Retratos no Acervo da Fundação Clóvis Salgado

Hoje vamos apresentar alguns trabalhos que integram a exposição Acervo FCS Retratos, na PQNA Galeria Pedro Moraleida, no Palácio das Artes. Com obras de sete artistas, essa exposição exibe parte do acervo da Fundação Clóvis Salgado, tendo como foco a produção retratística que o compõe.

Acervo e retrato, dois termos que fazem parte do universo das artes. Que tal explorá-los um pouco mais?

Retrato é a representação de uma figura. Gênero tradicional da pintura, ele foi explorado por diversos artistas, marcando presença em diferentes movimentos da história da arte. Durante muito tempo, os retratos foram realizados, em grande parte, por encomenda de nobres e burgueses, que associavam essas imagens a reconhecimento e poder. Muitas vezes, eram produzidos com base na observação de um modelo vivo, o que confere aos retratos a possibilidade de revelar dados históricos a partir da análise de traços, vestimentas e estilos.

Os retratos tornaram-se um gênero autônomo a partir do século XIV, tendo sua expansão na Renascença italiana. Ao longo da história e com o surgimento de outras linguagens artísticas, como a fotografia, a forma de retratar e os seus propósitos foram mudando. No Brasil, o gênero foi muito difundido, indo desde o século XIX, com obras de Almeida Júnior, até o modernismo, com obras de Tarsila do Amaral e Alberto da Veiga Guignard. Na atualidade, muitos artistas continuam produzindo retratos.

O processo de criação de um retrato pode acontecer de diversas formas, podendo variar, por exemplo, de acordo com a linguagem utilizada pelo artista: pintura, fotografia, desenho, gravura, entre outras. Na história da arte, encontramos diversos artistas que fizeram muitos retratos e autorretratos – quando os artistas traçam suas próprias imagens em uma superfície – durante a vida, principalmente usando a pintura. Nesse sentido, é interessante perceber como os retratos podem indicar características tanto físicas quanto psicológicas das pessoas retratadas. Rembrandt van Rijn, pintor do período Barroco na Holanda, “documentou” sua vida por meio de mais de sessenta autorretratos, entre pinturas e gravuras, registrando desde a sua juventude até a fase adulta, do período próspero de sua vida às dificuldades financeiras. Tudo isso é perceptível em seus autorretratos. O também artista holandês Vincent van Gogh realizou muitos retratos e autorretratos de forma expressiva, com cores e pinceladas marcantes, características do Pós-impressionismo. O autorretrato pode ser visto como um espelho do artista, no qual são refletidos sua imagem, sua personalidade, seu mundo, sua época e seus valores. O espanhol Pablo Picasso também explorou esse gênero, no estilo Cubista, “decompondo” as imagens, criando, assim, figuras quase abstratas.

A constituição de um acervo é muito importante para uma instituição cultural. Um acervo é constituído por uma coleção que pode ser particular ou pública, podendo, ainda, conter diversos elementos, de livros a documentos e obras de arte de vários períodos. Os acervos das instituições públicas, quando em exibição, possibilitam aos visitantes não só a oportunidade de conhecer o seu conteúdo, mas também de expandir os conhecimentos históricos e culturais por meio desse acesso.

A Fundação Clóvis Salgado, por exemplo, possui acervos de figurinos e de cenários, contendo peças relacionadas a espetáculos produzidos pela Instituição. Possui, ainda, o acervo de Artes Visuais, que foi formado ao longo de anos, principalmente por meio de doações de artistas que já participaram de exposições na FCS. Ele conta com obras de importantes nomes da arte brasileira, como Alberto da Veiga Guignard, Amilcar de Castro, Fayga Ostrower, Frans Krajcberg e Lorenzato. Esses acervos vêm sendo disponibilizados ao público por meio de exposições no Palácio das Artes e de itinerâncias em outros espaços expositivos.

Na exposição Acervo FCSRetratos, encontram-se retratos em diferentes linguagens, formatos, técnicas e suportes. A mostra apresenta nove obras que datam de 1940 até a atualidade. Estão presentes obras como: uma pintura de retrato realizada pelo artista Genesco Murta, em estilo acadêmico e com características realistas; duas obras do artista Sérgio Nunes que mesclam pintura e desenho, datadas de 1979; e um desenho quase abstrato de Humberto Guimarães.

