A) Amazonas e Denilson Baniwa

Palavras-chave: Amazonas, povo Baniwa, performance.

Bora falar de arte?

Do Amapá para o Amazonas, percorrendo os caminhos dos povos originários através da arte. Na publicação passada, falamos um pouco dos trabalhos artísticos de Yermollay Caripoune (1976). Agora, no Bora desta semana, vamos comentar o trabalho de Denilson Baniwa (1984), artista que lança seu corpo pelo mundo.

O Amazonas é o maior estado do Brasil, com a maior área de floresta tropical preservada do mundo: a Floresta Amazônica. Localizado na região Norte e tendo Manaus como capital, apresenta um clima tropical úmido, com chuvas abundantes e uma biodiversidade extensa. Além disso, em seu território encontra-se a maior representatividade dos povos originários, somados às comunidades tradicionais.

Denilson Baniwa, nascido no Amazonas, Rio Negro, na aldeia de Dari, traz em seus trabalhos suas experiências de criança e suas lutas pelo povo indígena. O artista transita entre o mundo dos indígenas e dos não indígenas, construindo reflexões sobre essas diferentes formas de vida. Seus trabalhos apresentam as transformações, as fricções e as fissuras que esses dois universos criaram. Nesse sentido, suas obras denunciam os resultados desse encontro de mundos. Para expressar e transmitir seus pensamentos e sentimentos, o artista trabalha com diversos suportes: seu corpo, para as performances; telas, tecidos, paredes, para pinturas e projeções; e, nas gravuras, outras imagens com base em incisões e talhos. Das imagens do seu dia a dia, da sua realidade e da memória do seu povo, estrutura os fundamentos para seu processo artístico.

Sob a perspectiva do artista, esse movimento de construção de imagens e discursos aproxima do cotidiano urbano as narrativas visuais e orais desses povos. Ao apresentar outras formas de viver e mostrar diferentes realidades a partir de seus trabalhos, Baniwa insere um outro olhar na História da Arte. O corpo, a política e a ecologia, entre outros assuntos, são temas cada vez mais aprofundados dentro da arte contemporânea e são questões que o artista nos apresenta à reflexão.

Performance Pajé-Onça Hackeando

O gesto antropofágico de Baniwa ao realizar a performance Pajé-Onça Hackeando (2018) traz questionamentos profundos sobre nosso futuro. Na 33ª Bienal de Arte de São Paulo (2018), ele vem coberto com um manto de onça; entra em uma exposição etnográfica sobre o povo indígena Selk’nam e diante das imagens deixa flores como se realizasse um ritual. Podemos ver um povo originário que nos olha através das fotografias, transpassando o tempo da performance e instaurando um tempo anacrônico. Ao desfolhar um livro sobre a breve história da arte, o artista se mostra Baniwa/onça/homem/leitor dentre esses homens da cidade e nos propõe reflexões que estão para além da História da Arte. Com seu corpo, presentifica ações que denunciam os pensamentos, narrativas e imagens hegemônicas.

Imagem: Mara Tavares

Na próxima publicação, nosso convite continua em aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as redes sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.