Mostra de Cinema | Carmen Miranda e a Boa Vizinhança

07/02/23 - 07/03/23

Cine Humberto Mauro

Carmen Miranda: Bananas Is My Business (Helena Solberg, 1994)

 

O Cine Humberto Mauro inaugura a programação 2023 com a mostra inédita Carmen Miranda e a Boa Vizinhança, dedicada a filmes estrelados pela cantora, dançarina e atriz luso-brasileira. De 7 de fevereiro a 7 de março, diversos longas protagonizados pela “Pequena Notável” e grandes produções cinematográficas das décadas de 1930 e 1940, realizadas durante a Política da Boa Vizinhança dos Estados Unidos, serão exibidos gratuitamente no Cine. A mostra faz parte do Carnaval da Liberdade, iniciativa do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e da Fundação Clóvis Salgado (FCS) para a promoção da cultura em celebração a uma das maiores festas populares do mundo.

Os ingressos para os filmes da mostra serão distribuídos na bilheteria do Cine Humberto Mauro hora antes de cada sessão. A entrada é gratuita. A programação inclui, ainda, uma celebração especial no Jardim Interno do Palácio das Artes, que acontecerá no dia 9 de fevereiro de 2023 (17h às 22h), mesma data do aniversário de Carmen Miranda. A festa de Carnaval “Mamãe Eu Quero” contará com performances artísticas em homenagem à artista, cortejo com a Cia. de Dança Palácio das Artes, DJ’s e barracas com comida mineira.

A mostra conta com longas estrelados por Carmen como Alô Alô Carnaval (Adhemar Gonzaga, 1936), Aconteceu em Havana (Walter Lang, 1941), Copacabana (Alfred E. Green, 1947), Entre a Loura e a Morena (Busby Berkeley, 1943) e O Príncipe Encantado (Richard Thorpe, 1948). Alguns clássicos que tratam da Política da Boa Vizinhança como Voando para o Rio (Thornton Freeland, 1933) e Interlúdio (Alfred Hitchcock, 1946) também fazem parte da programação, assim como os documentários Carmen Miranda (Jorge Ileli, 1969) e Carmen Miranda: Bananas Is My Business (Helena Solberg, 1994), que traçam um panorama sobre a trajetória da cantora.

A mostra também traz a sessão especial Cine Samba, dedicada a personagens marcantes da história do Samba, e a sessão especial dublada do longa Minha Secretária Brasileira (Irving Cummings, 1942).

 

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Aconteceu em Havana (Walter Lang, 1941)

A Estrela da Boa Vizinhança – Apresentada pelo governo Roosevelt como uma abordagem política das relações estadunidenses com a América Latina, a Good Neighbor Policy (Política da Boa Vizinhança) foi um marco entre os tratados de relações internacionais. Com o intuito de estabelecer uma relação de trocas e influências políticas, o acordo consistia em um esforço para aproximação cultural entre os EUA e os latino-americanos, cujas relações foram abaladas devido ao forte intervencionismo norte-americano. O plano de inserção do American Way Of Life passou a se tornar, de forma estratégica, muito mais sutil.

Como planejado, a Política da Boa Vizinhança teve grande impacto na percepção internacional dos costumes culturais latino-americanos, propulsionados pelo investimento e divulgação do EUA, influenciando a forma com que os próprios países da América Latina passaram a se enxergar perante o mundo. Dentro dessa estratégia, Carmen Miranda foi peça fundamental, sendo a figura que mais representa esse período, e se tornando uma das personalidades mais influentes do Brasil e do mundo.

Segundo Vitor Miranda, Gerente do Cine Humberto Mauro, é muito importante relembrarmos o período da Política da Boa Vizinhança para provocarmos uma discussão sobre a forma como percebemos a manifestação cultural do Carnaval e de onde ela surgiu. “Também vamos explorar a relação entre a figura da Carmen Miranda, que se apropriou de signos e costumes culturais, principalmente afro brasileiros e baianos, e o cinema da época, que também se apropriou dessa narrativa. A mostra trata do impacto desses filmes, que no decorrer das décadas fomentou uma visão estrangeira do Brasil que reverberou dentro do próprio país na forma como a população se percebia. Carmen Miranda foi por muitas vezes acusada de perpetuar estereótipos, e de voltar para o Brasil de forma ‘americanizada’”, explica Vitor.