Em uma pintura painel de grandes dimensões, Éder Oliveira nos mostra um retrato de um habitante da região amazônica, colocando em destaque pessoas que muitas vezes são excluídas. A artista Ártemis nos apresenta Retrato de Maria (2021), um retrato de Maria da Penha, participante do Projeto Social Consultório de Rua do Sistema Único de Saúde (SUS). Em visita ao Palácio das Artes pelo Projeto, Maria contou que muitas vezes dormiu em frente ao prédio, sem nunca ter entrado no local. O Retrato de Maria é uma homenagem não somente a ela, mas a tantas outras Marias que encontramos no dia a dia, nos possibilitando ter um olhar diferenciado não só para a figura retratada, mas também para o indivíduo, para a pessoa ali representada, com suas histórias, sentimentos e lutas diárias.

Na linguagem da Fotografia, são apresentados trabalhos de Cyro de Almeida retratando pessoas da comunidade Dandara, em Belo Horizonte (MG).  Algumas dessas imagens são “emolduradas” pela paisagem ao redor, revelando aspectos da vida cotidiana na comunidade. Do artista Daniel Moreira, encontramos o retrato de um andarilho, feito em uma rodovia de Minas Gerais, como se fosse uma “paisagem ambulante”.

Na atualidade, encontramos retratos bem diversos. Em uma sociedade em que a maioria das pessoas possui celulares com câmeras, os retratos e autorretratos se tornaram uma prática bastante usual.

Observe as imagens a seguir.

O que você vê nelas? O que os espaços/ambientes das fotografias podem revelar sobre os indivíduos retratados? O que um retrato fotográfico pode nos dizer? E uma pintura?

Sem título, da série Dandara, Cyro Almeida, 2011, fotografia digital, impressão de pigmento mineral sobre papel de algodão, 90x60cm. Fonte: site do artista.
Retrato de Dona Amélia Prates, Genesco Murta, 1940, óleo sobre tela, 54x46cm. Foto: Giovane Diniz.
Sem título, Éder Oliveira, 2017, óleo sobre painel de madeira. Foto: Giovane Diniz.

Você já imaginou retratar pessoas “comuns”, do dia a dia, que encontramos nas ruas? Quando realiza uma foto de alguém, você pensa no que essas imagens podem dizer da pessoa retratada, nos significados que essas imagens podem revelar? Você realiza muitos retratos e selfies? O que elas dizem sobre você?

Atividade:

Você já usou um retrato fotográfico para realizar uma pintura? O que pode mudar de uma linguagem para outra? Já retratou alguém por meio do desenho? Pequenos traços no papel podem revelar muito sobre a personalidade de uma pessoa. Experimente se retratar com um desenho ou uma pintura.

Que tal utilizar um espelho e observar seus traços mais marcantes e depois desenhá-los ou pintá-los? Crie uma imagem que fale sobre você utilizando cores de que gosta, que tenham uma identificação com sua personalidade. Você pode se surpreender com sua imagem no papel ou em uma tela!

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A exposição Acervo FCS Retratos se encontra temporariamente fechada devido à suspensão de todas as atividades presenciais da Fundação Clóvis Salgado.

Referências:

BUGMANN, Sandra Regina Claudio.  Gêneros de pintura. 2ª ed. Indaial: Uniasselvi, 2011.

Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura. Editora: Folha de São Paulo, 2007.

Cyro Almeida. Disponível em: <https://www.cyroalmeida.com/>. Acesso em: 02 de Mar. 2021.

Exposição Acervo FCS – Retratos. Disponível em: <https://fcs.mg.gov.br/eventos/exposicao-acervo-fcs-retratos/>. Acesso em: 02 de Mar. 2021.

RETRATO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo364/retrato>. Acesso em: 25 de Fev. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

RICETTOO, Ligia. Pintura: arte, técnica e história. Editora: IBEP, SP, 2011.

Sobre o autor:

Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.