Arte que se mistura ao mundo

Ultimamente temos visto questões ambientais em pauta, principalmente por causa das queimadas na Amazônia e das discussões políticas e territoriais que as envolvem. Nesse sentido, um estilo artístico que coloca em questão essas temáticas do meio ambiente é a land art, movimento surgido nos finais dos anos 1960, seguido da onda da arte conceitual, que prioriza ideias em detrimento do objeto artístico e problematiza a função da arte e os espaços institucionalizados de galerias e museus.

Artistas da land art ocupam a natureza e cenários urbanos com suas intervenções artísticas, que ressignificam o olhar do espectador sobre os espaços. Para seus trabalhos, os artistas utilizam matéria-prima industrial, como acrílico, vidro, plástico, metal, entre outros, para “pintar” a arquitetura e as ruas de cidades, bem como matéria-prima advinda da natureza, como madeira, terra, pedras ou plantas, modificando as paisagens naturais.

Spiral Jetty, Robert Smithson, 1970.

Em 1970, Robert Smithson realizou sua Spiral Jetty no lago Utah, nos Estados Unidos. A espiral de mais de 400 metros foi desenhada na água com terra e pedras, contando com equipamentos de construção. Efêmera por excelência, já que desaparece ao ser submersa pelas águas do lago, a obra pôde ser vista novamente no ano 2000, devido ao período de seca na região. Obras de arte que se configuram transitórias costumam ser documentadas e registradas em vídeos e fotos. Essa concepção de arte, que é característica de muitos movimentos da arte contemporânea, mostra-se potente na land art, uma vez que as obras deixam de existir naturalmente e são vistas ao vivo por poucos espectadores ou por nenhum deles.

Wrapped Reichstag, Christo e Jeanne-Claude, 1995.

Os artistas Christo e Jeanne-Claude, em 1995, empacotaram – literalmente –, com um enorme tecido, o Palácio do Reichstag, sede do parlamento alemão. Ao apresentar o grande embrulho às pessoas, a dupla de artistas entregou uma arte para todos, já que, em espaço público, pôde ser apreciada sem ser propriedade de ninguém. Tal como uma obra que se dilui pelas próprias movimentações da natureza, essa interferência de Christo e Jeanne-Claude é também um exemplo de arte efêmera, uma vez que modificou o local de forma temporária e o que sobreviveu da experimentação foram os seus registros.

As interferências dos artistas que trabalham com noções da land art costumam ser realizadas coletivamente, com envolvimento dos artistas-projetistas e de muitas pessoas. Para isso, o uso de tratores, andaimes, ferramentas de escavação e valores consideráveis para “bancar” os projetos, financiados pela iniciativa privada ou pelo governo, são ferramentas necessárias para as criações artísticas.

Sendo assim, a land art visa refletir sobre as relações homem-mundo, o meio ambiente e o homem, a dominação inconsequente do homem sobre a natureza e, claro, encantar com suas obras belíssimas e monumentais, criando uma fusão amigável entre a criatividade humana e a vida que pulsa na Terra.

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Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.