Lançamento do livro Arábia: caminhos da escrita de um filme, de Affonso Uchôa e João Dumans
30/09/24Cine Humberto Mauro
O lançamento de Arábia: caminhos da escrita de um filme será marcado por exibições do filme Arábia (2017) e conversas com os diretores e autores Affonso Uchôa e João Dumans, tanto em Belo Horizonte quanto online.
A Editora Javali anuncia o lançamento do livro Arábia: caminhos da escrita de um filme, dos diretores e roteiristas mineiros Affonso Uchôa e João Dumans. A obra, que vai além da compilação do roteiro, explora o processo criativo por trás do premiado longa Arábia (2017) e será lançada em setembro. Para marcar a publicação, que celebra os 10 anos do começo das filmagens, serão realizados três eventos gratuitos. O primeiro acontece no dia 30 de setembro, às 19h30, no Cine Humberto Mauro, seguido por uma segunda exibição no Cine Santa Tereza no dia 9 de outubro, às 19h. No dia 10 de outubro, às 19h, haverá um bate-papo transmitido ao vivo pelo YouTube da Javali.
Arábia: caminhos da escrita de um filme evidencia as diferentes vidas que o filme viveu ao longo de seus seis anos de produção. É uma obra que oferece uma rara perspectiva sobre o processo de escrita para o cinema, destacando as múltiplas influências e experiências que moldaram o filme. Diferente das tradicionais publicações sobre roteiros cinematográficos, o livro se distingue ao apresentar desde as primeiras ideias dos roteiristas e diretores até as transformações ocorridas durante as filmagens. De acordo com os autores, “Mais do que a história do filme formatada segundo certas convenções, o que apresentamos aqui são os caminhos e descaminhos da escrita de Arábia, as diferentes fontes que nos ajudaram a imaginar o universo do filme, do qual o roteiro em si é só um dos elementos”.
O livro está organizado em três seções principais. A primeira oferece um olhar sobre o contexto e as motivações que impulsionaram os autores a trabalhar juntos, refletindo sobre as contradições políticas do Brasil contemporâneo, por meio da ligação entre as cidades de Ouro Preto e Contagem. A segunda seção reúne as pesquisas, entrevistas e notas de campo que fundamentaram a escrita do roteiro, incluindo o caderno de memórias de Aristides de Sousa, protagonista de Arábia e A Vizinhança do Tigre (2014). A terceira seção apresenta o roteiro propriamente dito, acompanhado de cenas que foram modificadas ou cortadas durante a produção, revelando a natureza fluida e em constante transformação do filme. Além dessas seções, o livro traz um posfácio escrito por Sérgio de Carvalho (USP), fotografias, e a ficha técnica, prêmios e principais festivais relacionados à Arábia.
Sobre a abordagem do livro, Uchôa e Dumans destacam que ele enfrenta o desafio de organizar o movimento contínuo da criação fílmica: “Este livro conta um pouco da história desse processo e enfrenta, portanto, o desafio de tentar organizar a correnteza, registrando no formato da publicação o movimento contínuo da criação do filme”. Para os autores, o roteiro é uma peça em processo, que se escreve antes, durante e depois da filmagem.
“Costumamos entendê-lo como uma carta de navegação, capaz de indicar certos personagens, locações e cenas essenciais, e de colocar em evidência um certo percurso, um certo arco dramático, mas sempre suscetível a ser reescrito e a ser transformado em outra coisa, desde que mais justa e mais autêntica. Assim, alguns dos principais diálogos de Arábia só foram escritos durante o set, na noite ou na manhã anterior à gravação das cenas. A diferença entre o escrito e o filmado compõe a matéria mesma do cinema que queremos ver e fazer, um cinema criado à margem das convenções industriais, que traga em seu processo e na sua forma final a energia das coisas vivas”, analisam os autores.
Segundo o posfácio Sérgio de Carvalho, “Do roteiro original, aqui publicado, até o filme extraordinário de Affonso Uchôa e João Dumans, vemos uma obra atenta ao que pode ser transformado e ao que não pode. Nasce daí sua atitude política. E sua disposição ao sacrifício de uma certa eficácia dramática convencional, em favor da compreensão prática de uma vida humana em sua dimensão trágica, a de Cristiano, cuja história atravessa o filme. Lançado um ano depois do golpe parlamentar de 2016, tornou-se um dos mais importantes filmes do cinema no Brasil porque pode ser lido, também, como uma alegoria do trabalhador morto brasileiro. Uma tragédia que diz respeito a todos nós”.
Refletindo seu impacto artístico e social, Arábia teve uma trajetória notável, conquistando cinco prêmios no 50º Festival de Brasília, incluindo o de Melhor Filme, além do Prêmio APCA, do 8º Prêmio Cinema Tropical nos Estados Unidos, do 27º Films from the South na Noruega, entre outros. Exibido em alguns dos principais festivais internacionais, como o Festival de Rotterdam, o Festival de San Sebastián, o BFI London Film Festival e a Viennale, Arábia consolidou-se como uma obra marcante do cinema brasileiro contemporâneo.
