Assim como os jardins... | Exposição de Mariana Palma

12/12/21

Galeria Arlinda Corrêa Lima

Sem Título (2018), Mariana Palma. Imagem: Cortesia Casa Triângulo.

Pela primeira vez no Palácio das Artes, a artista visual paulistana Mariana Palma convida o público mineiro à um encontro com a magnitude de seus jardins em tela. A partir de 8 de outubro até 12 de dezembro de 2021, a Fundação Clóvis Salgado recebe a exposição inédita “Assim como os jardins…”, que conta com a curadoria de Wagner Nardy, e floresce na Galeria Arlinda Corrêa Lima. No total, a mostra conta com 8 quadros em grandes formatos, que mesclam óleo e acrílica sobre tela, além de uma instalação imersiva em tecido, pensada e criada exclusivamente para a galeria. A entrada é gratuita e as obras representam diversos períodos de criação da artista, convidando o público a um momento de silêncio e contemplação diante de um trabalho íntimo e arrebatador.

Mariana Palma cria em suas obras uma originalidade singular e poderosa, dialogando com o mundo das cores e com uma riqueza impressionante de detalhes. Assim como os jardins… coloca os visitantes imersos na obra da artista, e permite reflexões sobre a vida, a natureza e os mistério propostos pelas harmonias pictóricas com flores, folhas, brotos, tecidos, peles e azulejos – que constantemente causam sensações claustrofóbicas e inquietantes.

Para Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado, a FCS se orgulha em realizar, em meio a uma realidade tão desafiadora, uma mostra de tanta potência. “É uma grande oportunidade pra Minas Gerais conhecer a relevante produção artística de Mariana Palma, em uma exposição que convida o público à imersão e ao protagonismo. A exposição se insere ainda nos esforços da Fundação e do Palácio das Artes de repensar as diferenças e as distorções de gênero, reafirmando a importância das mulheres artistas e suas criações, fortalecendo sua presença em nossas galerias”.

 

 

O Jardim

Expondo pela primeira vez uma individual em Belo Horizonte, Mariana Palma conta que a mostra chega com diversas vertentes, uma delas como a própria apresentação de seu trabalho. “Essa é uma exposição que, antes de tudo, tem o caráter de me apresentar para o público de Belo Horizonte, e de aproximá-lo da minha obra de maneira inédita. Me sinto privilegiada por essa primeira exposição no Palácio das Artes, um local histórico, com uma equipe muito séria envolvida. Esse é um trabalho muito profundo”, celebra a artista.

Segundo Mariana Palma, a troca com Wagner Nardy, curador da mostra, foi rica e cheia de aprendizados, além de ter resultado em uma bela amizade. “Foi realmente um prazer trabalhar com ele, é uma pessoa muito lúcida e ao mesmo tempo muito poético”, conta. O convite do curador para uma exposição em Belo Horizonte despertou a ideia de um recorte de sua última mostra, realizada no Instituto Tomie Otake, em São Paulo. “Wagner elegeu o tema ‘Jardins’ para pensarmos juntos. Trocamos leituras, poesias, imagens, e pensamos muito sobre o que é o caminhar no jardim: o que é o florescer, muito ligado ao momento que estamos vivendo, principalmente durante a pandemia. O que é se dar direito ao deleite, ao despertar dos sentidos. O que é poder ver a luz de novo”, conta. Para a artista, olhar para o jardim é olhar para o espaço público, e agora é possível observá-lo de forma diferente, após um grande período de confinamento.

Toda a pesquisa foi ligada à botânica, e as obras selecionadas fazem um importante recorte que preserva as questões humanas através da simbologia do Jardim. A exposição contará com duas obras inéditas, uma instalação em tecidos feita especialmente para a Galeria, e uma pintura. “A instalação provoca uma espécie de turvamento do olhar, uma imagem que se revela no caminhar. Aqui tratamos um pouco sobre essa cortina de fumaça, essa sensação que temos de não poder enxergar, ou de só enxergar as coisas de um determinado ponto de vista”. Já a pintura inédita mescla os simbolismos da botânica com cores vibrantes, provocando uma sensação de vertigem. “Há até mesmo uma histeria da cor, um desejo que essa cor saia da tela e te arrebate”, conclui a artista.

 

O Silêncio

Wagner Nardy, colecionador há doze anos, firma seu encontro com a curadoria há seis anos. Em um primeiro movimento de repensar a coleção de arte como ação positiva e comunicadora, passa a repensar seu papel como um conector entre mundos. “Passo a estar com os artistas, a ouvi-los, a acompanhar seus processos de produção artística, suas inquietações e pesquisas. O interesse vai ganhando o corpo de virar mostra pública, de conversar com o público”, conta. Ressaltando a relação intrínseca entre arte e política, Nardy busca repensar o próprio conceito de Curadoria, palavra que carrega, por si só, diversos questionamentos. “Me considero um mediador, um realizador. A palavra curadoria tem uma hierarquia grande, um peso, e uma série de questões criticáveis. Gosto de pensar que atuo como um mediador dentre os diversos interesses: do contexto, do espaço, da própria exposição, do público e privado, do artista e de minhas próprias necessidades com o trabalho de arte – através disso, criamos mostras transformadoras”, destaca.

