O cinema é uma forma de arte que lida muito de perto com o tempo; as narrativas audiovisuais possuem uma capacidade singular de condensar tempo e emoção. Quando essas narrativas se voltam ao tema da juventude, costumam encontrar um terreno fértil para explorar a tensão entre experiência e instante. O primeiro recorte curatorial do Ciclo A Vida em 24 Horas reúne um conjunto de filmes que operam sob o signo da urgência — não como mero artifício de roteiro, mas como sintoma de um tempo acelerado, de uma subjetividade ou de uma atmosfera marcada pelo imediato. São retratos da juventude que se passam ao redor de um dia, uma noite, um momento decisivo —, onde tudo parece em jogo.
A juventude, como fase de vida e como linguagem estética, é simultaneamente tema e meio. Essa fase da vida traduz essa urgência: cada decisão parece decisiva, cada gesto parece absoluto, cada sentimento possui a intensidade de um instante único. A percepção de que “não há tempo a perder” atravessa os enredos, atestando um certo desequilíbrio: o mundo está em movimento rápido demais, e os personagens tentam acompanhar, resistir ou mesmo se perder.
Em tempos marcados pela velocidade contemporânea — onde a juventude parece convocada a amadurecer sem preparação, a performar, decidir e transformar-se sem pausa —, esses filmes nos convidam a pensar sobre o tempo vivido e o tempo narrado. E fazem isso não apenas por meio de tramas frenéticas, mas também através de estruturas que condensam ciclos de amadurecimento em períodos muito curtos de ação.
Primeira sessão
No primeiro dia, a seleção aborda a necessidade do amadurecimento como construção narrativa. Em Boneco de Neve, curta-metragem de Raphael Lages, a delicadeza de um gesto de despedida se converte em rito de passagem. Já O Mito Americano da Festa do Pijama transforma uma noite comum, um interlúdio na vida de um grupo heterogêneo de adolescentes, em algo extraordinário — um microcosmo onde os vínculos se formam e se desfazem diante de nossos olhos – na intensidade e na fugacidade de uma noite.
Segunda sessão
No segundo dia, os protagonistas são jovens que não se transformam no decorrer da narrativa, mas provocam mudanças ao seu redor. Em Curtindo a Vida Adoidado, Ferris Bueller assume o controle narrativo e conduz os demais personagens (e o espectador) por um dia de “folga”. O tempo é manipulado, estendido, subvertido. Empire Records também habita esse espaço de resistência juvenil: os protagonistas se recusam a mudar, e é o mundo que deve dançar ao som de suas convicções. A urgência aqui é a do agora que deve ser defendido a todo custo.
Terceira sessão
O terceiro dia mergulha de vez na urgência narrativa, onde os jovens protagonistas são convocados à ação em um mundo que exige respostas rápidas. Te Pego Lá Fora, com seu humor ácido e atmosfera quase surreal, trata de uma ameaça iminente e absurda. Em Vamos Nessa, a noite natalina transforma a cidade numa arena, onde cada minuto importa para os personagens.
Quarta sessão
Encerrando o ciclo, o quarto dia traz filmes que lidam um pouco mais de perto com a fruição temporal, que tratam do tempo como experiência sensorial e afetiva. American Graffiti e Dazed and Confused são filmes que se oferecem como cápsulas temporais. Não há grandes rupturas aqui, mas um certo movimento em busca de eternizar uma sensação, um ambiente, um estado de espírito.
O Ciclo 24 Horas busca, assim, articular uma reflexão sobre a juventude e a temporalidade narrativa, atravessada pela pergunta: o que acontece quando a vida precisa caber em um só dia? Em tempos de hiperconectividade, em que a juventude é vivida sob o peso de pressões e acelerações inéditas, esses filmes nos lembram que talvez a grande urgência seja justamente a de parar, olhar e sentir.
Programação Completa
04/07 SEX
15h PRÉ-ESTREIA | Boneco de Neve (Raphael Lages, Brasil, 2025) | 12 anos | 38 min.
15h40 O Mito Americano da Festa do Pijama (The Myth of the American Sleepover, David Robert Mitchell, EUA, 2010) | 14 anos | 1h36
11/07 SEX
15h Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Of, John Hughes, EUA, 1986) | Livre | 1h43
17h Império dos Discos: Uma Loja Muito Louca (Empire Records, Allan Moyle, EUA, 1995) | 12 anos | 1h30
18/07 SEX
14h Te Pego lá Fora (Three O’Clock High, Phil Joanou, EUA, 1987) | 12 anos | 1h40
16h Vamos Nessa (Go, Doug Liman, EUA, 1999) | 16 anos | 1h42
Sessão comentada pelo professor e pesquisador José Ricardo Miranda Jr.
25/07 SEX
14h Loucuras de Verão (American Graffity, George Lucas, EUA, 1973) | 14 anos | 1h50
16h Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused, Richard Linklater, EUA, 1993) | 14 anos | 1h42
