Curso Básico de Curadoria 

Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS (Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado) – 1° semestre – 2025

Ao longo da história da arte, podemos observar a ausência de artistas mulheres nas referências bibliográficas mais tradicionais, principalmente até a primeira metade do século XX. Isso não significa que não havia mulheres produzindo arte, mas que, de certa forma, elas foram deixadas à margem da história da produção artística. Outro fato importante é que a “figura” da mulher tem sido tema de obras ao longo dos tempos, mas na maioria das vezes representada sob uma perspectiva masculina. Essa questão desperta reflexões sobre a atuação das mulheres nas artes contemporâneas e como tem ocorrido a representação da mulher nas artes visuais atualmente.

A partir daí, a proposta para a 15ª Mostra da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS apresenta uma investigação sobre o tema “Mulheres nas artes visuais e a produção artística feminina na história da arte: Contextos e desdobramentos na contemporaneidade”, instigando os estudantes a refletirem sobre o assunto e lançarem novos olhares para uma questão tão pertinente. Para além do estudo sobre o tema, os estudantes também pesquisaram a respeito da artista, professora e pesquisadora Andréa Lanna, que possui uma obra no acervo da FCS e é a homenageada desta edição.

Após pesquisas e debates durante o primeiro semestre de 2025, nas aulas da disciplina “Fundamentos em Curadoria” do Curso Básico de Curadoria, os estudantes definiram o título e o conceito para a 15ª Mostra da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS: CHAMA Quanto antes, mulher!. Esse tema nos convida à reflexão sobre como as mulheres deixam de conhecer sua total potência por habitarem um tempo diferente. “Quanto antes”, porque a arte feita por mulheres deveria ter sido reconhecida há muito tempo, além de buscar compreender o espaço-tempo que as mulheres ocupam na contemporaneidade e suas limitações, concepções, percepções e vivências. A mostra apresenta uma obra da artista homenageada e vinte trabalhos de estudantes/artistas da Escola de Artes Visuais, selecionados por edital interno, além de intervenções, vídeos e propostas educativas.

A seleção das obras se deu por meio de um chamamento interno elaborado pelos próprios estudantes do Curso Básico de Curadoria, que desenvolveram um conceito, fizeram a análise e seleção dos trabalhos, e escreveram o texto curatorial. As obras selecionadas foram divididas em dois núcleos, que propiciam observar um diálogo entre os trabalhos, por questões conceituais ou visuais. A seguir, veja o resultado desse trabalho, realizado com muito empenho e dedicação de todos e todas que se envolveram nesse processo.

Professor Giovane Diniz

TEXTO CURATORIAL

A Mostra CHAMA Quanto antes, mulher! surge como um chamado para o reconhecimento da presença da mulher nas artes visuais. Seja pela representação, pela autoria ou pela inspiração, a exposição convida a refletir sobre a complexa – e tantas vezes silenciada – participação das mulheres no campo da arte, desde o apagamento histórico até as contínuas transformações no cenário contemporâneo.

“Quanto antes”, porque a arte feita por mulheres deveria ter sido reconhecida há muito tempo. Não só em um contexto histórico, mas também como um convite ao agora e ao porvir. É fato que a história da arte foi marcada pela invisibilidade das mulheres artistas, frequentemente silenciadas ou deixadas em segundo plano. Aqui, também o tempo é demarcado como recurso precioso na feitura da arte, no entanto, tão escasso às mulheres, que convivem cotidianamente com a sobrecarga de trabalho e acúmulo de funções. A mostra privilegia o universo das mulheres, propondo outras histórias e novos olhares, ao reunir artistas de diferentes contextos e múltiplas vozes, linguagens, estilos e abordagens.

Como forma de sublinhar esse debate, a CHAMA Quanto antes, mulher! homenageia a artista, professora e pesquisadora mineira Andréa Lanna. Sua produção mergulha nas sutilezas da cor sobre diferentes suportes, tensionando, em diversos momentos, os limites entre o figurativo e o abstrato – como na obra S/ título (1985). Marcada pela experimentação e por uma poética intensa, sua obra inspira esta edição da mostra, que busca fortalecer o lugar da mulher na arte contemporânea e seu papel na construção contínua da história da arte.

A exposição reúne vinte obras de estudantes da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS – selecionadas por um edital interno – e convida o público a percorrer narrativas e linguagens diversas a partir de dois núcleos temáticos: “Temporalidades” e “Identidades”. Os trabalhos, que incluem pinturas (reproduções), fotografias e fotoperformances, abordam variadas situações, desde reflexões sobre representação – como em Autorretrato: de quando fiz as pazes com o espelho (2025) – até reivindicações de espaço, a exemplo de Estamos em obras (2025), ou mesmo a personificação da figura materna, como em Vamos fugir desse lugar (2020).

