Concerto especial celebra 40 anos do CLMG, cujas vozes são consideradas verdadeiros ‘poemas sonoros’

publicado em 20 de maio 2019

 

Público será contemplado com surpresa no final da apresentação, que conta com regência do argentino Hernán Sanchéz e participação de ex-integrantes do Coral Lírico e de outros corais da cidade.  

A direção cênica é do pesquisador Ernani Maletta

 

Um dos grupos artísticos mais tradicionais do estado, o Coral Lírico de Minas Gerais, celebra, em 2019, seus 40 anos. Criado em 17 de abril de 1979, o corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado também tem outro motivo para comemorar, o título de Patrimônio Histórico e Cultural do Estado, concedido em janeiro de 2019. Marcado pela diversidade de repertório, o CLMG sobe ao palco do Grande Teatro do Palácio das Artes em edições especiais das séries Lírico ao Meio-Dia e Lírico em Concerto, que também vão celebrar o movimento coral de Belo Horizonte, com a participação de ex-integrantes do CLMG e de outros corais da cidade.

O programa reúne as composições Magnificat, de Felix Mendelssohn, Mirjam’s Siegesgesang, de Schubert, e Liebeslieder Waltzes, de Brahms, além de coros de grandes óperas, como Carmen e o Pescador de Pérolas, sob regência do convidado, o maestro argentino Hernán Sanchéz. As apresentações também contam com participação de Cenira Schreiber, pianista da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Fred Natalino, pianista acompanhador do Coral Lírico de Minas Gerais, e da solista convidada Andréa de Paula (soprano). O naipe de percussão da OSMG também estará presente em momento especial do concerto.


Um título à altura – 
No ano de seu 40º aniversário, o CLMG recebeu o título de patrimônio histórico e cultural do Estado. Agora, o grupo se junta à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e também ocupa o status de patrimônio de todos os mineiros. A sanção da Lei 23.246, de 2019 foi publicada no Diário Oficial do Estado em 5 de janeiro de 2019, alterando a Lei 20.628, de 2013, que já incluía a OSMG como patrimônio cultural do estado.

Para a presidente da Fundação Clóvis Salgado, Eliane Parreiras, esse é um importante momento na trajetória do Coral Lírico de Minas Gerais. O grupo, que ao longo dos anos vem se destacando por explorar diferentes nuances da música coral, sempre exaltou em suas apresentações uma das mais potentes tradições do estado, o canto coral.

“Alcançar o status de patrimônio cultural do Estado significa manter viva a tradição do canto coral no estado e é motivo de grande alegria para todos aqueles que já passaram pelo Coral Lírico, os artistas, os regentes e, principalmente, para os nossos coristas que se esforçam todos os dias para presentear o público com um repertório que celebra diferentes movimentos, períodos e estilos da música coral”, destaca.

 

Um repertório de sons e imagens – Para as apresentações comemorativas, o repertório foi pensado para proporcionar ao público uma experiência que vai além da sonoridade da música coral. O programa reúne os três principais expoentes e grandes nomes do período do Romantismo da música coral: Felix Mendelssohn, Schubert e Johannes Brahms,

De acordo com Lara Tanaka, regente titular do CLMG, todas as obras escolhidas possuem características marcantes, que permitem ao Coral Lírico uma dinâmica diferente na composição cênica. “As obras que estão nesse repertório exigem interpretações ainda mais expressivas do Coral, pois são canções que tratam de sentimentos muito distintos. Em Liebeslieder Waltzes, de Brahms, temos canções de amor para vozes e piano a quatro mãos. Há especulações de que a motivação de Brahms para esta composição foi seu amor frustrado pela pianista Clara Schumann, esposa do compositor Robert Schumann”, destaca.

Emoção também é o que marca a obra Magnificat, de Felix Mendelssohn. A música sacra manteve uma posição de grande importância em toda a carreira de Mendelssohn. Destinado tanto à igreja quanto à sala de concertos, suas obras sacras recebem influências judaicas. “Polêmicas à parte, durante sua vida, Felix foi sem dúvida um compositor de música sacra altamente aclamado. Mendelssohn compôs essas obras no ano de sua morte em 1847”.

O compositor alemão Franz Schubert é amplamente conhecido por suas canções sinfonias. Em Mirjam’s Siegesgesang, obra que vai contar com a participação da solista convidada Andréa de Paula (soprano), Schubert explora um formato próximo à linguagem do oratório ao abordar o tema bíblico da fuga dos israelitas do domínio egípcio. Lara Tanaka explica que o texto do poeta Franz Grillparzer foi adaptado para solo de soprano em diálogo com coro a quatro vozes e piano.

“A parte da solista expressa o papel de Miriã, a profetisa que liderou as mulheres de Israel com música, danças e um poema de louvor a Deus. O diálogo entre a solista, coro e a refinada composição pianística criam imagens quase visuais da passagem com a aproximação das tropas do faraó, abertura do mar vermelho e a libertação dos hebreus. O nível de elaboração e amplitude do tratamento do tema sugerem que seria uma peça sinfônica cuja orquestração Schubert não chegou a completar”, finaliza a maestrina.

 

As cores e as formas da música coral – Pensando na diversidade do repertório, em especial, nas diferentes possibilidades cênicas do programa, as apresentações terão dinâmicas diferentes. Com direção cênica do pesquisador e professor Ernani Maletta, a disposição dos coristas sairá do tradicional padrão de duas fileiras de homens e mulheres e apostará em outras possibilidades. Ora serão trios de cantores, ora grupos separados por classificações vocais, entre outras variações, explorando a acústica do Grande Teatro do Palácio das Artes e as singularidades das composições.

