Arte para quem? A democratização na arte e o Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça

Desde os adventos da Pop Art americana que o cenário cultural ocidental vem tentando, nem que seja em seus ideais, uma democratização da arte em nome de um rompimento com sua histórica elitização. É bem verdade que esse ideal não alcança todos os objetivos, uma vez que, em grande parte, a produção contemporânea é complexa, repleta de muitas referências e subjetividades que levam algumas pessoas a rejeitarem seus objetos por não compreendê-los em um primeiro contato com eles.

Pode-se dizer que a arte contemporânea se manifesta em objetos e/ou ações e que muitas dessas ações se transformam a cada contato entre o espectador e a obra, trazendo interpretações múltiplas e vozes dissonantes. Se isso pode parecer um complicador em alguma medida, é também a concretização de uma democrática relação entre artista, obra e público, livre de uma narrativa engessada e com sentido comum.

Acompanhando esse cenário multifacetado, multimidiático, pluralista e interdisciplinar, o Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça, lançado no ano de 2004 com o propósito de incentivar a arte contemporânea brasileira e a inovação, vem apresentando ao público de Belo Horizonte, em suas itinerâncias, artistas contemporâneos de todo o país em exposições nas galerias do Palácio das Artes. Este ano, a itinerância traz a 7ª edição do Prêmio, que contemplou cinco artistas com linguagens variadas em seus trabalhos e que se expressaram por meio de pinturas, fotografias, vídeos e interferências.

O Prêmio é um bom exemplo da diversidade enquanto característica da arte contemporânea. Ela está presente tanto em sua materialidade quanto em sua essência artística, nos próprios artistas e em suas propostas. O Palácio das Artes vem trabalhando para uma retomada de suas atividades presenciais de forma gradativa e consciente, seguindo protocolos de segurança e cuidados com a saúde para voltar a receber o público em seus espaços.

A fruição estética diante de uma obra de arte é, sem dúvida, mais envolvente e intensa do que em suas reproduções fotográficas e digitais, e nela se faz, cada vez mais, necessária a participação de um projeto educativo composto por mediadores que fazem a ponte entre o espectador e a obra, com provocações, diálogo e escuta, em uma troca constante que ativa reflexões e interpretações e que enriquecem as artes como um campo vasto de conhecimento. Por meio de uma obra de arte é possível estabelecer contato com a história da humanidade, refletir sobre questões políticas, psicológicas, sociais, antropológicas, entre tantas outras, ativando a memória, os sentimentos e as sensações.

Sem dúvida a exposição do Prêmio Indústria Nacional Marcantonio Vilaça é um bom caminho para conversar, para trocar saberes e experiências com produções contemporâneas que permeiam a constante relação da arte com a vida.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.