Arthur Bispo do Rosário, esse é o nome do primeiro artista do nosso inventário de nomes. “A” é a primeira letra do seu nome, e, sincronicamente, nesta nova etapa do “Bora falar de arte?” os textos serão permeados pela prática desse artista: inventariar o mundo – nomes, objetos, pessoas.
Palavras-chave: bordados, inventários e Arthur Bispo do Rosário.
Nossa lista alfabética agora é de nomes de artistas:
Bora falar de arte?
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Na postagem anterior, conversamos sobre o abecedário, suas distintas formas e suas possibilidades de uso. Lembramos de objetos e artistas que passaram por aqui, criamos uma lista deles, além de um jogo da memória para brincar e relembrar. Se você quiser, pode ler aqui.
Arthur Bispo do Rosário
Bispo do Rosário nasce em 1909, no estado de Sergipe. Em 1926, vai viver no Rio de Janeiro, integrando a Marinha de Guerra. Lá conhece o boxe e se dedica ao esporte até 1936, quando tem sua prática interrompida por um acidente.
Em 22 de dezembro de 1938, Bispo tem uma revelação: por mensagem de anjos azuis, recebe a incumbência de reconstruir as coisas do mundo. Em uma de suas obras, borda a frase “22 – 12 – 1938: eu vim”, referindo-se a essa noite.
Compreendido como louco após esse episódio, Bispo foi levado à Colônia Juliano Moreira, local em que os pacientes psiquiátricos eram tratados. Lá, viveu até sua morte, em 1989. Durante a internação, desenvolveu toda a sua obra, que, para ele, era uma missão a ser cumprida e apresentada no dia do juízo final. Foram mais de cinquenta anos vivendo na Colônia e mais de oitocentos objetos criados por ele.
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As coisas do mundo
A missão desempenhada por Bispo era inventariar as coisas do mundo de diferentes formas. Uma delas era guardar objetos e dispor por categorias em painéis verticais: canecas, sapatos, coador de café, garrafas, colheres, escovas e tudo mais que pudesse dizer do cotidiano na terra. Outra era criar miniaturas de coisas maiores: cadeiras, carros, regadores, moinhos de cana, barcos, muitos barcos e outros.
O bordado foi muito usado para criar esse mundo. A cor azul de suas linhas, predominante em seu trabalho, vinha de uniformes e lençóis disponibilizados na Colônia, os quais eram desfiados, transformando-se em fios que eram usados com a agulha de bordar. Os temas retratados eram impregnados da vivência de Bispo, do seu entorno e do que lia nas revistas que ganhava. Muitas listas foram feitas a partir do bordado, contendo nomes de coisas e pessoas. Também foram criadas placas de ruas e uma série de faixas de miss.
Para Bispo, a dimensão do seu trabalho sempre foi espiritual, uma preparação para a chegada ao céu. Seu trabalho mais conhecido, Manto da Apresentação (s/data), é visto como uma síntese de sua obra, sendo essa a indumentária que ele gostaria de ter usado em sua partida. No manto, a parte externa contém textos e imagens de seu universo, já a parte interna traz o nome de pessoas queridas.
Mesmo Bispo do Rosário não se entendendo como um artista, sua obra deixou um legado para a arte contemporânea. Muitos artistas passaram a produzir a partir de práticas e métodos vividos por ele. O bordado como linguagem, a coleção de objetos, a compreensão de uma produção que envolve arte e vida, o uso de materiais precários e cotidianos, dentre outros.
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Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea
Em 2000, o museu criado no fim dos anos 1980, na Colônia Juliano Moreira, recebe o nome de Bispo do Rosário. Esse espaço é hoje um centro de referência em pesquisa e conservação da obra de Bispo, além de abrigar exposições temporárias que se relacionam à sua obra e outras atividades.
Saiba mais acessando o site do museu.
Veja também Dicionário dos Nomes, reflexão e atividade propostas pelo site. Ele vai ao encontro da temática do “Bora falar de arte?”, que brinca com o alfabeto, com as catalogações, com a arte e com os objetos, construindo, assim, um abecedário de artistas, como Arthur Bispo do Rosário fez ao bordar nomes de pessoas conhecidas em seus mantos.
– Bora?
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Na próxima publicação, o nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!
Sobre as autoras:
Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.
Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.