A EBP-MG e o Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes – Fundação Clóvis Salgado dão início a mais um ano da Mostra de Cinema e Psicanálise, um projeto que promove encontros entre o cinema e a psicanálise, ampliando olhares sobre as imagens e as emoções que elas despertam.
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Sobre a Programação do 1º Semestre (2025):
A Lente Clínica
Por Antônio Teixeira, coordenador do projeto e psicanalista membro da EBP-AMP.
É um fato, há muito notado por Walter Benjamin, que o cinema enriqueceu nossa capacidade de observação com meios que nos aproximam do olhar clínico da psicanálise. Se a psicanálise, desde a Psicopatologia da Vida Cotidiana, isolou, ampliou e deu especial visibilidade a coisas que até então passavam desapercebidas, tais como um lapso, um erro de memória ou mesmo um Witz, o cinema veio gerar um aprofundamento perceptivo análogo ao destacar, graças ao grande plano, à suspensão calculada do diálogo e à câmara lenta, uma natureza até então oculta ao olhar imerso no fluxo contínuo das ocorrências mundanas. Cinema e psicanálise assim se entredizem na feliz confluência desses dois métodos, que nos permite ler as melhores películas com um olhar clínico cinematográfico.
Sobre a próxima sessão
No dia 9 de maio, às 19h, o projeto Cinema e Psicanálise dá continuidade à sua programação com a exibição de A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2011), dirigido por Vinicius Coimbra. Baseado no conto homônimo de João Guimarães Rosa, o longa-metragem é uma potente adaptação da literatura para o cinema nacional, em que os elementos da cultura sertaneja mineira encontram uma narrativa existencial profundamente marcada por temas como violência, transcendência, culpa e redenção.
A trama acompanha a trajetória de Augusto Esteves, o Matraga (vivido por João Miguel), um jagunço temido, mergulhado em uma vida de brutalidade e desmedido orgulho, que, ao ser traído e quase morto, tem sua existência radicalmente transformada por um processo de conversão. A partir de então, seu percurso deixa de ser apenas físico ou social e passa a ser sobretudo interno — um itinerário psíquico de ressignificação da própria identidade e de enfrentamento das feridas narcísicas mais profundas.
Esta sessão integra-se à programação Fundação Clóvis Salgado, que, no mesmo período, apresenta a ópera Matraga, reafirmando a força e atualidade da obra de Guimarães Rosa em diferentes linguagens artísticas. Trata-se, portanto, de uma oportunidade singular para que o público explore, por meio do cinema e da música, múltiplas leituras de um mesmo universo simbólico.
Após a exibição, será realizado um debate conduzido por Isa Gontijo. O foco da discussão será pensar o processo de transformação de Matraga à luz da psicanálise. A sessão convida o público a refletir sobre a construção da riqueza estética e simbólica contida na obra.