FCS celebra Mês da Mulher em vídeo inédito do maxixe "CORTA-JACA", com participação especial de Mônica Salmaso

31/03/21

Instagram e Facebook da Fundação Clóvis Salgado

Cantora Mônica Salmaso é participação especial do vídeo dedicado à música Corta Jaca, de Chiquinha Gonzaga. Imagem: divulgação

 

A Fundação Clóvis Salgado celebra o mês da mulher com uma produção inédita e emocionante, que homenageia a importância feminina na arte. De forma remota, os integrantes do Coral Lírico de Minas Gerais e da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais convidam a cantora Mônica Salmaso e as bailarinas Raquel Aranha, Clara Couto e Maíra Alves para o vídeo dedicado à música Corta-jaca, de Chiquinha Gonzaga e Machado Careca. O vídeo vai ao ar no dia 31 de março (quarta-feira)às 19h, pelas páginas da Fundação Clóvis Salgado no Instagram e no Facebook. A produção possui direção musical do Maestro Titular da OMSG, Silvio Viegas, e da Maestrina Associada ao CLMG, Lara Tanaka, além de arranjo especial feito pelo pianista do CLMG, Fred Natalino.

Mônica Salmaso, que já se apresentou ao lado da OSMG no projeto Sinfônica Pop em 2015, diz ter aceitado de prontidão o convite para a participação do vídeo. A cantora, uma das mais renomadas intérpretes brasileiras, confessa ter tido uma boa surpresa no momento de gravação. “Não sabia que a canção Corta-jaca tinha uma letra, e fiquei muito feliz com essa surpresa e aprendizado. Já havia interpretado a canção vocalizando, mas é a primeira vez que a canto dessa maneira”, conta Salmaso. “É muito bonito homenagear Chiquinha Gonzaga, que foi uma pessoa muito importante na colocação da mulher no mercado. Não só como musicista, mas como mulher, Chiquinha sai da estrutura original da época, de uma dona de casa sem ambições profissionais, quebrando esse protocolo”.

Ainda segundo Salmaso, gravar o vídeo em meio ao distanciamento social provoca muitas reflexões. “Esse momento de pandemia trouxe, a um custo muito alto, a oportunidade de nos olharmos de frente, sem a possibilidade de fuga de nós mesmos”, destaca a cantora. Ela ressalta que o período escancarou as desigualdades sociais brasileiras. “Durante o distanciamento, me ocupei, assim como outras pessoas, em ouvir importantes vozes dos movimentos de resistência, de maiorias que são colocadas como minoria. As mulheres, grande parte da população brasileira, possuem suas conquistas constantemente ameaçadas, mas acredito que isso só provoca uma reação mais forte, pois chegamos a uma posição social que não vamos mais abrir mão. Nossa briga é para mostrar que as mulheres se unem e criam redes apoio. E isso ficou ainda mais visível durante o distanciamento”, conclui Salmaso.

O vídeo “Corta-jaca” integra o projeto Palácio em Sua Companhia realizado pelo GOVERNO DE MINAS GERAIS / SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E TURISMO DE MINAS GERAIS e pela FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO e tem a APPA ARTE E CULTURA como correalizadora. Contam ainda com o patrocínio Master da CEMIG e INSTITUTO UNIMED-BH (viabilizado pelo incentivo de mais de 5,2 mil médicos cooperados e colaboradores), USIMINAS e INSTITUTO USIMINAS como patrocinadores.

 

Obra audiovisual “Corta Jaca” destaca mulheres musicistas e coralistas que fazem parte dos Corpos Artísticos da FCS. Imagem: divulgação

Rompendo barreiras – Para Lara Tanaka, Maestrina Associada ao CLMG, a interpretação da canção Corta Jaca passa por inúmeras nuances musicais. “Toda canção brasileira merece grande atenção, e com a música de Chiquinha Gonzaga não foi diferente. Optei que o Coro mantivesse o canto lírico, dando destaque para uma pronúncia mais rebuscada dos erres”, conta a maestrina. “Dessa forma, valorizamos as habilidades dos coralistas, que são capazes de se adaptar em todo tipo de repertório, e contrastamos o canto coral com o canto popular refinado de Mônica Salmaso”. Tanaka não deixa de ressaltar o desafio, em termos sonoros, de adaptar um Coro para a realidade remota. A maestrina atribuiu destaque ao trabalho dos editores envolvidos nas produções audiovisuais da FCS, que se esforçam para realizar entregas com excelência, assim como dos músicos, que honram o dever de levar um alento cultural para os espectadores, mesmo que à distância e com muita cautela.

A escolha de Corta-jaca para o encerramento do mês da mulher, segundo Tanaka, carrega uma força inerente às lutas contra o machismo, a misoginia, o racismo e demais desigualdades. “Chiquinha Gonzaga foi uma das poucas mulheres a se destacar na cena erudita brasileira, e utilizava muitas referências da música africana. Foi uma mulher que, não só pela via musical, mas em toda a sua trajetória de vida, rompeu inúmeras barreiras”, pontua a maestrina. “A canção ‘Corta-jaca’ traz questões que continuam necessárias nos dias de hoje. Devemos manter na memória a mulher forte e guerreira representada por Chiquinha, e relembrar que também somos essa mulher: a que sofre diariamente com o peso do patriarcado. No vídeo, buscamos o empoderamento de cada participante”.