Além desses trabalhos, a mostra apresenta vídeos de projetos culturais, videoarte, produções do projeto educativo, um painel com intervenção artística e uma obra da artista homenageada, Andréa Lanna. Todas essas ações partem do conceito curatorial e ampliam o campo da experiência estética e crítica, convidando o público a um olhar atento, plural e sensível.

Ao refletir sobre quem fomos, quem somos e quem ainda podemos ser, damos passos importantes rumo a uma arte verdadeiramente inclusiva, que reconhece o tempo das mulheres, suas histórias, identidades e desejos de futuro. Ou seja, “quanto antes” ouvirmos as mulheres, mais rapidamente construiremos um tempo comum onde todas as vozes possam coexistir.

Núcleo Temporalidades

Nesse núcleo, emergem reflexões sobre a falta de tempo, a memória do núcleo familiar e o apagamento histórico das mulheres. As obras reunidas sugerem como a trajetória da mulher tem sido marcada por atrasos, interrupções e apagamentos, mas também por resistências e reconstruções. Aqui, o tempo se transforma em matéria crítica, propondo novos olhares para a arte a partir de múltiplas vozes e vivências, e convidando à construção de futuros mais plurais, justos e inclusivos.

Essas reflexões estão presentes em obras como A obliteração (2025), de Lana Stéfany, e Eu ainda morro, mas renasço (2025), de Thais Alves Marins, nas quais existir é resistir ao tempo – associadas à imagem simbólica do relógio. A figura materna é personificada em Vamos fugir desse lugar (2020), de Karina Rodrigues. O direito de ocupar espaços e reivindicá-los está presente em Estamos em obras (2025), de FERSI. Já Sem título (2023), de Gabriela Rezende, Sem título (2025), de Alexandre Nery, e Dona Marolina na janela (2013), de Altiere Leal, evocam família, memória e contemplação do tempo. Em O mistério dela (2024), de OJÚ KARIRI, encontramos a festividade, fé e devoção, enquanto em Autocuidada (2021), de Sabrina Fortunato, traz à tona o cuidado com o corpo e o sentimento de acolhimento.

Artistas: 1- Gabriela Rezende 2- Thais Alves Marins 3- Altiere Leal 4- Lana Stéfany 5- Alexandre Nery 6- OJÚ KARIRI 7- Sabrina Fortunato 8- Karina Rodrigues 9- FERSI.

Núcleo Identidades

A multiplicidade de experiências que compõem o ser mulher e suas manifestações visuais na arte são os temas que recaem sobre o núcleo “Identidades”. As obras reunidas revelam a força de uma identidade artística que não é única nem homogênea, mas atravessada por diferenças de classe, raça, sexualidade, geração e território. Há obras que reafirmam a força das origens e da ancestralidade, como em Mãe Ana (2025), de Laíra Luanda, Yaiza (2024), de Alessandra Rabello, e Des-Água (2019), de Coral. Em A força da mulher: Liberdade (2025), de Mara Sifuentes, a arte surge como instrumento de emancipação. Maria, Maria (2025), de Ana Julia Wenceslau, evoca o universo dos sonhos. Nas obras Flameja (2025), de Amanda Alves, Calmaria (2021), Laura Oliveira, Autorretrato: de quando fiz as pazes com o espelho (2025), de Clara Castro, e Suporte (2025), de Dara Santos, o corpo é ponto de partida para refletir sobre os impactos dos padrões estéticos e sociais, bem como o potencial de resistência e reinvenção. Silêncio – pausa na escuridão (2021), de Isadora Falcão, aborda a forma de silenciamento e opressão. Já em ONDE ESTÁ ANA? (2024), de Deborah Albuquerque, emergem reflexões sobre o apagamento e a luta por visibilidade.

Artistas: 1- Alessandra Rabello 2- Isadora Falcão 3- Mara Sifuentes 4- Clara Castro 5- Ana Julia Wenceslau 6- Laíra Luanda 7- Coral 8- Dara Santos 9- Laura Oliveira 10- Amanda Alves 11- Deborah Albuquerque.

Estudantes do Curso Básico de Curadoria: Altiere Junio Leal Silva, Bárbara Chagas Oliveira, Beatriz de Aquino Costa, Érica Alessandra Fernandes, Gleidston Fernando Santarelli de Paula, Isabel Machado Amaral, Isabela Santos, Isadora Falcão Valença, Karina Rodrigues Santos da Silva, Lana Stéfany Araújo Pimenta, Luisa Guerra Peixe de Miranda Fonseca, Luiz Carlos do Couto Junior, Mariana Alves Machado, Milena Carvalho Lisboa de Abreu, Renata Mota, Sarah Elen Rodrigues Gonçalves, Stefany Silva Freu e Thais Alves Martins.

Orientação: Professor Giovane Diniz.

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