Nagôgrafia | Diásporas Mineiras em Cor e Verso

Nagô é uma palavra da língua Iorubá que abarca três significados principais: no primeiro, designa o grupo cultural Nagô – uma identidade coletiva estabelecida durante e após o tráfico de africanos pelo Atlântico; no segundo, define uma estética negra presente em certos estilos de penteados trançados; e por fim, no terceiro sentido, nagô pode ser entendido como caminho. Em ambas as significações, o termo abarca desdobramentos e articulações que nascem e se transformam num contexto afrodiaspórico transatlântico marcado pela violência e pela dor, mas também pela força, pela alegria e pela fé. No rastro desta ancestralidade africana, os artistas visuais Maria do Rusá e Vitú de Souza têm desenvolvido desde 2018 um projeto fotográfico documental em diversas comunidades afrodescendentes mineiras, buscando captar as múltiplas dimensões do legado estético, simbólico e cultural da diáspora africana em Minas Gerais. Neste recorte desenvolvido especialmente para a Mostra Tátil 2021, apresentamos os registros realizados no terreiro Ilê Axé Afonjá Oxeguiri (Bairro Concórdia, Belo Horizonte) e no Festejo do Candombe (Quilombo do Açude, Serra do Cipó). Através de uma linguagem híbrida que denominamos “foto-performance”, esta exposição articula o universo da imagem e da poesia, revelando as relações entre espaço-tempo-movimento numa espiral de cores e palavras, gestos e versos.

Ficha Técnica

Curadoria e produção: Maria do Rusá

Fotografias: Vitú de Souza e Maria do Rusá

Edição: Vitú de Souza

Poemas: Maria do Rusá 

NAGÔGRAFIA

Nagô-grafias

Bantu-grafias

Afro-grafias

Afro-diásporas

Afro-Minas

Gerais.

Terreiros ensolarados

Nos acolhem

Nos recolhem

Nos recriam

Em luz viva que irradia

Desde o outro lado do

Atlântico.

Erês 

correm com os ventos

Ogãs 

chamam pro templo

Orixás

dançam nos tempos

E as giras

giram a roda do mundo

Para outras 

direções.

Corações

Que pulsam juntos

No ritmo dos

Atabaques

Ganzás

Xequerês

Agogôs.

Ilês acendem a chama de

Aruanda

Afoxés

Reluzem os raios de

Xangô.

LICENÇA

Iauê 

Ererê 

Aiô 

Gombê 

Bate tambor

Hoje é dia de alegria

Tá caindo fulô!

Com licença do 

curiandamba

Com licença do

curiacuca

Com licença do povo de 

ingoma

Com licença dos tambus de

Nossa

Senhora do

Rusá.

O senhor me dá

Licença

Pra eu cantar nessa

Baixada

Cantar nessa baixada

Em noite

Enluarada

Oiá!

Senhora da casa

Eu peço sua

Licença

Pra eu cantar aqui 

Deixa eu cantar 

até o dia raiar

Deixa eu dançar

até o dia raiar

Deixa eu cantar aqui

Deixa em dançar aqui.

Licença mãe Clementina

Tia Mocinha

Mestre Antônio

Licença

Capitã Pedrina

Capitã Maria

Capitão Dirceu

Licença 

Capitão João Lopes

Capitã Zilda 

Dona Maria de Lurdes

Licença

Capitão Júlio

Dona Divina

Dona Tereza

Licença

Dona Helena

Dona Geralda 

Dona Mercês

Iauê 

Ererê 

Aiô 

Gombê 

Bate tambor

Hoje é dia de alegria

Tá caindo fulô!