Vídeo ISMÁLIA | Homenagem ao poeta Alphonsus de Guimaraens

12/09/21

Instagram e Facebook da Fundação Clóvis Salgado

 

A Fundação Clóvis Salgado celebra o legado do poeta ouro-pretano Alphonsus de Guimaraens, mestre do simbolismo literário, que completa neste ano 100 anos de morte e 150 anos de nascimento. A homenagem é uma gravação inédita do Coral Lírico e da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, com participação especial da Cia. de Dança Palácio das Artes, interpretando a canção Ismália, escrita por Gastão Villeroy, inspirada em poema homônimo de Alphonsus. O lançamento será no dia 12 de setembro de 2021 (domingo), às 10h, pelas páginas da Fundação Clóvis Salgado no Instagram e no Facebook.

O vídeo conta com arranjo adaptado para Coro e Orquestra pelo maestro Marcelo Ramos, além de narração do poema feita pelo escritor Lucas Guimarães, bisneto de Alphonsus, e coreografia interpretada por Cláudia Lobo, bailarina da Cia. de Dança Palácio das Artes. A produção também conta com uma animação que acompanha os movimentos da bailarina, acrescentando novas nuances e interpretações à dança. O vídeo possui Direção Musical do Maestro Titular da OSMG, Silvio Viegas, e da Mestrina Associada ao CLMG, Lara Tanaka.

O soneto Ismália, escrito no início do século XX, é um dos mais conhecidos e influentes de Alphonsus de Guimaraens, com forte apelo à musicalidade dos versos. Sua escrita é mística e profundamente sensível, explorando o simbolismo da morte, do amor, da solidão e da transcendência perante a realidade do mundo. Ismália serviu de inspiração para diversas composições musicais, e é agora homenageada pelos Corpos Artísticos da FCS de forma inédita e exclusivamente virtual.

 

Corpo e alma: a música

O Maestro Marcelo Ramos é responsável pelo arranjo especial da canção Ismália, produzido com base na versão escrita pelo baixista Gastão Villeroy para seu álbum Amazônia, Amazônia (2016), cantada na voz de Milton Nascimento. Para Marcelo Ramos, “em qualquer arranjo de música popular para orquestra e coro, o desafio é sempre na escolha do que valorizar, quem vai ter destaque, se vai ter ritmo ou não, se haverá mudança na estrutura da obra ou não”. O maestro optou por respeitar ao máximo a versão de Gastão cantada por Milton, com uma diferença: “ao final, trago a introdução uma vez mais, porém com forte apelo rítmico na percussão, simbolizando uma espécie de festa após o texto da dualidade entre o corpo e a alma”.

O simbolismo antagônico entre corpo e espírito, cerne do poema Ismália, pode ser notado no que Marcelo Ramos destaca como “textura” na música. “A textura pode ser observada na quantidade de elementos presentes ao mesmo tempo, seja na instrumentação, seja na escrita, mais carregada ou mais leve”, explica o maestro. “Na parte inicial da canção, optei pelo destaque do que seria a alma, com poucos elementos, voz solo, e destaque para a harpa, que sempre evoca o sublime e o sobrenatural. À medida que a canção avança, vou adicionando elementos, até chegar no ápice, com o coral a plena força, com todas as vozes cantando, e orquestra num tutti orquestral completo, simbolizando a matéria, o corpo, mais tangível e com mais elementos”, conclui.

 

Vida e obra: a poesia

A relação de Lucas Guimarães com a obra de eu bisavô se deu, segundo o escritor, desde o primeiro momento em que ele se entendeu consciente no mundo. Sempre rodeado pela figura de grandes poetas, desde criança já se dedicava à escrita, e frequentemente se encontrava imerso nos simbolismos tão trabalhados pelo bisavô. Segundo Lucas Guimarães, Alphonsus foi sua fonte primeira de leitura e inspiração. “Aprendi com meu avô, Alfonso de Guimarães Filho, que para escrever era necessário sempre ler aqueles ‘inatingíveis’: aqueles que sabemos, quando lemos, que nunca conseguiremos escrever uma obra de tamanha envergadura. Alphonsus foi isso para mim”.

