Anarquia dada: o movimento dadaísta do século XX

O dadaísmo, movimento nascido em 1916 em Zurique, na Suíça, foi um impulsionador de tudo que vemos como arte no circuito cultural ocidental até hoje. Os artistas e os intelectuais que debatiam sobre artes e cultura no famoso Cabaré Voltaire, casa de espetáculos variados, criaram uma linguagem provocativa e repleta de insinuações contra tudo e contra todos. Era a antiarte e a negação sistêmica às normas.

Os dadaístas negavam as artes, as tradições, os dogmas e as crenças, a sociedade e seus parâmetros no contexto de uma Europa que vivia um período de estados-nações hostis em meio a Primeira Guerra. Os artistas se exilaram em Zurique para fugirem da convocação para atuar nas frentes de batalha e estavam decepcionados com a decadência moral, intelectual, política e ideológica europeia naquele momento.

O movimento era artístico, literário, filosófico, político, musical. Em suas criações, os artistas faziam uma junção de linguagens que se fundiam em apresentações irônicas e burlescas que misturavam poema, performance, dança, música em uma sinfonia do caos – reflexo daquele tempo onde tudo estava fora de ordem. Esse tipo de manifestação artística ficou conhecido como poemas sonoros. Declamados em meio a entonações diversificadas, ruídos e movimentos causados pelos artistas e pelos dançarinos, criava-se uma dissonância que se assemelhava ao barulhento som das trincheiras. Não era possível manter o universo cultural estável quando os horrores da guerra gritavam nos ouvidos de todo o mundo. A arte precisava se posicionar!

Os manifestos dadaístas demonstravam o ideal de subversão e anarquia, de completa negação e loucura. Dada era um grito contra a escandalosa hipocrisia europeia e sua legitimação a uma guerra com fins lucrativos. 

No que se refere às características plásticas dadaístas, temos na colagem e na fotomontagem, técnicas “queridinhas” dos artistas. Os objetos artísticos eram os cartazes, os tapumes, os folhetos e as revistas, além dos ready-mades (objetos industriais deslocados de suas funções e adaptados como obras de arte).

Incisão com a faca de cozinha dada através da barriga de cerveja da última época cultural Weimar alemã, Hannah Höch,1920.

O dadaísmo deixou um legado para os movimentos de arte do século XXI com suas técnicas de justaposição de elementos nas composições, suas colagens com narrativas rebeldes e com a introdução de objetos industrialmente produzidos e interpretados pelos artistas no campo das ideias. Essa nova configuração que nascia com o movimento abriu caminhos para as variadas linguagens estéticas que se aprofundaram em experimentações de materiais, temáticas e discursos.

Esse era o espírito dada, decepcionado com a falência da civilização daquele período e que zombava da cultura que o Ocidente tanto se orgulhava.

Referência:

ELGER, Dietmar. “Dadaísmo”. Tashen, 2004.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora da Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.