observação e escuta, Pokemon incita uma reflexão acerca da tradição, importância e permanência dessas comunidades, dedicando sua atenção às ameaças do progresso urbano que afetam os moradores das margens do Rio Parnaíba e aniquilam as tradições e costumes que norteiam a vivência da população.

Para Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado, a realização do Prêmio Décio Noviello de Fotografia, que dá continuidade ao Edital de Ocupação de Fotografia de maneira consecutiva, demonstra a potência desse formato na cidade Belo Horizonte. “São linguagens diferentes ocupando um importante espaço no centro de Belo Horizonte, que é a CâmeraSete. Para nós, é extremamente importante fomentar a fotografia como arte e que o público ocupe cada vez mais a Casa de Fotografia de Minas Gerais”, destaca.

A publicação de um edital exclusivo para a fotografia é mais uma diretriz de valorização da arte fotográfica promovida pela Fundação Clóvis Salgado. Em junho de 2015, a FCS passou a dedicar a CâmeraSete, espaço localizado no hipercentro de Belo Horizonte, à fotografia. A adequação veio atender a uma necessidade do Estado, com o estabelecimento de um espaço referencial para ações de debates e reflexões sobre esta linguagem artística.

 

Medidas de segurança – Seguindo as orientações do programa Minas Consciente, protocolo para a retomada econômica de Minas Gerais, a Fundação Clóvis Salgado estabeleceu uma série de normas para a volta das atividades de suas galerias de forma segura.

Para evitar aglomerações, a galeria contará com sinalização nas áreas externas e internas para garantir distanciamento entre as pessoas durante a visitação. O uso de máscaras – tanto para visitantes quanto funcionários – será obrigatório. Todos os ambientes da CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais serão higienizados diariamente antes da abertura ao público e serão disponibilizados tapetes para a limpeza de calçados, assim como álcool em gel 70% para desinfecção das mãos.

O número de visitantes da CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais será reduzido para 7 pessoas por vez, e os visitantes deverão seguir recomendações como evitar conversar, manusear telefone celular, ou tocar no rosto durante a permanência no interior do Centro Cultural; cobrir o nariz e a boca ao tossir ou espirrar; realizar a higienização das mãos ao entrar e sair do espaço; seguir sempre as instruções dos funcionários e não frequentar a galeria caso apresente qualquer sintoma de resfriado ou gripe.

 

Sobre as exposições:

É verão o ano inteiro. Créditos Dalila Coelho

É verão o ano inteiro, de Dalila Coelho

A série de 13 fotografias É verão o ano inteiro surge a partir de reportagem homônima da jornalista e fotógrafa Dalila Coelho, em um retrato do cotidiano nas casas de bronzeamento das periferias Belo Horizonte. Nas imagens, as personal bronzers (profissionais do bronze) e as clientes frequentadoras dos espaços performam uma realidade potente e, por vezes, desconhecida pelos belo-horizontinos. Dalila Coelho, que cresceu no bairro Serrano, na região Noroeste de BH, mescla a força de sua origem ao conhecimento fomentado pelo contado com a universidade, que proporcionou novos caminhos de apreensão e figuração da realidade.

Exclusivamente formada por imagens analógicas, a exposição configura um novo desdobramento imagético em torno das casas de bronzeamento, que se distancia do efeito midiático e propagandístico e estabelece uma nova visão estética. Segundo Dalila Coelho, o contato das fotografadas com o trabalho final resultou em um certo choque, e esse choque poderá ser estendido à reação dos visitantes.

É verão o ano inteiro é o primeiro registro analógico profissional de Dalila Coelho, que ressalta o empoderamento das profissionais do bronze como traço fundamental da série. “Essas mulheres são responsáveis por girar a economia da cidade trabalhando com o processo de ‘fitagem’*”. O registro antropológico passa também pelo cuidado em destacar a importância do trabalho dessa comunidade, ressaltando a força dessas mulheres”, explica.

Segundo a fotógrafa, as corporificações apresentadas nas imagens – mulheres nas camas para o bronzeamento e profissionais realizando a fitagem nos corpos – foram capturadas com delicadeza, para que a sexualização dos corpos não ultrapassasse ou ofuscasse a proposta do trabalho. “A relação do feminino com os procedimentos estéticos é registrada a partir de uma percepção do fenômeno, ou seja, da prática do bronzeamento de fita, e não na individualização dos corpos”, destaca Dalila Coelho. “Seguindo a mesma lógica, optamos por não selecionar imagens que atribuem destaque aos rostos das fotografadas”.

