ACERVO VIRTUAL FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO: Do vermelho ao azul

“Do vermelho ao azul” é um breve recorte do Acervo da Fundação Clóvis Salgado, cuja curadoria se ancora nas tonalidades predominantes da obra que inaugura e da obra que encerra o conjunto das seis peças selecionadas. A escolha desse título, por si só, já evoca uma sensação cromática e torna-se ponto de partida para diálogos mais amplos sobre a dualidade, a tensão e a harmonia que podem existir entre opostos ou elementos contrastantes.

No texto Cor e Abstração, o crítico de arte Frederico Morais (1936-) aponta: “A cor em sua autonomia tem uma densidade própria, é um fato em si mesma”. Para subsidiar essa afirmação, podemos relacioná-la com o movimento Neoconcreto, no qual a liberação da cor de seus vínculos figurativos não impedia que os artistas e público relacionassem as obras a sentimentos e sensações. Pelo contrário, por meio das cores, extraíam uma visão lírica, trágica ou lúdica da vida.

A curadoria, que se inicia com a predominância da cor vermelha na obra de Ana Amélia Diniz, segue com o mesmo domínio cromático na pintura de Fernando Velloso. No meio do percurso aqui estabelecido, deparamo-nos com a escultura de Helena Netto e a gravura de Fayga Ostrower – ambas as obras sugerem o encontro de opostos. Na escultura intitulada Masculino/Feminino, o encaixe de diferentes tonalidades do aço utilizado, aliado ao título, indica união. Já na gravura “Sem título”, o encontro do mar com o céu explora a gradação entre as cores sugeridas pela curadoria.

Azul é o título da foto em preto e branco de Evandro Machado. Apesar da cor azul estar camuflada, a escolha do título intenciona provocar sua percepção, como se a cor invadisse sutilmente o jogo de luz e sombra capturado na fotografia. Essa mesma cor, que contrasta com o calor presente nas primeiras obras, expande sua serenidade na cerâmica do artista Benedikt Wiertz e encerra esse conjunto elaborado pela Gerência de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado. Assim, a curadoria percorre uma trajetória cromática que vai do vermelho intenso ao silêncio do azul, revelando diálogos sensíveis entre forma, cor e conceito.

Nas obras aqui expostas, para além da cor, outros elementos fundamentais para a reflexão e a produção em artes visuais são apresentados: linha, textura, sombra, luz, espaço, gesto e volume. Assim, este recorte do acervo se apresenta como um importante instrumento histórico e educacional, capaz de estimular o olhar, promover a sensibilidade estética e ampliar o entendimento sobre os diversos caminhos da criação artística.

Ian Gavião (Produtor) – Gerência de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado

 
Sem título
Ana Amélia Diniz Camargos
Objeto – tinta automotiva sobre metal
50 cm de diâmetro

Ana Amélia Diniz Camargos nasceu em 1929, na cidade de Presidente Juscelino, no interior de Minas Gerais. Mudou-se para Belo Horizonte em 1950 e estudou Artes Plásticas na Escola Guignard. Teve como mestres e professores Amilcar de Castro, Solange Botelho, Sara Ávila, Eymard Brandão e Lisete Meinberg. Fez curso de cerâmica com Peter Soldner, em New Jersey (EUA), e atuou como professora de pintura e cerâmica na Escola Guignard. Desenvolveu atividades como voluntária junto a comunidades carentes nas periferias da Grande BH. Em sua trajetória, Ana Amélia realizou diversas exposições individuais e coletivas em todo o Brasil, sendo vencedora de vários prêmios, entre eles o do XII Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, no Museu da Pampulha (1980), e o do Salão Nello Nuno, em Viçosa (1978).

Sem título
Fernando Velloso
Pintura – Acrílica sobre eucatex
Dimensão: 80 x 80 cm
1985

Fernando Velloso nasceu em 1930, na cidade de Curitiba, Paraná. Pintor, gravador, museólogo e crítico de arte, formou-se pela Escola de Arquitetura da UFMG. Realizou exposições no Brasil e no exterior. Atuou no Grupo Corpo como iluminador no balé “Maria Maria” e como cenógrafo em diversas montagens do coreógrafo Rodrigo Pederneiras. O conjunto da obra do artista é hoje reconhecido como importante acervo da arte nacional.

