Curso Básico de Curadoria

“Ver é sempre uma operação de sujeito, portanto uma operação fendida, inquieta, agitada, aberta. Todo olho traz consigo sua névoa.” 

Didi-Huberman

O que desperta uma paisagem? Qual a relação entre a paisagem e a sensibilidade do olhar de quem a vê? E o que seria o olhar, senão um momento, a memória de uma experiência vívida de quem olha? A paisagem, um dos gêneros mais tradicionais das artes visuais, percorreu todos os períodos da história da arte e continua sendo trabalhada até a contemporaneidade. Em O que vemos, o que nos olha, Georges Didi-Huberman analisa a experiência visual a partir de um paradoxo: por um lado, as imagens são ambivalentes, o que causa inquietação; por outro, o ato de ver sempre nos abre um vazio invencível. Para o autor, não há que escolher entre o que vemos e o que nos olha, “há apenas que se inquietar com o entre”. Afinal, “diante da imagem, estamos sempre diante do tempo”. A 9ª Mostra “CHAMA – Paisagens e territórios sensíveis”, da Escola de Artes Visuais – CEFART/ FCS, aborda estas diversas indagações e narrativas acerca do gênero paisagem e da percepção de territórios. Uma das inspirações desta Mostra foi o centenário da Semana de Arte Moderna, evento que levantou questionamentos e suscitou novas formas estéticas para as artes visuais no Brasil, dando origem ao Movimento Modernista. Em Minas Gerais, um grande expoente do Modernismo foi Alberto da Veiga Guignard, cujas obras inspiraram a artista Marina Nazareth, homenageada deste semestre, a adentrar no mundo das artes. A partir de estudos, pesquisas e discussões acerca da obra da artista Marina Nazareth, especialmente as que fazem parte do acervo da Fundação Clóvis Salgado, os estudantes da Escola de Artes Visuais do CEFART construíram esta Mostra, um projeto realizado a várias mãos, com produção textual crítica, propostas educativas, conteúdo audiovisual, além da apresentação virtual de obras do acervo e de obras digitais produzidas pelos próprios estudantes. Muitos artistas retratam territórios dos quais fizeram parte, seja no cotidiano ou em viagens, refletindo ou construindo realidades. As obras desse gênero podem representar cenários naturais, urbanos e culturais. Assim, elas podem nos dizer muito sobre a época e o lugar em que foram produzidas; e sobre o olhar e a imaginação dos artistas. Cada artista tem seu processo, sua narrativa e principalmente seu estilo em apresentar sua obra. As propostas trouxeram provocações passíveis de várias reflexões e, principalmente, cenários que instigam o observador a adentrar à cena. Como resultado, a Mostra apresenta, através de uma rica coletividade, novas formas de pensar e trabalhar, a partir da modernidade, as ideias de paisagem, território e sensibilidade nas artes contemporâneas.


Referência: DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. Segunda edição. São Paulo: Editora 34, 2010.

Textos Críticos 

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