A linguagem da performance na produção artística de Marco Paulo Rolla

A performance tem sua origem em movimentos do início do século XX – como o Dadaísmo e o Surrealismo – em que os artistas utilizavam o corpo para fazer provocações sobre problemáticas diversas, questionando até mesmo a própria arte. A performance também tem ligação com o happening, uma forma de expressão artística na qual se encontram características das artes visuais e do teatro, tendo sido muito frequente na década de 1960, dentro do contexto da contracultura e do movimento Hippie. Segundo Cohen (2013), a performance é antes de tudo uma expressão cênica que acontece em função do espaço e do tempo, sendo que para caracterizá-la é necessário que alguma ação esteja acontecendo em determinado local, e onde se procura uma aproximação direta com a vida. Ela também pode ser considerada uma linguagem híbrida, pois pode envolver várias técnicas artísticas. Sobre isso, Cohen diz: “[…] é importante discutir-se a questão da hibridez desta linguagem: para muitos, a performance pertenceria muito mais à família das artes plásticas, caracterizando-se por ser a evolução dinâmico-espacial dessa arte estática.” (COHEN, 2013, p. 29).

Hoje vamos conhecer o artista Marco Paulo Rolla, que desenvolve sua produção artística com linguagens diversas, em que também se destacam suas criações no campo da performance.

Natural de São Domingos do Prata (MG), Marco Paulo Rolla formou-se em 1990 na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e possui mestrado pela mesma instituição. É um artista que trabalha com muitas linguagens, desenho, pintura, cerâmica, vídeo, fotografia e performance, transitando também pela música e pelo teatro. Fez residência na Rijksakademie van Beeldende Kunsten, em Amsterdã (Holanda), de 1998 a 1999, onde realizou algumas performances. É fundador e coordenador do Centro de Experimentação e Informação de Arte (Ceia). Possui uma vasta produção artística e já realizou exposições individuais no Brasil e no exterior, além de diversas exposições coletivas. Atualmente vive e trabalha em Belo Horizonte (MG) e é professor da Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

O artista diz que o principal tema de seu trabalho é o ser humano em toda a sua complexidade. “Faço um trabalho que tenta refletir o que vivo. Multidisciplinar, mas com um ponto comum que sou eu, como ser humano, considerando que todas as minhas ansiedades e todos os meus desejos estão sendo também sentidos por todos os seres desta época” (ROLLA, 2006, p. 14). Seus trabalhos lidam com imagens e questões do dia a dia. Uma de suas performances, “Café da manhã”, de 2001, apresenta uma cena aparentemente muito simples, mas que pode trazer reflexões sobre os acontecimentos que “alteram a realidade”, refletindo sobre as nossas fragilidades e sobre os acontecimentos que transformam a vida (ROLLA, 2012). O processo criativo de um artista perpassa diversos estímulos e estudos, imagens do cotidiano, memórias e vivências. Sobre a performance “Café da manhã”, o artista fala de uma memória dos seus sete anos de idade: “A construção de uma performance foi estimulada pela memória de uma representação teatral de que participei no grupo escolar; figurava um ‘café da manhã’. O menino guloso, título da cena, foi apresentado para todos os alunos, no pátio, antes do início das aulas. O meu papel era apenas o de ser comportado e exemplar à mesa, tomando o café da manhã e compondo a inusitada visão[…]” (ROLLA, 2006, p. 14).

Outra performance muito interessante do artista é “Confortável” de 1998. Neste trabalho nos deparamos com uma cena que apresenta um conforto irreal. Observando a cena, logo percebemos um desconforto do corpo que está suspenso, transmitindo uma “falsa sensação de conforto”, desafiando o olhar para um corpo que se equilibra.

Observe as imagens a seguir.

A princípio são imagens do nosso cotidiano, situações comuns para muitos de nós. Mas como essas performances podem nos levar a pensar sobre a vida e sobre como vivemos?