Em uma conversa com Milton Nascimento em busca de novas ideias para levantar recursos em prol do espaço Museu Casa Alphonsus de Guimaraens (Mariana – MG), Lucas Guimarães descobre, para sua surpresa, que as primeiras memórias de Milton estavam relacionadas à poética de Alphonsus. Posteriormente, a pedido de Milton e Lucas, Gastão Villeroy escreve a canção Ismália. “A partir das mais de 11 vozes gravadas de Milton, que se sobrepõem, a canção demonstra a transcendência, o fantasmagórico, o etéreo e o onírico do poema”.

Para o escritor, “Ismália é um poema que pressupõe a transcendência, no momento em que você se desprende de determinados valores e busca alcançar o inalcançável: no caso do poema, a lua”. Segundo Lucas, o poema se relaciona com momento atual de isolamento social, em que precisamos nos reinventar e ressignificar os nossos laços, afetividades e vidas profissionais. “Ismália é o símbolo dessa capacidade de atingirmos aquilo que até então nos parecia intangível em razão da pandemia”.

Lucas Guimarães participou, em 2019, de um concerto com a OSMG e o CLMG em que recitou o poema Ismália. O novo convite da Fundação Clóvis Salgado foi uma grande surpresa. “Quando recebi o convite, e sabendo que isso se transformaria em vídeo, foi pura emoção, já que estamos a celebrar tanto os 150 anos de nascimento quanto 100 anos de morte de Alphonsus. Colocar a voz no poema, junto com o magnífico corpo sinfônico e lírico da Fundação Clóvis Salgado, me dá esperança. De alguma forma, vocês me fizeram tocar levemente na lua intangível de Ismália”, conclui o escritor.

 

Transcender em si: a dança

Cláudia Lobo, bailarina que representa a Cia. de Dança Palácio das Artes nesta produção, participa do vídeo criando e interpretando uma coreografia inspirada na personagem Ismália. As gravações foram realizadas no Teatro João Ceschiatti, seguindo os protocolos de segurança do espaço. Durante o processo de criação, bailarina e demais produtores conversaram sobre a “importância da construção de uma relação de sintonia entre a escrita do movimento e o delinear da animação, como se a dança convocasse a existência do traço e o traço em movimento reverberasse dança”, destaca Cláudia.

Cláudia Lobo iniciou a construção da coreografia antes mesmo de ter a versão do arranjo musical em mãos – a partir dos primeiros passos, mais intuitivos, a bailarina se aprofundou no estudo sobre o poema e investigou suas mais diversas releituras. “Foi no texto de Ismália que primeiramente me inspirei: propondo uma dança que pudesse funcionar como uma nova grafia do poema, em gesto, em movimento. Quando a música chegou, acrescentei novas dinâmicas à minha interpretação da estrutura coreográfica, descobri e construí outras nuances às expressividades de Ismália”.

Para Cláudia, os símbolos no poema de Alphonsus de Guimaraens simultaneamente apresentam, representam e reinventam realidades. “Ao se isolar em seu corpo-torre, Ismália inventa para si e inventa em si uma outra realidade, e transforma-se ela mesma numa transcendência da sua própria invenção”, reflete a bailarina. “Mais do que refletir a dualidade como uma evidência, a Ismália do poema nos apresenta esta dualidade em estado vivo. A dualidade como a construção, o enfrentamento e a resolução de um impasse. Ao entregar-se à transcendência em ato, o que há de alma em Ismália transforma-se em lua no céu, o que há de corpo transforma-se em lua no mar…e Ismália ganha existência de poema”, conta. “Agora, também ganha existência de um poema-dança”.

O vídeo Ismália integra o projeto #PalácioEmSuaCompanhia e é realizado pelo Governo de Minas Gerais e Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, pela Fundação Clóvis Salgado, e é correalizado pela Appa – Arte e Cultura. Tem o patrocínio Master da Cemig, AngloGold Ashanti e Unimed-BHInstituto Unimed-BH¹, além do patrocínio da Usiminas, com o apoio do Instituto Usiminas. Todos os incentivos são através das Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura.

¹ O patrocínio da Unimed-BH / Instituto Unimed-BH é viabilizado pelo incentivo de mais de cinco mil médicos cooperados e colaboradores.

A Fundação Clóvis Salgado é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade com o turismo. Trabalhando em rede, as atividades dos equipamentos parceiros ao Circuito buscam desenvolvimento humano, cultural, turístico, social e econômico, com foco na economia criativa como mecanismo de geração de emprego e renda, além da democratização e ampliação do acesso da população às atividades propostas.

