A arte popular como patrimônio cultural imaterial

Em 17 de agosto comemoramos o Dia Nacional do Patrimônio Cultural. Pensando nisso, o Criarte desta semana vai abordar o artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha, que foi caracterizado em 2018 como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Minas Gerais, resultando no reconhecimento de todos os saberes e expressões que envolvem os processos de criação de artesãs e artesãos que trabalham com barro nessa região. Isso aconteceu depois de uma pesquisa, que durou cerca de um ano, e incluiu o mapeamento e pesquisas de campo nas comunidades produtoras, além do recebimento do cadastro de 122 artesãos de 21 municípios do Vale do Jequitinhonha.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), os bens culturais do patrimônio imaterial são as práticas e domínios da vida social manifestados em saberes, ofícios e modos de fazer, expressões, conhecimentos e técnicas, como as celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais e lúdicas. Assim como os lugares culturais que lhes são associados, como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas.

A cerâmica é o resultado da queima/cozimento do barro (argila), que depois de passar por alguns processos é levado ao forno e submetido à alta temperatura. Existem várias técnicas para fazer a queima, podendo produzir efeitos diversos.

Os trabalhos produzidos a partir do barro na região do Vale do Jequitinhonha têm um processo todo artesanal, feito a mão, desde a extração e preparação do barro, construção dos fornos de queima, até a modelagem, acabamento, fabricação dos pigmentos e pintura das peças, um fazer que vem da tradição de um povo e do contato com a natureza. Os pigmentos utilizados nas peças produzidas são da própria região e extraídos do barro ou de vegetais, apresentando características diferentes de acordo com cada localidade do Vale.

Esse artesanato em barro produzido na região do Vale do Jequitinhonha é uma importante referência cultural para o estado de Minas Gerais. Um ofício que é transmitido aos mais jovens a partir do aprendizado de todos os conhecimentos para a criação de peças variadas, que vão desde utilitários, como panelas e moringas (recipientes usados para colocar água), até peças que se revelam grandes expressões artísticas, baseadas em cenas do cotidiano e em crenças regionais.

A cerâmica produzida nessa região tem como característica a grande variedade de tons devido à diversidade da composição mineral do solo. Isso influencia não só a cor do barro, mas também a cor das tintas utilizadas na pintura e no acabamento das peças, que são fruto da experimentação de pigmentos e da criatividade das artesãs e dos artesãos. Esse artesanato se constitui como um patrimônio cultural imaterial, pois mantém suas características, seus modos de fazer, possibilitando uma identidade cultural e a continuidade do fazer nas comunidades em que são produzidas, refletindo suas tradições e crenças.

Em 2018, a PQNA Galeria Pedro Moraleida do Palácio das Artes recebeu a exposição “Arte Popular Brasileira”, que reuniu vinte e sete obras em madeira e cerâmica, produzidas por artistas de Minas Gerais, Ceará, Alagoas, Sergipe, Rio de Janeiro e Paraná.

Uma das artistas participantes era Placidina Fernandes do Nascimento. Natural da cidade de Joaíma, no Vale do Jequitinhonha, ela se dedicou durante um tempo à cerâmica utilitária, produzindo potes. Posteriormente passou a produzir obras carregadas de expressividade chamadas de “cabeças de milagres”.

Sem título, artesanato em barro, Placidina Fernandes do Nascimento.
Exposição “Arte Popular Brasileira”, Palácio das Artes, 2018. Foto: Paulo Lacerda.

Outro artista do Vale do Jequitinhonha com obras na mostra era Ulisses Pereira Chaves, conhecido como Sr. Ulisses. Ele trabalhava produzindo obras em cerâmica, fruto de ensinamentos de gerações anteriores e que hoje são continuadas por meio de seus filhos e netos.

Sem título, artesanato em barro, Ulisses Pereira Chaves (Sr. Ulisses).
Exposição “Arte Popular Brasileira”, Palácio das Artes, 2018. Foto: Paulo Lacerda.

Observe as imagens a seguir.

Estas são obras das artesãs Margarida Pereira e Rosana Pereira, filha e neta de Ulisses Pereira Chaves.

Peça de Margarida Pereira, Santo Antônio, Caraí. Fonte: Acervo Iepha/MG.
Peças de Rosana Pereira, Santo Antônio, Caraí. Fonte: Acervo Iepha/MG.

O que você acha desse fazer ser repassado às artesãs e aos artesãos mais jovens? Você conhece outros bens culturais de natureza imaterial que também merecem ser reconhecidos como patrimônio?

Compartilhe com a gente suas percepções sobre o artesanato em barro das artesãs e dos artesãos do Vale do Jequitinhonha, seus processos de criação e o reconhecimento desse ofício como patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais! Use as hashtags #educativofcs, #criarte e também @fcs.palaciodasartes no Instagram.

Referências:

Conep reconhece o artesanato em barro do Jequitinhonha como patrimônio de MG. Disponível em: ˂http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/noticias-menu/375-conep-reconhece-o-artesanato-em-barro-do-jequitinhonha-como-patrimonio-imaterial-de-minas-gerais˃. Acesso em: Jul. 2021.

Dossiê de Registro do Artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha. Disponível em: ˂http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/component/phocadownload/category/31-artesanato-em-barro-do-vale-do-jequitinhonha˃.  Acesso em: Jul. 2021.

Exposição Arte Popular Brasileira, 2018. Disponível em: ˂https://fcs.mg.gov.br/eventos/arte-popular-brasileira/˃. Acesso em: Jul. 2021.

Exposição Arte Popular Brasileira, 2018. Disponível em: ˂https://www.appa.art.br/2018/11/08/exposicao-arte-popular-brasileira/˃. Acesso em: Jul. 2021.

Portal IEPHA. Disponível em: ˂http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-registrados/details/2/8/bens-registrados-artesanato-em-barro-do-vale-do-jequitinhonha-saberes,-of%C3%ADcio-e-express%C3%B5es-art%C3%ADsticas˃. Acesso em: Jul. 2021

Portal IPHAN. Disponível em: ˂https://www.gov.br/iphan/pt-br˃. Acesso em: Jul. 2021.

Sobre o autor:

Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.