Nascido na Serra da Canastra, em Minas Gerais, o Rio São Francisco é um curso de água extremamente importante para o abastecimento, a economia e a cultura do país. Desaguando no Atlântico, o rio conecta, de certo modo, Minas ao mar. Pensando nesse percurso, os artistas do Curso Técnico e curso Básico em Dança do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), da Fundação Clóvis Salgado, apresenta o espetáculo “Bento”, encerrando o ano de 2024 e para alguns, o ciclo formativo na Escola de Dança. A obra com direção coreográfica de Alan Keller é dividida em dois atos: “É a Foz” e “É o Menino”. Na primeira parte, há um paralelo entre o Rio São Francisco, sua nascente, herança e força, com a trajetória dos artistas em cena. “É a Foz” está sendo exclusivamente coreografada como obra de conclusão dos alunos do Técnico 3 do curso de formação. O segundo ato “É o menino”, com participação do curso básico e técnico, é roteirizada e dirigida por Alan Keller, conta a história de Bento, um menino que descobre que o Mar está triste por não conhecer Minas. O menino, então, decide levar as belezas do estado para ele, navegando pelo Velho Chico. Em cena, todos os alunos do curso de dança, além de convidados do curso técnico de teatro e do Coro Infanto Juvenil do Palácio das Artes. A trilha sonora de Bento é assinada pelo cantor, compositor, multi-instrumentista, ator e diretor musical Sérgio Pererê. O espetáculo, apoiado na regionalidade e nas riquezas do território mineiro, será apresentado nos dias 10/12 (terça-feira) e 11/12 (quarta-feira) no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. As apresentações acontecem às 20h, com entrada gratuita.
O menino, ao descobrir a tristeza do Mar, navega pelo rio até a sua foz, levando as riquezas do estado que ele coleta pelo caminho. Na travessia, o protagonista encontra amigos e descobre uma Minas Gerais ainda mais rica. No segundo ato “É o menino” as coreografias foram elaboradas com a contribuição dos professores do Cefart e convidados. Os figurinos são de Jana Castro e a assistência de direção é de Erika Roseno.
O espetáculo “Bento” é realizado pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. A ação é viabilizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo.
A mineiridade em cena – A montagem que encerra o ciclo de aprendizado da turma tem como mote a identidade e a cultura de Minas Gerais. Segundo o diretor e roteirista Alan Keller, ao ser convidado para fazer uma obra que dialogasse com essa temática, outros dois elementos foram importantes para que a narrativa de “Bento” ganhasse vida. “A Priscilla Fiorini, diretora do Cefart, ao me convidar, mencionou que a ideia era enfatizar a identidade, a região e a força da cultura mineira. Isso dialoga diretamente com minha história, sou um artista mineiro e literalmente nascido às margens do Rio São Francisco. O rio sempre me encantou profundamente. O rio se transforma em fonte de inspiração, e as músicas de Sérgio Pererê, um artista com quem tive a oportunidade de trabalhar em outros projetos, nos faz contemplar o processo. Elas não apenas se conectam com a importante estrutura ancestral, mas também com o nosso cotidiano, com a nossa necessidade de falar e de viver o agora”, afirma.
O nome da obra reforça essa parceria com o músico Sérgio Pererê. “Bento” também faz uma referência a “Bentu”, álbum do artista com Badi Assad, que celebra a cultura afro-mineira. Para o espetáculo, Pererê utilizou tanto composições já existentes, algumas adaptadas para a ocasião, quanto novas composições. Alan ressalta que a ideia de convidá-lo para assinar a trilha surgiu no início do projeto. “Logo quando fui convidado, pensei: ‘Qual trilha vai cair no meu ouvido e ir direto para o coração?’ Não tinha como pensar diferente se não fosse com o Sérgio, que acolheu a proposta com muito carinho”. Junto ao Sérgio, seu filho Imane Rane faz a produção musical.
O potencial transformador do Velho Chico – Minas Gerais é o único estado da região Sudeste do Brasil que não se encontra com o mar. Em “Bento”, esse desencontro é o fio condutor da narrativa. A escolha de uma criança como a responsável por promover essa reunião expressa a forma simples e poética com que enxergamos o mundo durante a infância. “Minas são muitas, mas, dentro do imaginário infantil, são infinitas. A nossa ideia, como a de uma criança, é que o mar pudesse conhecer o nosso Estado, e que isso fosse um privilégio para ele [o mar]. O encontro das Minas Gerais com a imensidão do mar, é reafirmar que as riquezas do território são reconhecidas de forma transcontinental. E o rio São Francisco é, sem dúvida, o rio mais mineiro e maneiro, como o próprio texto do Bento menciona. Isso porque é o maior rio totalmente brasileiro. Portanto, o Velho Chico conhece nossas terras, e nada mais bonito do que essa criança fazer essa viagem incrível por todo esse território”, explica Alan.
Por outro lado, o diretor aponta que essa jornada só é possível através da combinação da inocência e esperança da criança com a experiência e sabedoria do rio. “O Velho Chico carrega toda a essência, a história, a trajetória e a força dos povos ribeirinhos. Além disso, carrega também as riquezas, o desenvolvimento e a economia. A criança, por sua vez, carrega consigo a esperança. O rio se torna quase o ancião dessa jornada e coragem do menino o combustível.”
A viagem do protagonista em direção ao mar também representa, para Keller, uma metáfora do processo formativo dos alunos do Cefart, que agora se tornam profissionais. “Isso também dialoga com a vida dos artistas que estão no Cefart, que entram ali como crianças para navegar por um rio durante um bom tempo e chegar à vida profissional, na imensidão do mercado cultural, que por vezes é difícil de navegar. Olhar para o mundo depois de se formar, olhar para esse mar e dizer: ‘Agora eu tenho uma nova jornada’, preparando-se para essa nova história”, reflete.
CEFART – O Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart, da Fundação Clóvis Salgado, é responsável por promover a formação em diversas linguagens no campo das artes e em tecnologias do espetáculo. Referência em formação artística, o Cefart possui amplo e inovador Programa Pedagógico para profissionalizar e inserir jovens talentos no mercado de trabalho da cultura e das artes. Diversas gerações de artistas e técnicos foram formadas ao longo dos quase 50 anos de atividades, com forte impacto no fazer artístico de Minas Gerais. São oferecidas, gratuitamente, oportunidades democráticas de acesso à formação cultural diversa, por meio de Cursos Técnicos, Básicos, de Extensão e Complementares, com grande repercussão social.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado é responsável, ainda, pela gestão do Circuito Liberdade, do qual fazem parte o Palácio das Artes e a CâmeraSete. Em 2021, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todas as pessoas.