Terra Prometida

07/12/18 - 03/02/19

PQNA Galeria Pedro Moraleida | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

De 7 de dezembro a 03 de fevereiro, a Fundação Clóvis Salgado traz à PQNA Galeria Pedro Moraleida do Palácio das Artes, a exposição Terra Prometida,  com obras do escultor e fotógrafo mineiro Rodrigo Albert, e curadoria do artista e pesquisador Divino Sobral.

Temas como religião, fé e cativeiro estão retratados em fotografias, vídeo e esculturas. A mostra, que foi apresentada pela primeira vez na cidade de Veracruz, no México, é um giro documental em torno de relatos desumanos presentes nos cenários de vigilância, cerceamento e castigo do espaço carcerário. O trabalho do artista retrata a realidade das prisões brasileiras entre 2002 e 2010, e foi sendo completado até 2015 nas prisões mexicanas.

O título da exposição, Terra Prometida, contém toda a significação do trabalho de Albert. Sobral explica que “o presídio é local onde a terra prometida adquire sentido na liberdade pós-pena. E é assim, da condenação à libertação, que Albert registra ambientes do sistema penitenciário, realizando um trabalho de fôlego e de coragem”. Além disso, a especificidade da PQNA Galeria Pedro Moraleira, que é um corredor formado de um lado por nichos e de outro por vidro, foi encarada como “arquitetura de celas”. Cada nicho será sinalizado como uma cela de prisão, no intuito de potencializar as ideias de cerceamento e de liberdade.

O artista despertou seu interesse pela realidade dos cárceres após ser convidado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais para observar a vida de habitantes dos “cárceres de portas abertas”, modelo implantado no país nos anos 1970 em resposta às constantes rebeliões no presídio de São José dos Campos (SP). Chamados Centros de Reintegração Social, são apoiados pela Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), e hoje somam mais 100 por todo o Brasil e em diversos países. “Visitei os centros de Itaúna, Nova Lima e Santa Luzia como voluntário – mas dei início ao projeto fotográfico em Itaúna, registrando o dia-a-dia dos internos, destacando aspectos como a religião, a transformação humanitária e a reinvenção do cotidiano”, conta Albert.

Envolvido com fotografia desde quatorze anos de idade, Albert é um dos nomes que despontou na cena fotográfica mineira no primeiro decênio do século XXI. No entanto, segundo Divino Sobral, a obra do artista ainda aguarda maior espaço nas instituições artísticas brasileiras devido ao seu afastamento do circuito nacional por dez anos, período em que viveu na França e no México. “O trabalho singular de Albert encorpa de maneira significativa a tradição ética da arte brasileira, comprometida com a reflexão sobre a condição indigente da sociedade, marcada historicamente por acentuada injustiça social e por grave hierarquia racial e econômica”, explica o curador.

Rodrigo Albert participou da exposição coletiva Segue-se ver o que quisesse, realizada noPalácio das Artes em 2012, que contemplou um registro da vida cotidiana mineira por meio de fotografias dos anos 40 até a contemporaneidade. Hoje, o artista retorna ao complexo cultural para sua primeira exposição individual.

Múltiplas formas de retratar a violência – A foto-assemblage Eu abre a exposição. Ela é um registro de um rapaz preso por aliciamento de menores para a prática de roubo, na qual o artista agrega, em uma colagem tridimensional, objetos como uma boneca de plástico, bala de fuzil, relógios, medalha da inconfidência mineira, cinto militar, algema, cruz e um óculos de lente espelhada – elemento que traz a própria imagem do espectador para o interior da fotografia, na condição de cúmplice daquela realidade. Segundo Sobral, a obra narra o ciclo de vida sem perspectiva de grande parte da população masculina segregada do país. “É um retrato de um jovem pobre, sem escolaridade e sem trabalho, que cresce movido pelo desejo de consumo e de ostentação, em um modo de afirmação social”, destaca o curador.

