O concerto Sobre tons – Som da Escravidão apresenta uma poderosa narrativa musical sobre as origens e transformações da música clássica no Brasil, trazendo à tona histórias quase esquecidas de resistência, beleza e liberdade.
Partindo da diáspora africana, o espetáculo mostra como os cânticos de dor e esperança entoados nos campos de algodão dos Estados Unidos ecoaram até os palcos do mundo, influenciando profundamente a formação cultural e musical do Ocidente. Nos Estados Unidos, escravizados ouviam de longe os hinos cantados nas igrejas e, sem dominar a língua inglesa, transformavam essas melodias em expressões de sua própria dor, fé e alegria. Dessa fusão nasceram cantos marcados por uma gramática imperfeita, mas repletos de verdade e espiritualidade — sementes de uma tradição musical que ressoa até hoje.
No Brasil, a história da música erudita também carrega uma forte presença negra: das primeiras orquestras às cantoras líricas que, saindo da condição de escravizadas, conquistaram espaço nos palcos da Europa. O concerto resgata a trajetória dessas mulheres e homens, representantes de um matriarcado negro da música lírica brasileira, que ajudaram a moldar a identidade cultural do país e cuja memória, tantas vezes silenciada, precisa ser celebrada.
Sob a regência da maestra titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Ligia Amadio, e com participação do Coral Lírico de Minas Gerais, preparado pelo maestro Lucas Viana, o espetáculo conta ainda com as solistas Edna D’Oliveira e Edineia de Oliveira, vozes que reforçam a potência da tradição lírica negra no Brasil.
Com sensibilidade poética, o concerto dá voz a essas narrativas, reafirmando a luta pela liberdade, pelo respeito, pela preservação da cultura afro-brasileira e pela igualdade social.
Como afirma sua essência: “A música erudita no Brasil tem cores, e uma delas é preta.”
Programa:
1- Batuque -Lorenzo Fernandes
2- O Kinimba – Hernani Braga – 1899
3- Hino da África – Hino religioso- Enoch Sontonga-1897
4- My Lord what a morning – Spiritual – anônimo
5- Grandioso és tu – Carl Gustav Boberg- 1885
6- Calvary – Spirutual- anonimus
7- Sometimes I feel- Give me Jesus – spiritual – anonimus
8- Citty Called Haven – spiritual – anonimus- arranjo vocal – Josephine Poelinitz
9- Amazing grace – John Newton- 1779
10- Abertura do Largo fac totum da ópera O Barbeiro de Sevilha – G. Rossini
11- Quem sabe – Carlos Gomes
12- Azulão – Heckel Tavares
13- Canção do amor – Heitor Villa-lobos
14- Habanera – George Bizet
15- O Leilao- Hanzel Tavares
16- Prece de São Benedito – Herve Cordovil
17- The Road Home – spiritual anônimo- arranjo -Stephen Paulus
18- Kyrie da missa afro brasileira – Carlos Alberto Pinto Fonseca.