Figura 1: “Café da Manhã”, Marco Paulo Rolla, performance (registro), 2001.
Fonte: site do artista
Figura 2: “Café da Manhã”, Marco Paulo Rolla, performance (registro), 2001.
Fonte: site do artista
Figura 3: “Confortável”, Marco Paulo Rolla, performance (registro), 2001.
Fonte: site do artista
Figura 4: “Confortável”, Marco Paulo Rolla, instalação e performance, 1998.
Fonte: site do artista

A linguagem da performance nos permite ver a vida inserida na arte. O corpo que performa poderia ser o corpo de qualquer um de nós, lugar onde metáforas de tempo e espaço são carregadas de signos e conceitos. Confrontando a cena, o corpo que presencia a ação pode se colocar em reflexão sobre o que nos rodeia. Marco Paulo Rolla trabalha com uma multiplicidade de linguagens e ­– sendo professor – sempre encontra novas formas de criar. Sobre a criação e o ensino da performance, o artista nos diz: “Estou descobrindo maneiras de passar esse conhecimento, o sentido do ritual, a imagem que emana do corpo presente. A performance é onde encontro todas as mídias que trabalho. Ela me permite um confronto com a pessoa dos indivíduos envolvidos num laboratório psicofísico” (ROLLA, 2012).

Curiosidade:

Em 2018, o artista realizou a exposição “Ópera” na Galeria Mari’Stella Tristão do Palácio das Artes, dentro do programa ArteMinas. O título da exposição fazia referência à diversidade de linguagens apresentadas na mostra. Em muitos dos trabalhos da exposição o corpo ganha destaque, aparecendo em desenhos, vídeos, pinturas e performances, ressaltando a produção do artista da década de 1980 até a atualidade. Integrando a programação do ArteMinas, Marco Paulo Rolla e a bailarina Dudude Herrmann apresentaram a performance “Tanque: uma ópera molhada”, de 2003. A performance tinha duração de 40 minutos e apresentava um homem e uma mulher, cada um em seu “apartamento” e sem se comunicar, vivendo suas próprias realidades em meio as ações de lavar roupa, de assistir televisão e de cantar ópera, propondo reflexões sobre ações do cotidiano comum e ao mesmo tempo causando estranhamentos sobre a realidade.

Figura 5: “Tanque: uma ópera molhada”, Marco Paulo Rolla e Dudude Herrmann. Instalação composta por dois tanques de acrílico, um de frente para o outro, e equipados de motor próprio para bombear a água pela torneira, dois televisores, doze baldes e oitenta litros de água distribuídos nos tanques e nos baldes, 2003. Créditos da foto: Guto Muniz. Fonte: site FCS

Compartilhe com a gente suas percepções sobre a linguagem da performance na produção artística de Marco Paulo Rolla. Publique em suas redes sociais usando as hashtags #educativofcs, #criarte e também @fcs.palaciodasartes no Instagram.

Referências:

ARTEMINAS 2018 | Marco Paulo Rolla e Dudude apresentam a performance Tanque: uma ópera molhada. Disponível em: <https://fcs.mg.gov.br/eventos/arteminas-2018-marco-paulo-rolla-e-dudude-apresentam-a-performance-tanque-uma-opera-molhada/>. Acesso em: 27 jun. 2022.

COHEN, Renato. Performance como Linguagem. Criação de um tempo-espaço de experimentação. São Paulo: Perspectiva. 3ª ed, 2013.

Marco Paulo Rolla – “Ópera” [AGENDA]. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X1hvJpCfxaw>. Acesso em: 16 jun. 2022.

MARCO Paulo Rolla. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10196/marco-paulo-rolla>. Acesso em: 14 jun. 2022. Verbete da Enciclopédia.

ROLLA, Marco Paulo Ribeiro. O corpo e o material: uma reflexão social do desejo na vida, através da arte. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, 2006.

ROLLA, Marco Paulo. Vertigem/Vertigo; organização Marco Paulo Rolla; Cristina Tejo, Marcos Hill (Colab.); Regina Alfarano (Trad.). – Belo Horizonte: Centro de Experimentação e Informação de Arte, 2012.

Site do artista. Disponível em: <http://www.marcopaulorolla.com/>. Acesso em: 7 jun. 2022.

Sobre o autor:

Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.