Ainda segundo Sobral, Albert experimenta o deslocamento da imagem de natureza bidimensional para o terreno tridimensional no intuito de “dar corpo” à fé, que muda trajetórias de vida durante a condenação. “Ele cria esculturas de pequenas dimensões inspiradas em algumas situações capturadas em presídios, como na obra A Culpa, em que as mãos executadas em ouro pendem nos braços de uma cruz recortada em negativo na chapa de ferro. Na fotografia The Wall, uma escada encostada no muro vaza em direção ao céu. Ambos são trabalhos impregnados de significação religiosa”, explica o curador. “O primeiro aborda a relação direta da culpa com o sacrifício de Cristo para o perdão dos pecados e dos crimes. O segundo reflete sobre a elevação e a transcendência, presentes na promessa da libertação”.

Na prisão mexicana Penal de Allende, localizada em Veracruz, o artista fotografou imagens da série Santa Muerte, homônima à figura sagrada venerada por classes baixas e marginalizadas do México, resultado de um sincretismo entre crenças católicas e americanas. A santa é fortemente relacionada ao narcotráfico, e por isso é pintada na parede dos presídios em alusão aos crimes de morte. A disposição das imagens em dois grupos de nove fotografias faz alusão ao jogo de cartas la loteria, bastante popular entre os mexicanos, no qual se joga com as cartas da morte e do azar. A exposição ainda conta com uma imagem de uma cela vazia do mesmo presídio em Veracruz.

Encerrando a exposição, o vídeo Vientos mostra a bandeira do México flamulando no céu azul, enquanto sons de labaredas de fogo e de rajadas de metralhadora invadem o ambiente. Vientos, em espanhol, é uma expressão que significa “boa sorte”, e foi utilizada por Albert como ironia, ao abordar o massacre de Iguala – crime ocorrido em 2014, quando quarenta e três jovens estudantes mexicanos entraram em confronto com a polícia, foram presos e torturados, e depois entregues a membros de uma facção criminosa para serem assassinados. “A barbaridade que chocou o México e o mundo só foi desvendada após ser encontrado o celular de uma das vítimas. Por isso, Albert optou por filmar a bandeira também com o celular”, conclui Sobral.

Rodrigo Albert – Artista mineiro que começou a se destacar no início de 2005 com registrando por meio da fotografia questões políticas e sociais, na relação entre arte e violência, vida e morte. Em 2006 vence o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, um dos mais importantes da fotografia brasileira, e no mesmo ano é indicado para o World Press Photo Joop Swart Masterclass Fundação World Press Photo, Holanda. Em 2009 muda-se para França onde reside por dois anos e em Paris ganha o Prêmio SFR/Polka; escolhido pelo fotógrafo francês Marc Riboud membro da agência Magnum Photos e é Menção especial no Grande Prêmio de Fotografia SFR Jovem Talento 2010; também foi selecionado para o Descobrimientos PHOTOEspña 2010. Em 2011 segue para o México onde começa a inserir em suas investigações o vídeo, a instalação e a escultura, e é convidado a participar do livro “A book of beds” da prestigiada revista FOAM, em Amsterdã, Holanda. Em 2013, é convidado pela curadora Ingrid Suckaer, e apresenta o projeto: “Cárcel e Libertad en Brasil” no Festival Internacional Cervantino em Guanajuato, México. Seus trabalhos já foram apresentados em exposições individuais e coletivas em vários países da América Latina, Europa e Ásia. Atualmente, divide sua vida entre o Brasil e o México. É representado no Brasil pela Periscópio Arte Contemporâneo, em Belo Horizonte, e na Europa pela agencia Picturetank, com sede em Paris.

Este evento tem correalização da APPA – Arte e Cultura. 

Informações

Local

PQNA Galeria Pedro Moraleida | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

Horário

Terça-feira a sábado, 9h às 21h
Domingos, 16h às 21h

Classificação

LIVRE

Informações para o público

(31) 3236-7400