Em 2024, celebramos os 80 anos da Escola Guignard. Sua origem remete ao convite feito pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, em 1943, para o artista e professor Alberto da Veiga Guignard dirigir a Escola de Belas Artes. Inicialmente, a escola localizava-se no porão do Palácio das Artes, próximo ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Atualmente, a Escola Guignard pertence à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
A partir dessa comemoração, homenageamos o artista Marco Tulio Resende, ex-aluno e professor desta instituição. Em sua produção artística, Resende busca em seu inventário de memórias e objetos a inspiração para inventar, criar, a partir das coisas mais simples e ordinárias, a grandeza de suas obras, transformando o ordinário em extraordinário, numa jornada poética e experimental de inspiração.
Durante o segundo semestre, nas aulas de Fundamentos em Curadoria, do Curso Básico de Curadoria, os estudantes elaboraram o tema para a 14ª Mostra da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS: CHAMA Inventar(iar) o ordinário. Homenageando o artista e professor Marco Tulio Resende, a mostra apresenta duas obras do artista pertencentes ao acervo da Fundação Clóvis Salgado. A exposição também conta com 22 obras de estudantes/artistas da Escola de Artes Visuais, selecionadas por edital interno, intervenções e vídeos.
Fruto de muitas pesquisas e discussões durante as aulas do Curso Básico de Curadoria e dos demais cursos do Cefart/FCS, essa mostra apresenta uma grande diversidade de trabalhos, inspirados nos ensinamentos de Guignard e de Marco Tulio Resende, o qual diz que “se encontrou na Escola Guignard”. A seleção das obras dos estudantes se deu por meio de um chamamento elaborado pelos próprios estudantes de Curadoria, que desenvolveram um conceito, fizeram a análise e seleção dos trabalhos e escreveram o texto curatorial. Uma de suas atividades foi a distribuição das obras em núcleos, que propiciam observar um diálogo entre os trabalhos, por questões conceituais ou visuais. A seguir, veja o resultado desse trabalho, realizado com muito empenho e dedicação de todos os envolvidos.
TEXTO CURATORIAL – CHAMA Inventar(iar) o ordinário – 14ª Mostra da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS
Um inventário é o resultado do ato de colecionar, reunir objetos diversos. É enxergar potência no que há de mais simples e em sua capacidade de reter informações, histórias e afetos. Ao catalogar, somos levados a entender as particularidades, em uma íntima aproximação.
Ampliando a percepção sobre os elementos que nos rodeiam, podemos encontrar infinitas possibilidades de sentidos, significados e de expressão, uma proposta para refletir sobre catalogar as coisas e criar a partir delas. Ao coletar as memórias e vivências cotidianas, (re)cria-se uma realidade que se estrutura nas sutilezas para potencializar o pequeno, o simples, o ordinário. Inventariar torna-se também um movimento criativo, uma invenção do cotidiano e a partir dele.
A Mostra CHAMA Inventar(iar) o ordinário nos convida a olhar ao nosso redor com curiosidade. Celebrando os 80 anos da Escola Guignard e em homenagem ao artista Marco Tulio Resende, essa edição reúne um conjunto de obras que transformam o cotidiano em arte. Ao explorar o ordinário, os artistas participantes desafiam nossas percepções, revelando a riqueza e a complexidade do que consideramos comum, nos provocando a vasculhar e a repensar o valor daquilo que nos cerca.
A exposição reúne diferentes linguagens e técnicas, como pintura, colagem, fotografia, desenho, vídeo, entre outras. Nela encontraremos trabalhos que exploram a poética e a materialidade de suas produções e que estabelecem relações entre o corpo, a memória e os objetos, investigando a expressividade através de linhas, cores e formas. As obras presentes nessa mostra nos levam a refletir sobre a nossa relação com o mundo e com nós mesmos.
Como fruto de um intenso processo de pesquisa e criação feito por estudantes e professores, a 14ª edição da CHAMA busca inventariar o ordinário, revelando as sutilezas e as histórias escondidas nas coisas mais simples. A mostra nos convida a desacelerar o ritmo frenético do dia a dia e prestar atenção aos detalhes, aos gestos e às marcas do tempo que se inscrevem em cada coisa. Como diria o poeta Manoel de Barros: “[…] Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”.