O uso da câmera analógica no contemporâneo é também um ponto importante da exposição, que se relaciona com a proposta do bronze, com as marcas na pele – a fotografia é um processo de registro da imagem a partir da ação da luz no papel. O microuniverso da fitagem na imagem de Dalila Coelho é capaz de transportar o visitante para um lugar diferente até mesmo das próprias periferias belo-horizontinas: o céu azul, presente na grande maioria das fotos, traz à memória uma imagem praiana e a realidade de que a praia, por vezes, é cada um quem faz.

 

*Fitagem é uma técnica que consiste em delinear um “biquíni de esparadrapo” ou fita isolante, na área a ser bronzeada, dando mais precisão ao bronzeado e à marquinha.

 

Inventário Verde da Boa Esperança. Créditos Maurício Pokemon

Inventário Verde da Boa Esperança, de Maurício Pokemon

Com um histórico de circulação nacional, Inventário Verde da Boa Esperança já passou pelas cidades de Teresina, no Piauí, e pela capital de São Paulo. Narrativa que se modifica a cada exposição, a mostra do artista visual piauiense Maurício Pokemon reúne 91 fotografias analógicas produzidas na Comunidade da Boa Esperança, à margem do Rio Parnaíba, que abriga a população originária de Teresina. A mostra é um manifesto em prol da preservação e sobrevivência da comunidade, que sofre com projetos políticos e econômicos de modernização do espaço, ignorando os moradores e suas vivências.

O trabalho faz parte de uma pesquisa iniciada de forma autônoma pelo fotógrafo em 2015, contemplada como projeto verdeVEZ, do programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018. Foi realizado em residência entre a Comunidade da Boa Esperança e o CAMPO Arte Contemporânea (espaço de residências artísticas de diferentes linguagens), desembocando em uma exposição fotográfica e um livro. O processo teve a colaboração de pesquisa do artista e professor Alexandre Sequeira (PA), do historiador e morador da Boa Esperança, Raimundo Novinho, e o importante suporte na comunidade dos moradores Chico, Lúcia, Dona Davina e sua família.

Boa Esperança foi terra ribeirinha para índios, caboclos e descendentes de escravos. A população presente nesse local legitima, atualmente, a força desses primeiros habitantes, herdando saberes tradicionais e ancestrais muitas vezes renegados pela história hegemônica. As fotografias de Pokemon buscam apreender as práticas, forças e vulnerabilidades da comunidade, como a relação dos moradores com o barro, com as plantações/vegetação, com os animais, com as águas e com todos os demais fluxos da natureza.

Segundo o fotógrafo, a convivência com a comunidade de Boa Esperança partiu de um desejo de conhecer as histórias por trás das manifestações contrárias às ameaças do Projeto Lagoas do Norte. “As imagens do Inventário Verde são resultado de um longo e atencioso processo de escuta ativa e de uma ética de parceria, construída diariamente. O viés é sempre de encontro com a comunidade, em sintonia com a vida dos moradores”, ressalta Pokemon. “O trabalho é também um manifesto, uma luta contra o apagamento dessa comunidade, se estendendo por outras lutas e realidades do Brasil. A arte está presente como potência da voz, e é também presente nas práticas dos moradores de Boa Esperança, como no artesanato e na autoconstrução de casas de taipa”.

O cuidado de Pokemon também se revela na construção de uma relação profícua com Boa Esperança, na qual as imagens são expostas para os moradores. “A comunidade recebe muitos estudantes e pesquisadores que não possuem a prática de devolução das imagens ou do material produzido no trabalho”, ressalta o fotógrafo. “É de extrema importância para os moradores se reconhecerem nas fotografias, valorizando a própria prática ribeirinha e artesanal que constroem”.

A cor verde atravessa todo o processo de criação do fotógrafo, da percepção dos costumes da comunidade até as relações subjetivas dos moradores de Boa Esperança com as forças da natureza. Inventário Verde da Boa Esperança convida o visitante a perceber uma outra maneira, mais orgânica, de se fazer presente no mundo. Com imagens que ressaltam a simplicidade e a comunhão de um povo, a mostra aprofunda o atravessamento entre o campo, a cidade e a prática artística.

Informações

Local

CâmeraSete - Casa da Fotografia de Minas Gerais

Horário

12h às 20h (terça a sábado)