A) Acre e seu Hélio Melo

Palavras-chave: Amazônia mítica, seringueiro, pintura.

Bora falar de arte?

O quanto conhecemos o Brasil? E suas produções artísticas? É partindo dessas perguntas que o Bora se lança para mais um trabalho de inventariar o campo da arte contemporânea – observando que este inventário não tem a pretensão de determinar estruturas rígidas de referências. Tem, entretanto, a intenção de propor outras direções para se olhar; e com isso buscar compreender as diversas poéticas que constroem a cultura artística do país.

Assim, o Bora desta semana se aventurou pelo estado do Acre: localizado na Região Norte, no bioma da Amazônia, com o clima equatorial úmido e cuja capital é Rio Branco.

Imagem: Mara Tavares

Embora possua uma população com muitos imigrantes (entre eles, brasileiros vindo do nordeste e do sul, além de venezuelanos, haitianos, bolivianos e peruanos; esses últimos cujos países fazem fronteiras com o Brasil), a matriz indígena teve grande influência na formação do povo acreano.

É dentro desse universo de matriz fortemente indígena que o Bora traz o artista Hélio Melo. Nascido na Vila Antinari, no Acre, autodidata e seringalista, Hélio desbravou o campo das artes se expressando em várias linguagens: música, literatura, teatro e artes visuais. Nessa última se aprofundou na convivência com os indígenas – também conhecidos como povos da floresta.

Dentro do universo das artes visuais, Hélio desenvolveu sua poética por meio do desenho e da pintura, misturando corantes naturais com tintas industriais, como o nanquim. O látex – da borracha – se tornava aglutinante; cascas de árvores, sementes e frutos, pigmentos; e tudo aquilo que ele vivia – a vida na natureza, os conflitos ambientais, as denúncias sociais, as trocas com os povos da floresta – se transformava em pinturas e em desenhos fabulosos, surreais, míticos e críticos.

Imagem: Mara Tavares

“Seu Hélio”

No documentário “Seu Hélio”, de 38min22s, dirigido por Juca Badaró, podemos conhecer um pouquinho mais sobre a história e a poética desse artista que construiu na Amazônia, no seringal, seu ateliê mata adentro. É em meio à natureza, no cotidiano da floresta, que ele nos revela uma Amazônia mítica. Com temas telúricos e com seres fabulosos, nos encontramos com questões sociais, ambientais e humanas que ultrapassam a noção do território como uma ocupação do espaço e delimitação geográfica. Na poética de Hélio, sentimentos, experiências, memórias e vivências ancestrais confluem, criando um lugar – um território simbólico – significativo e potente que comunga com a realidade não só dos que vivem na região, mas de uma boa parte dos brasileiros.

Imagem: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.