Estudantes: Abner Rodrigues Gonzaga, Aline Gabriele Maia de Freitas, Ana Carolina Castro Silva, Ana Caroline Chaves Damasceno, Ana Claudia Amaral e Silva, Anna Gabryelle Ribeiro Santos Jacinto, Cristina Rovesse Azevedo, Deborah Coutinho Albuquerque Cavalcante, Edvania Alves de Araújo Souza, Emanuelly Guedes Dantas da Nobrega, Gabriela Amaral Luna da Silva, Isadora Neves Tameirão Leite, Jamile Cardoso Ferreira, Kaio Henrique da Silva, Laura Roman da Luz, Letícia de Castro, Márcio Junio da Silva Souza, Maria Clara Gonçalves Souza, Mariana Parreiras, Nathália Fernández Peroni, Nina Nunes de Ávila Alves, Pablo Soares Gabriel, Pedra de Oliveira, Rodrigo Cesar Calciori Nóbile, Rogério Zanforlin Alves Pereira, Sara Welter, Thuany Ribeiro da Silva, Thyago Nunes Andrade, Vitória Karolina Mendes Resende, Vitória Ondina Ruas Dias da Cruz, Wiliam Brito Clavero.
Orientação: Professor Giovane Diniz
NÚCLEOS TEMÁTICOS – CHAMA Inventar(iar) o ordinário – 14ª Mostra da Escola de Artes Visuais
Colecionar retalhos do tempo: Ao inventariar o ordinário, reestrutura-se o próprio tempo. O caminho do objeto até se tornar memória é um encontro com as múltiplas formas do cotidiano e de suas existências. Como retalhos, buscamos costurar aquilo que nos importa, tecendo novas tramas de realidade. A matéria e as imagens dos objetos representam também o caminho do corpo, que coleciona todos eles. As obras deste núcleo apresentam aproximações poéticas e visuais com a produção do artista Marco Tulio Resende, partindo da ação do inventário. Os artistas selecionam partes de sua própria história, elegem os elementos do tempo-transcendente, que se acendem e alimentam CHAMAS no presente, passado e futuro.
Artistas: 1 – Rogério Zanforlin 2 – Gisele de Carvalho Nunes 3 – Pablo S. Gabriel, Claudio Fu 4 – Letícia D’Castro 5 – Milena Ferreira.
A linguagem secreta das coisas: Parte da capacidade que os objetos possuem de transmitir emoções, histórias e significados além de sua função prática. É como se cada objeto carregasse consigo uma narrativa única, revelando aspectos da vida de quem o possui ou da sociedade em que foi criado. Essa linguagem silenciosa pode ser decodificada através da observação atenta de detalhes como marcas do tempo, texturas, cores e formas. Ao compreender essa dinâmica, podemos estabelecer uma conexão mais profunda com o mundo que nos cerca e com as pessoas que o habitam.
Artistas: Mara Sifuentes, Déborah Albuquerque, Angélica Sandes, Júlia Steffen e Jamile Ferreira.
Rastros da memória, traços no espaço: A introspecção requer uma dose de falta de controle para acessar e aceitar as nuances desconhecidas ou intimidadoras do nosso ser. Incorporando o acaso e fazendo dele ferramenta, as linhas dos desenhos servem como guia, nos trajetos inexplorados de uma jornada interna por entre sentimentos e memórias. Rastros, marcas do tempo, que viram trilhas para indicar possíveis caminhos futuros a partir da ressignificação daqueles que já foram traçados até aqui.
Artistas: Cássia Gonçalves, Ívna Abreu, SYUNOI, Karoline Vinuto, Júlia Pires Ferreira e Miriam Rodriguez Calvo.
Fragmentos do Eu: Sugere que o corpo não se restringe como sólido e homogêneo, mas é composto por experiências e emoções. Cada lembrança é como um fragmento de um quebra-cabeça que, ao ser reunido, forma uma imagem mais complexa de quem somos. No entanto, esses segmentos podem ser incompletos, contraditórios ou até mesmo perdidos, revelando a natureza fragmentada e complexa de nossa identidade. Rememorar é como retirar um tecido da superfície das memórias, enquanto novas camadas são adicionadas. É aprofundar as partes que não se veem, mas constroem o indivíduo em sua totalidade repartida. Do passado, só nos é permitido ver suas sombras, rastros e estilhaços. Mas no presente, o indivíduo não é apenas receptáculo, pois age diretamente no mundo, manipulando os tecidos enquanto se depositam. A realidade não é transformada a partir da vivência?
Artistas: Gabbie Ribeiro, Júlia Melo, Vitória Ondina Ruas, Silva Makenzi e Domitila Vitoria.
Artistas: Angélica Sandes, Cássia Gonçalves, Claudio Fu, Déborah Albuquerque, Domitila Vitoria, Gabbie Ribeiro, Gisele de Carvalho Nunes, Ívna Abreu, Jamile Ferreira, Júlia Melo, Júlia Pires Ferreira, Júlia Steffen, Karoline Vinuto, Letícia D’Castro, Mara Sifuentes, Milena Ferreira, Miriam Rodriguez Calvo, Pablo S. Gabriel, Rogério Zanforlin, Silva Makenzi, SYUNOI, Vitória Ondina Ruas.