 

Copacabana (Alfred E. Green, 1947)

A Pequena Notável – Dentro das divisões propostas pela mostra, destacam-se alguns filmes com atuação de Carmem Miranda: Copacabana (Alfred E. Green, 1947) e Entre a Loura e a Morena (Busby Berkeley, 1943), que captam de forma singular a essência do que foi a personagem imortalizada pela cantora. Apesar de sua singularidade e extravagância, e de certa forma até mesmo por essas características, Carmen se encaixou em um papel que serviu a um momento específico.

“A figura de Carmen Miranda foi descartável para a indústria dos EUA, assim como a própria Política da Boa Vizinhança. A partir do momento em que a Segunda Guerra Mundial torna-se um grande trauma, figuras como Carmen não tem mais espaço em Hollywood”, conta Vitor. Nesse sentido, O Príncipe Encantado (Richard Thorpe, 1948) foi uma tentativa de encaixá-la em diferentes papeis, com uma atuação um pouco mais contida, reflexo de uma Política da Boa Vizinhança já decadente. Embora sua carreira cinematográfica estivesse em declínio, a carreira musical de Carmen permaneceu sólida até o seu falecimento em 1955, aos 46 anos.

Dois documentários traçam o panorama da história da artista no universo cinematográfico: Carmen Miranda (Jorge Ileli, 1969) e Carmen Miranda: Bananas Is My Business (Helena Solberg, 1994). Outro destaque fica com o documentário Assim Era a Atlântida (Carlos Manga, 1975), que discorre sobre os longas produzidos em resposta à Política da Boa Vizinhança.

 

Interlúdio (Alfred Hitchcock, 1946)

South American Way – Carmem Miranda e a Boa Vizinhança possui várias frentes: para além dos filmes estrelados por Carmen, também serão exibidos longas em que a artista não faz parte do elenco, mas que possuem artistas como a mexicana Dolores del Río e a estadunidense Rita Hayworth, que interpretaram diversas personagens latinas em filmes que se passam em países da América Latina. “Percebemos que a visão dos EUA, apesar da ‘boa intenção’ em retratar latino-americanos como nunca vistos pela indústria cinematográfica, contribuía para a manutenção de estereótipos culturais, criando uma ideia massificada dos países latino-americanos”, reflete Vitor.

Dos filmes que não possuem a atuação de Carmen, destaca-se Voando para o Rio (Thornton Freeland, 1933), protagonizado por Dolores del Río, considerada a primeira estrela latino-americana em Hollywood. Interlúdio (Alfred Hitchcock, 1946) também é um grande destaque da mostra, com narrativa que se passa no Rio de Janeiro e tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e a Política da Boa Vizinhança.

Segundo Vitor, o impacto dos longas produzidos pelos EUA é indiscutível – reverberou até mesmo em produções realizadas no Brasil. “Os longas brasileiros da época se encaixam no movimento das Chanchadas, que satirizava a visão norte-americana imposta aos personagens latinos. No entanto, a inspiração para a sátira vinha dos próprios filmes americanos, e as narrativas se tornavam por vezes semelhantes. Existia quase uma simbiose do que era estrangeiro e do que era brasileiro”, explica.

Em contraposição aos longas que trabalham com a visão estrangeira do Brasil, a mostra apresenta a sessão especial Cine Samba, dedicada a personagens marcantes da história do Samba. Segundo Miranda, a história do Samba é explorada de forma ficcional e documental, além de uma sessão exclusiva para a reverberação da Tropicália. “É um braço da mostra que contribui diretamente com a construção da ideia do Carnaval, que partiu de influências como Carmen Miranda”.

Para essa curadoria especial, foram selecionados os filmes Do dia em que Macunaíma e Gilberto Freyre visitaram o terreiro da tia Ciata mudando o rumo da nossa história (Sérgio Zeigler, 1997), Operação Morengueira (Chico Serra, 2005), Com que roupa? (Ricardo van Steen, 1994), Polêmica (André Luiz Sampaio, 1998), Jorjão (Paulo Tiefenthaler, 2005), Batuque na Cozinha (Anna Azevedo, 2004), Nelson Sargento (Estevão Ciavatta, 1997), Geraldo Filme (Carlos Cortez, 1998), Brasil (Rogério Sganzerla, 1981) e Os Doces Bárbaros (Jom Tob Azulay, 1978).

Informações

Local

Cine Humberto Mauro

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