A partir desse desejo questionador, surge o contato de Nardy com a obra de Mariana Palma. Em uma exposição no Museu Inimá de Paula, o curador observou pela primeira vez um quadro da artista. “Lembro do meu deslumbramento diante da pintura de Mariana. Foi muito revelador: quando temos uma verdadeira vivência, uma verdadeira emoção com a obra, ela te deixa profundamente em silêncio. Não existem palavras ou justificativas, existe apenas um enorme silêncio: íntimo, interior, reflexivo e profundo”, relata.

 

O Afeto

Sobre a obra da artista, Nardy destaca: “Mariana vem criando uma obra muito dinâmica, muito viva, onde a pintura é sem dúvida a prática principal, mas que se desdobra em muitas linguagens, todas elas coerentes e pertinentes. São imagens que colocam o público num lugar de arrebatamento, ou até mesmo um lugar de entrega. As pessoas ficam rendidas diante do movimento, das camadas, das muitas possibilidades que a obra dela proporciona – além de um virtuosismo técnico incrível. Ela domina a técnica de uma forma impressionante, o que faz dela uma das maiores pintoras da nossa atualidade”.

Representando questões universais, os trabalhos de Mariana Palma vêm, reunidos em uma seleção criteriosa de suas obras, questionar a vivência após um momento de trauma. Segundo Nardy, a mostra marca um período de resiliência em que precisamos rever uma série de questões humanas, sociais, políticas, existenciais, artísticas, estéticas e tecnológicas. “Precisamos trazer as pessoas de volta para o museu após um longo período de afastamento. Precisamos mostrar que o espaço do museu é um espaço de alento, da reflexão, do abraço, do encontro, da motivação, do alimento para a alma – aquilo que nunca poderá ser suplantado pelas redes sociais e pela virtualidade”, conta. “Quando pensamos a exposição, buscamos transformar o espaço expositivo em um imenso jardim”.

Para Nardy, o maior desafio da exposição é também sua maior dádiva: trazer o lugar de carinho e afeto para dentro da instituição, proporcionando ao público, além da contemplação das obras, o poder do protagonismo. Daí o título da mostra “Assim como os jardins…”, uma frase incompleta, deixando para o visitante completa-la à sua maneira. O contexto da exposição – jardins – também foi adaptado para outra ação: o público ganhará um cartão de sementes para ser plantado e, assim, construir outros diversos jardins – uma experiência artística que transcende as paredes do espaço cultural.

Segundo o curador, a mostra não propõe um roteiro, e até mesmo valoriza a sua inexistência. Ao passear pelo jardim de Palma, não há pressão ou formalidade, o que importa é o caminho. “Nos interessa proporcionar experiências transformadoras com a arte. Do contrário, acredito que nós voltaremos ao sistema de um mundo velho, em que quadros eram feitos para paredes. Precisamos dar ao público o lugar de protagonismo, em que ele pode ter papel ativo no sentido de criar, conectar, e até mesmo rejeitar: tudo é uma emoção válida, e despertar emoção sempre foi o lugar da arte”.

 

Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, apresentam a exposição “Assim como os jardins…”. A mostra tem a correalização da APPA – Arte e Cultura, patrocínio master da CemigAngloGold Ashanti e Unimed-BH / Instituto Unimed-BH¹, e patrocínio prata da Vivo.  Todos os incentivos são via Lei Federal e Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

¹ O patrocínio da Unimed-BH / Instituto Unimed-BH é viabilizado pelo incentivo de mais de cinco mil médicos cooperados e colaboradores.

A Fundação Clóvis Salgado é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.

 

Mariana Palma – Natural de São Paulo, a artista visual é formada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP. Faz parte da prestigiada Galeria Casa Triângulo de São Paulo, onde já realizou diversas exposições individuais. Foi selecionada para o ‘Rumos Artes Visuais’ em 2006 e vem sendo considerada um dos maiores nomes de artes visuais do Brasil nos últimos anos. Além de São Paulo, a artista expôs montagens individuais e coletivas nas mais ilustres casas de artes do país e do mundo. Em 2008, realizou a exposição individual “Anestesia Para Transbordar”, na Galeria Mario Sequeira, na cidade de Braga, em Portugal. Conta também com inúmeras exposições coletivas em países como Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos e Portugal. Multiplamente reconhecida, a artista foi duplamente premiada em 2003, com os prêmios de Exposição Individual, do SESC Ribeirão Preto, além do Prêmio Aquisição, do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Campinas. Recebeu também, em 2005, o Prêmio de Aquisição do Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), e em 2006, o Prêmio de Aquisição da Casa do Olhar, de Santo André.

 

Informações

Local

Galeria Arlinda Corrêa Lima