 

 

ISMÁLIA

Alphonsus de Guimaraens

 

Quando Ismália enlouqueceu

Pôs-se na torre a sonhar

Viu uma lua no céu

Viu outra lua no mar

 

No sonho em que se perdeu

Banhou-se toda em luar

Queria subir ao céu

Queria descer ao mar

 

E num desvario seu

Na torre pôs-se a cantar

Estava perto do céu

Estava longe do mar

 

E como um anjo pendeu

As asas para voar

Queria a lua do céu

Queria a lua do mar

 

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par

Sua alma subiu ao céu

Seu corpo desceu ao mar

 

Ismália

 

 

Alphonsus de Guimaraens (1870 – 1921) – Pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães, foi um dos principais autores simbolistas do Brasil. Nascido em Ouro Preto (MG), possuiu uma poesia mística e envolta em religiosidade católica, com estética neo-romântica e simbolista. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica e exploram com frequência o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inadaptação ao mundo. Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade em relação à figura feminina, que é considerada um anjo, ou um ser celestial. Traduziu poetas como Stéphane Mallarmé. Embora preferisse o verso decassílabo, chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha maior.

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – Considerada uma das mais ativas do país, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais cumpre o papel de difusora da música erudita, diversificando sua atuação em óperas, balés, concertos e apresentações ao ar livre, na capital e no interior de Minas Gerais. Criada em 1976, foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural do Estado de Minas Gerais em 2013. Participa da política de difusão da música sinfônica promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, a partir da realização dos projetos Concertos no Parque, Concertos Comentados, Sinfônica ao Meio-dia, Sinfônica em Concerto, além de integrar as temporadas de óperas realizadas pela FCS. Mantém permanente aprimoramento da sua performance executando repertório que abrange todos os períodos da música sinfônica, além de grandes sucessos da música popular. Seu atual regente titular é Silvio Viegas.

Coral Lírico de Minas Gerais – O Coral Lírico de Minas Gerais é um dos raros grupos corais que possui programação artística permanente e interpreta repertório diversificado, incluindo motetos, óperas, oratórios e concertos sinfônico-corais. Participa da política de difusão do canto lírico promovida pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado (FCS), a partir da realização dos projetos Concertos no Parque, Lírico Sacro, Sarau ao Meio-dia e Lírico em Concerto, além de concertos em cidades do interior de Minas e capitais brasileiras, com entrada gratuita ou preços populares. Participa também das temporadas de óperas realizadas pela FCS. Já estiveram à frente do Coral os maestros Luiz Aguiar, Marcos Thadeu, Carlos Alberto Pinto Fonseca, Ângela Pinto Coelho, Eliane Fajioli, Sílvio Viegas, Charles Roussin, Afrânio Lacerda, Márcio Miranda Pontes, Lincoln Andrade e Lara Tanaka. Criado em 1979, o Coral Lírico de Minas Gerais tornou-se Patrimônio do Estado em 2018 e comemorou quarenta anos em 2019.

Cia. de Dança Palácio das Artes – Corpo artístico da Fundação Clóvis Salgado – é reconhecida como uma das mais importantes companhias do Brasil e é uma das referências na história da dança em Minas Gerais. Foi o primeiro grupo a ser institucionalizado, durante o governo de Israel Pinheiro, em 1971, com a incorporação dos integrantes do Ballet de Minas Gerais e da Escola de Dança, ambos dirigidos por Carlos Leite – que profissionalizou e projetou a Companhia nacionalmente. O Grupo desenvolve hoje um repertório próprio de dança contemporânea e se integra aos outros corpos artísticos da Fundação – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Coral Lírico de Minas Gerais – em produções operísticas e espetáculos cênico-musicais realizados pela Instituição ou em parceria com artistas brasileiros. A Companhia tem a pesquisa, a investigação, a diversidade de intérpretes, a cocriação dos bailarinos e a transdisciplinaridade como pilares de sua produção artística. Seus espetáculos estimulam o pensamento crítico e reflexivo em torno das questões contemporâneas, caracterizando-se pelo diálogo entre a tradição e a inovação.

 

 

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