O editor do livro, Assis Benevenuto, considera essencial fortalecer a memória do cinema nacional por meio da publicação de roteiros. Segundo ele, “O filme, por si só, já constitui uma memória, mas ao publicarmos o roteiro, ampliamos essa memória a partir de outra perspectiva, a literária. Trata-se de uma informação que, historicamente, tem sido pouco registrada publicamente em formato de livro.” Benevenuto também destaca a dimensão pedagógica da obra e sua importância na formação de leitores e na literatura cinematográfica: “Esse trabalho editorial visa ainda à formação de um novo tipo de leitor, que se familiariza com a literatura do roteiro. Não estamos acostumados a ler roteiros na escola, e sua formatação, a maneira como organiza a linguagem, é algo que não é trivial. É uma escrita conectada a diferentes elementos do cinema, como a câmera e a atuação. Assim, essa publicação contribui para uma nova forma de recepção de leitura.”
Na última década, a Editora Javali se consolidou como uma referência nacional na publicação de livros de teatro. Em 2021, lançou Roteiro e diário de produção de um filme chamado Temporada, de André Novais Oliveira, que já está em sua segunda impressão. A editora também publicou obras da chilena Sara Rojo (UFMG), focadas nas imagens cinematográficas de Pablo Neruda e Roberto Bolaño. Assis Benevenuto reflete sobre essas novas apostas da Javali, ressaltando que este é um campo amplo que não deve se restringir a uma única editora. Ele acredita que são necessárias publicações que abordem tanto o cinema contemporâneo quanto a recuperação de filmes do passado, reconhecendo que cada livro pode registrar processos distintos e apresentar materiais que vão além dos diálogos dos filmes.
Benevenuto observa ainda que “É interessante notar as diferenças entre o cinema e o teatro. No teatro, a experiência é ao vivo e cada apresentação é única, tornando a leitura de uma peça teatral uma construção diferente daquela experiência ao vivo. No cinema, o filme é um registro fixo; ele não muda, mesmo que a recepção do público varie conforme as condições de exibição. Por isso, ao publicar um roteiro, é essencial incluir materiais adicionais que revelem as camadas do processo de produção e criação do filme, enriquecendo a compreensão e apreciação da obra cinematográfica”, conclui.
SOBRE OS AUTORES
Affonso Uchôa
Affonso Uchôa é cineasta e fotógrafo, vive e trabalha em Contagem. É roteirista e diretor de Arábia. Também dirigiu os filmes Mulher à Tarde, A Vizinhança do Tigre e Sete anos em Maio. Seus filmes foram exibidos em diversos festivais pelo mundo, como os Festivais de Roterdã (Holanda), Viennale (Áustria), Festival de Toronto (Canadá), Visions du Réel (Suíça) e Mostra de Tiradentes (Brasil). Em fotografia, é coautor das séries fotográficas Izidoro e Sangue de Bairro, expostas em espaços culturais de São Paulo e Belo Horizonte, e publicada em revistas fotográficas brasileiras e internacionais, como a “Revista Zum” (Brasil) e “Quilo Journal” (Inglaterra).
João Dumans
João Dumans é natural de Ouro Preto, vive e trabalha em Belo Horizonte. É roteirista e diretor de Arábia. Dirigiu o longa As Linhas da Minha Mão, escolhido Melhor Filme na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, e os curtas Todo mundo tem sua cachaça e Guilherme Mansur – Obra em desdobra. Trabalhou como roteirista e montador em filmes como Aquele que viu o Abismo, A Vizinhança do Tigre, Sete anos em Maio, A Cidade onde Envelheço e Os Residentes.
SOBRE O FILME
SINOPSE: Ao encontrar o diário de um trabalhador, numa vila operária em Ouro Preto, o jovem André entra em contato com a comovente trajetória de vida de Cristiano, em meio às mudanças sociais e políticas do Brasil nos últimos dez anos.
Direção: Affonso Uchôa, João Dumans Roteiro: Affonso Uchôa, João Dumans Produção Executiva: Vitor Graize, Thiago Macêdo Correia Direção de Produção: Marcella Jacques, Laura Godoy Direção de Fotografia: Leonardo Feliciano Direção de Arte: Priscila Amoni Som Direto: Gustavo Fioravante Desenho de som e Mixagem: Pedro Durães Assistência de Direção: Juliana Antunes
Elenco:
Aristides de Sousa
Murilo Caliari
Glaucia Vandeveld
Renato Novaes
Adriano Araújo
Renan Rovida
Wederson Neguinho
Renata Cabral
Informações
Local
Cine Humberto Mauro
Horário
19h30
Classificação
16 anos
Informações para o público
(31) 3236-7400