(Figurino)
Maria Laura de Vilhena
“fresta. s.f.: entrada, perfuração, rachadura, fenda, abertura, quebra, brecha, trégua, perda.
Em plena pandemia, me encontro separada do ambiente da minha casa por uma fresta na porta do quarto. Pela fresta vejo a luz, som, cor e tenho contato com o mundo externo. A fresta é a possibilidade de existência no mundo pandêmico: as aberturas da máscara permitem o ar circular, ainda que minimamente. A fresta dos olhos é o que nos possibilita uma comunicação extra-verbal. A fresta é a trégua que precisamos nesse momento.
Entre frestas no figurino e no cenário, descubro uma terceira abertura: a fresta no espaço-tempo que possibilita o encontro com minha avó (1918-2019). Separadas por quase 90 anos, recrio a foto ao meu modo, brincando com a irreverência e a delicadeza tal qual ela o fez. E assim entendo que a fresta não precisa ser uma perda, mas uma possibilidade de aproximação com o quê e quem me molda”.
Técnica: Fotografia 35mm, com filtro analógico em papel cartão. Máscara feita em papel manteiga cortado.