A partir dos anos de 1960, a arte contemporânea apresenta novas linguagens e formas de criar. Na arte conceitual os artistas tratam a produção artística a partir de uma ideia, um conceito, onde a construção de um objeto, de uma escultura, de uma pintura, não é o mais importante. O artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) e o alemão Joseph Heinrich Beuys (1921-1986) já tratavam dessa questão em suas obras. Os trabalhos da arte conceitual não se resumem à criação de objetos artísticos, mas também incorporam elementos do cotidiano como, por exemplo, conteúdos políticos que propõem ao espectador reflexões acerca dos acontecimentos do dia a dia. Segundo Archer (2001): “Na arte conceitual a ideia ou o conceito é o aspecto mais importante da obra. Quando um artista utiliza uma forma conceitual de arte, isto significa que todo o planejamento e as decisões são feitas de antemão, e a execução é uma questão de procedimento rotineiro. A ideia se torna uma máquina que faz a arte”.
Um artista muito representativo na arte conceitual no Brasil é Cildo Meireles. Nascido no Rio de Janeiro, em 1948, ele inicia seus estudos em artes em 1963, sendo influenciado pela arte neoconcreta – que propunha novas formas expressivas na arte brasileira – e começa a trabalhar com diversas linguagens, como o desenho e a pintura, sendo que na década de 1970 desenvolve trabalhos com temáticas políticas, sociais e econômicas. Alguns de seus trabalhos nessa linha são: “Inserções em Circuitos Ideológicos: projeto Coca-Cola” (1970) e projeto “Cédula” (1970). No primeiro, a ideia era gravar em garrafas retornáveis de refrigerante frases com opiniões, informações e críticas. Interessante notar que as mensagens eram inseridas em garrafas vazias, mas essas só eram mais bem visualizadas com as garrafas cheias, depois de retornarem ao mercado. No projeto “Cédula”, Cildo usou um carimbo para inserir as mensagens em cédulas de dinheiro e depois as devolveu à circulação. As mensagens continham várias frases como “Quem matou Herzog?”, que fazia referência ao jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), preso e morto durante a ditadura militar.
Em 2015, obras do artista foram exibidas na exposição “Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim”, no Palácio das Artes e no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, atual CâmeraSete. Essa mostra marcou a primeira vez que o acervo do Instituto Inhotim saiu de sua sede na cidade de Brumadinho/MG para uma Itinerância. Foram exibidas mais de 50 obras de diversos artistas datadas de 1950 até os dias atuais. Sobre as obras do artista nessa exposição, o curador Jochen Volz (2015) disse o seguinte: “As obras de Cildo Meireles já foram descritas como ‘objetos filosóficos’ ou ‘pensamentos materiais’, apontando para sua forte ligação com diversas abordagens da arte conceitual. É da unidade entre conceito e objeto, entre espírito e matéria, que a arte de Meireles deriva sua força”.
Cildo Meireles possui uma grande produção abrangendo objetos, esculturas e instalações que abordam situações do cotidiano e que nos proporcionam experiências sensoriais e reflexivas.
Observe a seguir alguns trabalhos do artista que estiveram expostos no Palácio das Artes.
Perceba como Cildo se apropria dos objetos e acrescenta neles um elemento visual, como a frase carimbada na cédula e a inserção nas garrafas de refrigerante.
Cildo realizou as interferências e depois devolveu as garrafas e cédulas aos circuitos de consumo, criando um sistema de circulação e troca de informações. É importante pensar no contexto em que os trabalhos são criados, nesse caso, no período da ditadura militar no Brasil. As obras de Cildo nos provocam a pensar não somente no que estamos vendo, mas também no que estamos vivendo, a refletir a partir de acontecimentos do cotidiano e do contexto político e social que nos cerca.
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Referências:
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CILDO Meireles. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10593/cildo-meireles>. Acesso em: 09 set. 2022.
Cildo Meireles. Instituto Inhotim. Disponível em: <https://www.inhotim.org.br/item-do-acervo/cildo-meireles-2/>. Acesso em: 20 set. 2022.
Jochen Volz. In: Guia da exposição “Do objeto para o mundo – Coleção Inhotim”, 2015.
MEIRA, Beá. Arte: do rupestre ao remix. Editora SCIPIONE, 2ª ed., 2015.
Sobre o autor:
Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.