Para Ernani Maletta, a ideia é criar uma poesia sonora e visual no palco. O diretor, que foi responsável por uma pesquisa sobre a trajetória do Coral Lírico quando a Fundação Clóvis Salgado comemorou 35 anos em 2006, pretende criar um espetáculo visual, aproximando o público das obras que o Coral vai interpretar. “Cada composição desse repertório tem uma singularidade. Acompanhei os ensaios e percebi como essas músicas exigem interpretações muito mais expressivas dos coristas. Então, a ideia de mudar o posicionamento do coro no palco é uma forma de transformar esses concertos em grandes espetáculos visuais e sonoros para o público”, destaca Ernani.

Acompanhado de Cristiano Diniz e João Vasconcellos, o desenho de luz que Ernani está propondo para os concertos também dialoga com as particularidades das composições. “Estamos estudando diversas formas de iluminar esse espetáculo. Uma luz dramática, mais fria, mais quente. O repertório, de fato, nos permite explorar várias fronteiras criativas para criar uma unidade de imagem e som no palco”, destaca Ernani. Haverá, também, projeções de imagens variadas na boca de cena do Grande Teatro, entre a interpretação de uma e outra composições.

 

As vozes de Minas ao longo dos anos – Com uma trajetória artística que tem início antes mesmo de sua própria fundação, o Coral Lírico de Minas Gerais tem se destacado nas produções culturais por interpretar um repertório diversificado e que contempla diferentes estilos e períodos da música coral. Em seus primeiros anos de vida, o grupo foi criado para interpretar, ao lado da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, grandes títulos de óperas. Com o passar do tempo, o grupo foi se diversificando e incluindo outros estilos, como motetos, composições sacras, barrocas e obras da música popular brasileira.

Para a diretora de produção artística da FCS, Cláudia Malta, investir e atualizar um coro com repertório tão diversificado contribui para o fomento do canto coral e, também, oferece ao espectador diferentes possibilidades artísticas. “É um grande orgulho saber que o Coral Lírico de Minas Gerais pode interpretar as mais variadas peças. Raros corais no país conseguem partir de um repertório de músicas sacras em uma semana e, na outra, interpretar coros de óperas ou um concerto ao lado de um grande nome da música brasileira. Por isso é sempre muito importante apostar e incentivar a diversidade de todos os nossos corpos artísticos”, enfatiza Cláudia Malta.

Embora sua “data de nascimento” seja oficializada como 17 de abril de 1979, o corpo artístico da FCS tem suas origens datadas de duas décadas antes, com o surgimento da Sociedade Coral de Belo Horizonte, no início da década de 1950. Naquela época, um grupo de cantores líricos da cidade e os entusiastas da ópera decidiram se reunir para incentivar a arte lírica e realizar temporadas operísticas, a serem apresentadas no Teatro Francisco Nunes, então teatro municipal da capital.

Além do apoio do vice-governador, Clóvis Salgado, e sua esposa, a cantora lírica Lia Salgado, o maestro Luiz Aguiar foi um dos grandes incentivadores da consolidação da Sociedade Coral de Belo Horizonte. Por anos, Aguiar trabalhou como regisseur e assumiu a função de regente do coro em 1964. De todas as apresentações realizadas pela Sociedade Coral ao longo dos anos, talvez, uma das mais importantes tenha sido a que inaugurou, extraoficialmente, o Grande Teatro do Palácio das Artes, três anos antes da conclusão das obras, em 1968.

Enquanto o grupo de artistas ensaiava para apresentar os coros da ópera O Guarani, no Teatro Francisco Nunes, Pery Rocha França, engenheiro responsável pelo seguimento das obras do Palácio das Artes, propôs que o grupo se apresentasse no palco ainda em construção do que seria o Grande Teatro do Palácio das Artes. A realização dessa temporada lírica foi fundamental, não somente para a conclusão das obras, bem como para a consolidação do Coral da Fundação Palácio das Artes, em 1971.

Foi nesse período que a Fundação Palácio das Artes passou a contar com mais um corpo artístico estável, o Coral do Palácio das Artes. Em 13 de março de 1971, sob direção do maestro Marum Alexander, ano da inauguração oficial do Grande Teatro, o corpo artístico interpretou o oratório O Messias, de Händel. Este grupo teve suas atividades encerradas dois anos após a inauguração.

Em 1979, ano em que a Fundação Palácio das Artes passa a se chamar Fundação Clóvis Salgado, a instituição recria seu corpo artístico estável, denominando-o de Coral Lírico de Minas Gerais, tendo o maestro Luiz Aguiar como seu regente titular. Com o passar dos anos, o que era para ser apenas um coral especializado em canto lírico, apresentando-se quase que majoritariamente com a orquestra sinfônica, ampliou seu repertório, abraçando a grande diversidade da música coral.

Também já estiveram à frente do Coral Lírico de Minas Gerais renomados regentes como Marcos Thadeu, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Ângela Pinto Coelho, Eliane Fajioli, Silvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda, Márcio Miranda Pontes e Lincoln Andrade, sendo Lara Tanaka a atual regente titular.

 

Informações

Ingresso

R$20,00 (inteira) – COMPRAR 

Local

Grande Teatro | Palácio das Artes | Av. Afonso Pena, 1537. Centro. Belo Horizonte

Horário

20h30

Duração

60 minutos

Classificação

Livre

Informações para o público

(31) 3236-7400