2º Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais: Materialidades
A 2ª edição do Prêmio Décio Noviello da Fundação Clóvis Salgado contempla artistas das artes visuais e da fotografia destacando a importância da diversidade, tanto dos suportes e elementos construtivos nos objetos artísticos quanto das narrativas desses objetos. O prêmio homenageia Décio Noviello, pintor, gravador, desenhista, carnavalesco e professor mineiro que faleceu em 2019, aos 90 anos de idade.
Na exposição “Do que fomos feitos e o que deixamos”, o artista João Angelini, do interior do Distrito Federal, nos envolve em uma multiplicidade de materialidades e de movimentações dessas materialidades que dialogam entre si de forma harmônica em rastros e evidências, no estático e no movimento, na pureza e clareza e no borrado e terroso. Para o artista, forma e gesto são o conteúdo de seu trabalho de experimentações constantes, que conversam com questões políticas, territoriais e econômicas. Em suas memórias, Angelini transita entre uma Brasília moderna e uma Planaltina histórica, desocupando estruturas do micro ao macro, fazendo um paralelo com o progresso – ou declínio – do sistema capitalista.
Em “Quero dançar sobre as ruínas dos reinos da escuridão”, Erre Erre, artista mineiro, apresenta uma profusão de cores e gestos em múltiplas técnicas, que passeiam pela pintura, pela colagem e pelo vídeo. Com trabalhos que possuem datas muito distantes entre eles e que estão sempre sendo atualizados, o artista revela um conceito de não finitude, de intercâmbio entre suas memórias. É a cultura sempre em movimento, seu processo artístico e as próprias imagens que se parecem com ruínas. Sua narrativa, como a de muitos artistas que se reclinam a um eterno revisitar de seus trabalhos, não possui princípio, meio e fim, bem como uma fita de moebius, que parte de um ponto e retorna nele mesmo. A produção expressiva com empastes de tinta e sobreposições revela uma confusão entre o tempo vivido e o passado, informações visuais que se entrelaçam com a própria vida e nos fazem refletir sobre os acontecimentos e o instante.
Sobre a autora:
Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora da Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.