G de Garrafa

Quem nunca foi a uma exposição de arte, se deparou com um objeto comum ocupando lugar de destaque e ficou pensando: “Hummm, interessante, mas… será que entendi essas garrafas, aqui, bem no meio da galeria?”

Pensando nisso, montamos para você um glossário de A-Z de objetos poéticos e realizamos uma curadoria cuidadosa de artistas e obras no contexto atual.

 

Bora falar de Arte?

 

 Ilustração: Clarissa d’Errico.

 

Na postagem anterior conversamos sobre a letra “F” de foto, sobre a artista Nydia Negromonte e algumas obras dela que incluem esse item.

A seguir, a próxima letra na ordem alfabética é “G” e o objeto inspirador que escolhemos dessa vez é a garrafa!

 

Garrafa

Você já tomou um suco de uva e, quando terminou, também achou que a garrafa era bonita demais para ser jogada fora? E, sem se dar conta, passou a ter uma coleção diversificada, com garrafas de todas as cores e formas? No cotidiano, é comum que essa sua coleção precise ser justificada com um propósito, desde manter sua água fresca na geladeira, abrigar uma plantinha, ou até, simplesmente, decorar sua casa, do contrário, vira acúmulo. Porém, para a arte nada é acúmulo: achar a garrafa bonita, por si só, já é um passo em direção à inspiração e à poesia. Continue lendo para conhecer uma artista que se inspira e cria trabalhos a partir desse item.

 

Claudia Tavares

Claudia Tavares é brasileira, artista visual e professora. Ela se formou inicialmente como fotógrafa e, por isso, usa essa linguagem como a principal forma de documentar suas ações artísticas. Porém, ela também desenvolve sua pesquisa em outros meios, como vídeo, instalação, objeto, som e texto. Para ampliar a dimensão poética do trabalho, a artista usa o texto em formato de narrativa ao lado de uma imagem ou objeto, enquanto o vídeo é utilizado como um recurso para apreciar a passagem do tempo, como olhar a chuva que cai ou ficar vendo uma garrafa se encher até transbordar.

 

Foto: Daniela Parampal.

 

Um jardim em Floresta (2018)

Será possível um acontecimento te provocar e disso sair arte?

A artista Claudia Tavares prefere usar a palavra provocação para falar de inspiração e foi graças às provocações das paredes do seu ateliê que a exposição Um jardim em Floresta pôde nascer. Ela apresentou esse trabalho em 2018, na Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes.

Observando a umidade que brotava em seu ateliê e um desumidificador que fazia o contínuo trabalho de tirar do ar essa umidade e transformá-la em água, a artista se sentiu provocada a fazer algo com aquele líquido. Todos os dias, ao jogar na pia aquela água que sobrava, ela se lembrava de um povoado no sertão de Pernambuco, de nome Floresta. No povoado e nos arredores não chovia há mais de três anos; já em seu ateliê, chovia sem parar. Foi então que ela começou a guardar a água em garrafas de vidro, como se o espaço fosse uma mina d’água, ou um “ateliê-mina”. Foram muitas garrafas, umas 180. E, nesse gesto de guardar a umidade, Claudia sentiu vontade de umedecer, mesmo que temporariamente, o sertão.

Foram mais de dois mil e cem quilômetros no caminho percorrido do Rio de Janeiro até chegar em Floresta. Para essa travessia, Claudia embrulhou cuidadosamente cada garrafa e seguiu por terra nessa viagem. A artista conta que imaginou que suas garrafas formavam um rio voador na rota da água. A intenção ao chegar era construir um jardim e regá-lo com a água do ateliê. No povoado ela conseguiu com os moradores diversas mudas e plantas que integraram o jardim. Poucos dias depois do jardim pronto, a chuva também chegou e com ela tudo ficou mais verde.

Na exposição Um jardim em Floresta, Claudia apresenta esse processo desde o ateliê, passando pela jornada até Floresta, a doação de mudas, a construção do jardim, até a chegada da chuva. Essa narrativa é apresentada em diferentes mídias: fotos, vídeos e áudios. Mas um objeto chama atenção na galeria: as garrafas usadas para o armazenamento e transporte da água, de formatos, tamanhos e cores variadas. Elas eram a prova material daquela estória contada, como testemunhas que presenciaram a descoberta do guardar a água, a viagem, a irrigação e a chegada do momento de contar tudo o que viveu.

Você conhece algum outro artista que também usou garrafas? Ou pensou em outro objeto com a letra “G”? Conte para nós, por meio das mídias sociais, usando a hashtag #borafalardearte.

Semana que vem vamos conversar sobre a letra “H”, “H” de hélice, refletir sobre nossa relação com esse objeto e apresentar um artista que trabalha com isso. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

 

Para curiosos:

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Assista ao vídeo Um jardim em Floresta | Livro objeto

Veja o Catálogo Um jardim em Floresta – Claudia Tavares

Ilustração: Clarissa d’Errico.

 

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.