INGRESSO

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Lei de Meia Entrada

Quem tem direito:

Estudantes

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Pessoas com deficiência

Jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes

Para saber as condições que dão direito à meia-entrada acesse o texto na íntegra.

“MATRAGA NÃO É MATRAGA, NÃO É NADA. Matraga é Estêves. Augusto Estêves, filho do Coronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do Saco-da-Embira. Ou Nhô Augusto – o homem”. Assim começa A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa (1908-1967). Assim continua a quase épica história do “homem”. Assim termina com a hora e a vez, “a morte e a morte” de Augusto Matraga. Daí o desafio da Fundação Clóvis Salgado de levar, ao cenário imaginário, o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, este épico da literatura brasileira moldado como ópera, a junção de todas as artes.

Em três atos, Matraga, inspirada no conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa, chega com libreto e música de Rufo Herrera, artista que, neste ano, completou 90 anos. E também participações mais que especiais dos corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado: Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), Coral Lírico de Minas Gerais (CLMG) e Cia. de Dança Palácio das Artes (CDPA). Grande elenco de solistas e a narração do ator Gilson de Barros, conhecido pela atuação inspirada no universo rosiano.

Na Temporada 2025, a ópera será apresentada nos dias 17, 18, 19 e 20 de maio no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em Belo Horizonte. A direção musical é de Ligia Amadio. Matraga tem concepção e direção cênica de Rita Clemente; cenografia de Miriam Menezes; figurinos de Sayonara Lopes; direção coreográfica de Alex Soares; preparação do Coral Lírico feita por Hernán Sánchez; e direção geral de Cláudia Malta.

O Ministério da Cultura, o Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, apresentam a ópera Matraga, da obra de João Guimarães Rosa. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm como mantenedores Cemig e Instituto Cultural Vale, Patrocínio Master da ArcelorMittal, Patrocínio da Usiminas e da Copasa e Correalização da APPA – Arte e Cultura.

A Hora e a Vez de Augusto Matraga é o último e o mais emblemático conto de livro Sagarana (1946), estreia de João Guimarães Rosa na literatura. Para o crítico literário Antonio Candido (1918-2017), é a obra-prima de Sagarana, “onde o autor entra em região quase épica de humanidade e cria um dos grandes tipos de nossa literatura, dentro do conto que será, daqui por diante, contado entre os dez ou doze mais perfeitos da língua”. O regional encontrando o universal.

No conto e em dois filmes – A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965), dirigido por Roberto Santos, vencedor do Festival de Brasília em 1966, e A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2015), dirigido por Vinícius Coimbra e vencedor do Festival do Rio, antes do lançamento comercial, em 2011 – Augusto Matraga é um fazendeiro poderoso e violento, “duro, doido e sem detença, como um bicho grande do mato”, rude como as terras remotas de Minas. Por temperamento, desprezo e ganância, perde tudo; dinheiro, posses e mais. Traído pela mulher, Dionóra, ao tentar recuperá-la e vingar sua honra, Matraga é emboscado e espancado por seus inimigos, os capangas do Major Consilva. Atirado de um despenhadeiro num abismo, é dado como morto. Salvo pela bondade de um casal humilde, em busca do perdão para seus pecados e de um lugar no Céu, apega-se à religiosidade. Aparentemente resignado, Augusto conhece então o jagunço Joãozinho Bem-Bem, “o arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa”, que desperta seus instintos mais primitivos. Matraga oscila entre a crença, a esperança – que não consegue abandonar – e a violência de sua natureza.

O presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, conta que “Matraga é um espetáculo ousado, contemporâneo, com características operísticas e sob inspiração de uma dramaturgia tipicamente mineira. Escolhemos o que em Minas é mais universal: a genialidade de João Guimarães Rosa. As apresentações no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes darão aos espectadores a oportunidade de desfrutar de um momento único, de rara criatividade e expressão artística. O Palácio das Artes junta-se às realizações de âmbito nacional, mobilizando a força criadora de uma das mais importantes e expressivas estruturas de produção artística do país. A obra e o espetáculo incorporam-se à dramaturgia mineira”.

A abordagem de Rufo Herrera traz João Guimarães Rosa para dentro da obra que, como narrador, caminha pelo sertão. Não é uma ópera convencional, é música que tem elementos incidentais. Nas palavras do próprio Herrera, “venho da música folclórica, popular, e fui para a erudita. Minha opção pelo conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga para uma obra cênico-musical, devo-a, em primeiro lugar, à minha vivenciada identificação com o universo da literatura rosiana, sua força poética, que me inspira, e sua filosófica revelação do ser humano em profundidade. O homem lá, onde João Guimarães Rosa o foi buscar – O Sertão das Gerais – oscila permanentemente entre o bem e o mal. Ora se apruma, ora cai ao nível da fera, ora paira acima de Deus e do diabo”.

Rufo Herrera lembra que teve Grande Sertão: Veredas como livro de cabeceira por cerca de 10 anos. “Sagarana vinha logo depois. Sua literatura é realista, mas realista fantástica. Tem coisas e personagens que de fato acontecem no sertão. Quando a Fundação Clóvis Salgado me chamou para criar Matraga, eu já tinha o texto na ponta da língua e dois objetivos: promover a literatura de João Guimarães Rosa e trazer a obra para um estilo de composição do século XX. Vivi esses personagens, quando morei na Bahia. Essa intimidade me levou a tratar dos temas que ele aborda. Uma das forças da natureza da ópera é a violência de Matraga”.

O sertão de João Guimarães Rosa, de Minas Gerais, não é o sertão de Jorge Amado, Glauber Rocha e da Bahia.  Não é o Velho Oeste de Clint Eastwood e dos Estados Unidos. É a terra de coronéis, cangaceiros, sertanejos, justiceiros e pistoleiros, no dilema entre o livre-arbítrio e o determinismo, na infinita luta do bem contra o mal e suas consequências, ainda mais violentas e injustas. Nhô Augusto se redime da violência, não como o Alex, no filme Laranja Mecânica, depois de passar, quimicamente, por um tratamento, uma terapia de aversão à violência; mas pelo desespero da eternidade.

O sertão da ópera Matraga não é o sertão de Antônio Conselheiro. É personagem como a terra, o homem e a luta, em Os Sertões, de Euclides da Cunha. A terra é música, cenário e protagonista, como são a luta e o homem.

Para a diretora, Rita Clemente, “quando dizemos que esta obra cênica é composta por drama e lirismo; quando reforçamos que é um teatro musicado, ou que é um espetáculo Teatral para orquestra, ballet, canto e coral, estamos afirmando que, com todos estes pressupostos, trata-se de Ópera. Ópera em seu sentido mais arquetípico e menos corriqueiro. A genealogia deste gênero teatral, a Ópera, não nos deixaria mentir. Temos aqui um modo muito especial de fazer uma Ópera. Posto isto e, contraditoriamente, afirmo que temos, acima de tudo, Teatro, sim, com “T” maiúsculo. Não existe apenas um modo de se fazer óperas. Há muitas maneiras e algumas sequer conhecemos. O que oferecemos aqui não é uma nova maneira. É um diferente modo. Matraga comemora a mineiridade”.

Narrado em terceira pessoa, o conto enfatiza duas constantes no sertão: a violência e a crença. E uma inconstante, a redenção do crime, com castigo, penitência, perdão e destino, através do catolicismo popular: “reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa mais a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria… Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua”.

“E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi”.  Matraga é onde os fracos não têm vez e mesmo os fortes têm hora e vez.

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