A arte conceitual de Lucas Carvalho

Qual seria sua reação ao entrar em uma galeria de arte e se deparar com uma parede completamente branca, contendo três saboneteiras de parede cheias de tinta guache nas cores vermelho, azul e amarelo; e um dispensador de papel-toalha contendo uma bobina de lona para pintura?

Imagem 1: Vista de “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista
Imagem 2: “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista

Por que havia tinta no lugar de sabonete líquido? Qual seria a intenção do artista? Provavelmente ele estava desejando que refletíssemos sobre questões relacionadas à pintura, considerando as “pistas” deixadas na escolha do material “tinta” – que é a base da pintura – nas cores primárias, das quais derivam as outras cores, no suporte branco (parede) e também na lona preparada para pintura que saía do suporte de papel-toalha.

Exercitando essas percepções podemos notar a complexidade da arte conceitual, em que objetos (a princípio não artísticos e muitas vezes retirados do uso cotidiano) são ressignificados. A partir do momento em que esses objetos são retirados do seu uso comum e levados para o espaço expositivo da galeria de arte, o artista pode se apropriar deles para se expressar.

O professor e artista Lucas Carvalho, na exposição “Conversas”, realizada em 2012 na galeria da CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais (BH), trouxe esse trabalho denominado “Manual Pictórico” com o objetivo de provocar reflexões sobre o universo da pintura. Conforme CARVALHO (2012) em seu site: “Manual Pictórico coloca-se em oposição diametral ao que é tradicional do processo da pintura; nele, a tinta não está seca, está pronta para uso, fazendo-o apresentar-se não como o produto acabado, mas como uma base potencial para a atividade criativa, invertendo, assim, a raiz da hermeticidade da galeria. Se, quando um quadro fica pronto, ele costuma ser retirado da sujidade do ateliê e levado para um ambiente limpo, em “Manual Pictórico”, a instalação inicia a exposição asseada e, com o passar do tempo, ao uso que dela fizerem os interlocutores, vai crescendo para o espaço, tornando a própria galeria um ateliê coletivo para um mural de feitura ininterrupta, sob as muitas mãos dos visitantes participantes. Sendo a obra a pintura em síntese, resumida às cores e materiais primários, bem como um convite ao contato direto com a tinta, fica claro o trocadilho do título; O termo “Manual” tanto pode referir-se à qualidade da instalação apontar e se colocar como um fundamento básico, uma guia para a atividade da pintura, quanto ao caráter tátil, imprescindível para sua contemplação adequada.”

Por certo, em cada lugar em que o “Manual Pictórico” for exposto, o resultado da imagem ao final da exposição será sempre diferente, pois esse dependerá de quem estiver passando por ali e aceitar o convite do artista para ser coparticipante de seu trabalho. No caso da já mencionada exposição, o resultado da interação física entre os objetos artísticos e as pessoas foi o registrado pelo artista nas fotografias a seguir:

Imagem 3: “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista
Imagem 4: “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista
Imagem 5: “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista
 
Imagem 6: “Manual Pictórico” na exposição “Conversas”, Fundação Clóvis Salgado (CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – BH), 2012. Fonte: site do artista

Quais reflexões esse trabalho foi capaz de instigar em você?

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Referências:

CARVALHO, Lucas. “Manual Pictórico”, 2012. Lucas Carvalho, 2012. Disponível em: <https://doisde.wixsite.com/lucas-carvalho/home>. Acesso em: 07 out. 2022.
Arte Ref. “Arte Conceitual: todos falam, mas qual o seu real significado?”, 2022. Disponível em: <https://arteref.com/movimentos/arte-conceitual-todos-falam-mas-qual-o-seu-real-significado/>. Acesso em: 23 ago. 2022.

Sobre a autora:

Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais e Tecnologias Contemporâneas, mestranda em Arte, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.