Sem título
Fayga Ostrower
Gravura – Litografia
Dimensão: 60 x 40 cm
1981

Fayga Ostrower, nascida em 1920 na cidade de Lodz, Polônia, chegou ao Rio de Janeiro em 1934, onde estudou Artes Gráficas na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, teórica da arte e professora, Fayga foi para Nova Iorque em 1955 com uma bolsa de estudos da Fulbright. Realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, recebendo inúmeros prêmios, entre eles o Grande Prêmio Nacional de Gravura da Bienal de São Paulo (1957) e o Grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza (1958); nos anos seguintes, também foi premiada nas bienais de Florença, Buenos Aires, México, Venezuela, entre outras. Entre 1954 e 1970, desenvolveu atividades docentes na disciplina de Composição e Análise Crítica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Na década de 1960, lecionou no Spelman College, em Atlanta (EUA); na Slade School, da Universidade de Londres (Inglaterra); e, posteriormente, foi professora de pós-graduação em diversas universidades brasileiras. A artista faleceu no Rio de Janeiro, em 2001.

Masculino/Feminino
Helena Netto
Masculino/Feminino
Escultura em Aço
Dimensão: 28 x 28 x 6 cm (duas partes)
1987

Helena Netto nasceu em Bom Jesus, foi criada em Montes Claros e, na década de 1970, mudou-se para Belo Horizonte. Formada em Artes Plásticas pela Escola Guignard, completou seus estudos sob orientação de Amilcar de Castro, no Núcleo Experimental de Artes Visuais. Foi uma artista que, com desenvoltura e habilidade, transitou por diversas linguagens: pinturas, desenhos, gravuras, arte aplicada e, especialmente, esculturas e objetos. Sua obra revela uma pesquisa metódica dos múltiplos caminhos da abstração geométrica. “Helena Netto”, escreveu a crítica Mari’Stella Tristão, “esteve aliada à inquietude, que não lhe permite nem sequer um hiato em sua fértil produção. Helena já experimentou, com plenos resultados, todos os materiais capazes de transformar em obras de arte, desde as mais simples e pequenas formas até as monumentais.” Faleceu em 2014, na cidade de Belo Horizonte.

Azul
Evandro Machado Fiuza
Foto P&B s/papel

Evandro Machado nasceu em Brasília, no ano de 1962. Ainda criança, mudou-se para Belo Horizonte, em 1968. Evandro Machado Fiuza formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1986, e atua como fotógrafo desde 1988. Publicou diversos livros de literatura e fotografia ao longo de sua carreira.

Sem título
Benedikt Wiertz
Cerâmica – raku e pigmentos
Dimensão: 80 x 90 cm
1998

Benedikt Wiertz é natural de Bonn (1955), Alemanha. Artista plástico, ceramista e professor, possui ateliê na região da Serra da Moeda, no município de Brumadinho, MG. Suas atividades englobam o ensino, a produção e a pesquisa no campo das artes visuais. Desenvolve experimentações em cerâmica a partir da forma, texturas e esmaltes, desconstruindo o paradigma da funcionalidade, além de inserir o material cerâmico em outras linguagens artísticas, como performances e instalações. Iniciou formação autodidata em artes na Alemanha, em 1979. A partir de 1995, passou a residir em Belo Horizonte, Brasil, onde continua sua produção artística. Atuou como professor de cerâmica na Escola Guignard – Universidade do Estado de Minas Gerais, entre os anos de 1998 e 2015. Foi diretor da Escola Guignard de 2008 a 2012. Em 2014, foi professor visitante na Akademie der Bildenden Künste, em Munique, Alemanha.

A exposição virtual fará parte do programa permanente no site do Palácio das Artes.

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