Para Silvio Viegas, Maestro Titular da OSMG que assina a direção musical do vídeo, interpretar Chiquinha Gonzaga em celebração à mulher brasileira é muito forte e simbólico. “A OSMG traz a música de uma filha de mãe negra, que inclui ritmos africanos em suas canções e as leva para dentro da sociedade da época, fazendo com que ela seja admirada e tocada por diversos músicos”, ressalta. “É a força feminina em todo o seu potencial, mostrando que a arte não possui barreiras, o que importa é que enxerguemos todos os gêneros, raças e credos com igualdade e respeito”.

 

Bailarinas convidadas interpretam “Corta Jaca”. Imagem: divulgação

Maxixe: dança subversiva – O vídeo da canção “Corta-jaca” conta com a participação especial de três bailarinas: Raquel Aranha, Clara Couto e Maíra Alves. Cada participante gravou o maxixe de sua própria residência, adaptando o ambiente doméstico. Segundo Raquel Aranha, pesquisadora de danças antigas (datadas no século XIX), o projeto configurou um grande desafio: fazer propostas artísticas dentro um momento muito limitante em relação ao espaço e a tecnologia. “Pensando como uma equipe, tentamos fazer o melhor que podíamos para obter um resultado compatível com a qualidade do projeto. Isso foi muito positivo, já que ampliamos nossa capacidade de nos reinventarmos”, destaca a bailarina.

Traçando um panorama sobre a história do maxixe, Aranha destaca a importância da trajetória de Chiquinha Gonzaga e, em especial, de sua canção “Corta-jaca”. “Essa canção foi conhecida e referenciada como uma dança excomungada – assim como foi Chiquinha, expulsa da Igreja após o seu divórcio. O maxixe possui origem no lundu, dança de origem negra, criada pelos escravizados no Rio de Janeiro de então, com influências de danças europeias dos salões da época. Ou seja, o maxixe é uma mistura da cultura dos colonizadores e colonizados”, pontua Aranha. “Isso me imprimiu uma sensação muito forte: o maxixe, por ser de origem negra, possuía muitos movimentos corporais que eram vistos como imorais: torção do tronco, exposição da pele, movimentação ondulada – referências que carregam a crítica de uma sociedade moralista. O maxixe causou incômodo, tanto por ser uma dança praticada por negros, como por ter uma sensualidade muito marcante, que incomodava uma sociedade que tinha outras referências de como se portar”, explica.

Chiquinha Gonzaga musicava peças teatrais, e “Corta-jaca” surge nesse contexto. Em 1914, a melodia foi levada para o Palácio do Catete por Nair de Teffé, esposa de Hermes da Fonseca (8º presidente do Brasil), considerada uma mulher à frente de seu tempo. A primeira-dama interpretou a canção no violão e chocou várias autoridades presentes, inclusive Rui Barbosa, que disse ser uma dança chula, muito baixa, parente do samba e cateretê. “Toda essa bagagem de repulsa traz uma força muito grande a essa obra. Chiquinha enfrentou praticamente tudo para transpassar a rigidez da época”, afirma Aranha. “A sociedade brasileira é marcadamente liderada por mulheres – elas não têm reconhecimento, mas gerenciam a base da sociedade. Nada mais justo que reconhecermos, com essa produção, que essa força está presente diariamente”, conclui a bailarina.

 

Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935) – Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi uma compositora, instrumentista e maestrina brasileira. Foi a primeira pianista musicista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra (“Ó Abre Alas”, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Lecionou piano e frequentou rodas de choro. Viveu como musicista independente com o grupo Choro Carioca e tocando piano em lojas de instrumentos musicais. Passa a dedicar-se inteiramente à música, obtendo bastante reconhecimento pela composição de polcas, valsas, tangos e cançonetas. Envolveu-se com a política, militando em prol da abolição da escravidão e pelo fim da monarquia.

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – Considerada uma das mais ativas do país, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais cumpre o papel de difusora da música erudita, diversificando sua atuação em óperas, balés, concertos e apresentações ao ar livre, na capital e no interior de Minas Gerais. Criada em 1976, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Minas Gerais em 2013. Participa da política de difusão da música sinfônica promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, a partir da realização dos projetos Concertos no Parque, Concertos Comentados, Sinfônica ao Meio-dia, Sinfônica em Concerto, além de integrar as temporadas de óperas realizadas pela FCS. Mantém permanente aprimoramento da sua performance executando repertório que abrange todos os períodos da música sinfônica, além de grandes sucessos da música popular. Seu atual regente titular é Silvio Viegas.

Coral Lírico de Minas Gerais – O Coral Lírico de Minas Gerais é um dos raros grupos corais que possui programação artística permanente e interpreta repertório diversificado, incluindo motetos, óperas, oratórios e concertos sinfônico-corais. Participa da política de difusão do canto lírico promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado (FCS), a partir da realização dos projetos Concertos no Parque, Lírico Sacro, Sarau ao Meio-dia e Lírico em Concerto, além de concertos em cidades do interior de Minas e capitais brasileiras, com entrada gratuita ou preços populares. Participa também das temporadas de óperas realizadas pela FCS. Já estiveram à frente do Coral os maestros Luiz Aguiar, Marcos Thadeu, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Ângela Pinto Coelho, Eliane Fajioli, Sílvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda, Márcio Miranda Pontes, Lincoln Andrade e Lara Tanaka. Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais tornou-se Patrimônio do Estado em 2018 e comemorou quarenta anos em 2019.

 

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