Exposição Ópera em Cartaz | Texto curatorial

Ao celebrar seus 50 anos de atividades, a Fundação Clóvis Salgado optou por um olhar multidisciplinar para a ópera, estabelecendo pontes entre diferentes áreas do fazer artístico: a música, o texto, as artes plásticas, o cinema, a dança. Da mesma forma, a exposição de cartazes de produções encenadas nas últimas décadas no Palácio das Artes internaliza esse olhar múltiplo e estabelece uma ponte de contato entre o que acontece no palco e o desejo do design gráfico de representá-lo.

O material está reunido a partir de um recorte que leva em consideração a origem dos títulos, em seções dedicadas aos repertórios italiano, francês, de língua alemã e brasileiro. Mas, vistos em conjunto, os cartazes contam também uma outra história, a da própria transformação da arte de retratar, no formato pontual e estático de um cartaz, obras que são feitas do movimento das emoções, recriado pelo abstrato da música.

Cartazes como os das óperas Turandot, de Puccini, Carmen, de Bizet, A Viúva Alegre, de Lehár, e La Traviata, de Verdi, mostram acima de tudo a preocupação com a informação. Com o passar do tempo, no entanto, outros olhares para La Traviata presentes na mostra tentam unir o desejo de informar com um mergulho no próprio espírito da obra. E aqui as possibilidades são múltiplas.

Para O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, a opção é pelo grafismo; para La Bohème, o foco é histórico, em uma estética que remonta à Paris em que se passa a ópera de Puccini. Para Pelleàs et Mélisande, a escolha recai sobre a sutileza sugestiva – como o faz a música de Claude Debussy. Romeu e Julieta, de Gounod, e O Holandês Errante, de Wagner, possuem caráter quase expressionista, acompanhando a proposta das encenações. E, em O guarani, os fragmentos de vestimenta indígena provocam: são como uma janela aberta em direção ao palco, lembrando uma ópera icônica da cultura brasileira e mostrando que, no imaginário e no palco, estão em constante transformação.

João Luiz Sampaio