Com o objetivo de trazer a Minas Gerais as figuras mais relevantes da produção fotográfica brasileira, o Foto em Pauta é uma iniciativa que nasceu em Belo Horizonte em 2004 e fomenta o diálogo entre público e autores. Produzimos encontros, palestras, exposições, oficinas e, desde 2011, o Festival de Fotografia de Tiradentes, referência nacional na difusão da fotografia brasileira, que coloca anualmente milhares de pessoas em contato com grandes obras e artistas, num intercâmbio de ideias, experiências, vivências que levam ao crescimento individual, cultural e artístico. Reiterando a parceria entre a Fundação Clóvis Salgado e o Foto em Pauta, a exposição que aconteceu em Tiradentes, no espaço expositivo do IEPHA, itinera para Belo Horizonte, na Casa da Fotografia de Minas Gerais – CâmeraSete.
A exposição reúne trabalhos provenientes de diversas partes do mundo, de distintas épocas, formatos e objetivos. Tem em comum a base da fotografia e a preocupação com o registro, a interpretação e o envolvimento com questões relativas à organização dos agenciamentos terrestres.”
A escrita de “eztetyka se dá inspirada em manifestos e pensamentos de Glauber Rocha, e se desdobra:
[…] essa estética não é sobre a terra, mas efetivamente da terra. A Terra não é um tema, ela se instala na própria forma das imagens, no seu fazimento, na sua construção, no seu devir.
Texto Curatorial:
Algumas palavras sobre o título são necessárias para trazer a discussão ao ponto de partida desta exposição. Grafamos a palavra “estética’ como fez Glauber Rocha em seu seminal texto-manifesto de 1965. arrancando-a de sua raiz originária, contaminando-a na tentativa de criar uma língua dentro da língua. a fundimos com outro título de Glauber, o apocalíptico “A idade da Terra”, seu último filme, de 1980.
Importante acrescentar que essa estética não é sobre a terra, mas efetivamente da terra. A Terra não é um tema. ela se instala na própria forma das imagens, no seu fazimento, na sua construção, no seu devir.
A exposição reúne trabalhos provenientes de diversas partes do mundo, de distintas épocas, formatos e objetivos. Tem em comum a base da fotografia e a preocupação com o registro, a interpretação e o envolvimento com questões relativas à organização dos agenciamentos terrestres. Como a terra é tornada habitável, propicia a vida. De que modo vem sendo ocupada por humanos e por uma infinidade de outros seres. Como as diversas multiplicidades que a compõem se organizam para produzir o vivo e o não vivo. Como se formam as rochas, animais, plantas, organismos moleculares, grandes fenômenos micro e macroscópicos.
A terra é um sistema interconectado, cujos habitantes estão em permanente colaboração e fricção. Simbioses e compartilhamento entre as infinitas espécies companheiras ocorrem através de longuíssimos espaços de tempo. Nessas interações, cada ser vai se singularizando, se diferenciando, se fazendo e desfazendo. Transformando-se.
Se por um lado, a idade da Terra encerra muitos fins, e abre-nos os olhos para que vejamos os caminhos que nosso modo de vida nos tem levado, por outro tem a capacidade de desestabilizar algumas das certezas mais arraigadas sobre o que chamamos civilização. Ideias como a de desenvolvimento e progresso, pilares da modernidade – que, em todo sul global, insistem em figurar como mais uma promessa não cumprida – são colocadas em xeque. A espiral contínua dos cosmos nos envolve, nos mostra pontos de vista circulares, afeitos ao recomeço, à possibilidade de novos olhares e sentidos, carregando-se de experiências e conhecimentos. Somos impelidos a abandonar a diferenciação entre natureza e cultura, que suspeitamos ser mais um estratagema colonialista do que qualquer distinção real, verificável.
Uma eztetyka assim grafada, assim arquitetada, leva-nos a abraçar o mundo como um denso conjunto de relações; a articular os diversos ecossistemas, em estreita conexão para manter o planeta vivo. No momento em que nossa própria existência se encontra ameaçada por diversas mudanças, temos a oportunidade de ativar essa eztetyka e fazer valer as forças de ruptura, junção e mutação, que possibilita a continuidade da vida na Terra.
João Castilho e Pedro David.
Foto em Pauta [Eztetyka da Terra] – Tiradentes, MG.
Artistas:
Cuia Guimarães (MG)
Daniela Balestrin (SC)
Gustavo Moura (PB)
Isadora Romero (EQUADOR)
Janelle Lynch (EUA)
Luciana Alt e Vítor Moura (MG)
Luciano Candisani (SP)
Marc Ferrez (RJ)
Marcela Magno (ARGENTINA)
Pedro Motta (MG)
Peter Fischli & David Weiss (SUÍÇA)
Foto em Pauta [Eztetyka da Terra] – Tiradentes, MG.