Curso Básico de Expografia

8ª Mostra da Escola de Artes Visuais CHAMA: tramas – Cefart – FCS

A oitava edição da CHAMA, realizada pela Escola de Artes Visuais (Escavi) da Fundação Clóvis Salgado (FCS), será levada ao público de forma virtual. Para este ano, a temática escolhida é “tramas”. A ideia da trama surge a partir da observação do contexto dos estudantes da Escola de Artes Visuais do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) que, devido às condições globais, se encontram em ensino remoto. Essa condição possibilita novas formas de contato, criando tramas pelas redes da internet, além das relações entre alunos, professores e aprendizados.

Aos estudantes do curso de Expografia foi dada a tarefa de pensar e de construir uma proposta expositiva sob a perspectiva de um evento presencial e acessível. O resultado integra a exposição virtual no site da instituição. O local escolhido para a realização da nossa proposta expositiva é a Pequena Galeria Pedro Moraleida, localizada no pavimento superior do prédio do Palácio das Artes. Com área total a ser ocupada de 78 m², o espaço estrutura-se como um corredor. Uma de suas laterais é composta por um painel de vidro, que permite a fruição da visão para além da galeria e a conexão dos visitantes com o pátio interno da FCS.

Nesta edição, a Mostra CHAMA: tramas buscará refletir acerca da arte, mineiridade, costura, rede e conexões que podem ser realizadas com pessoas de vários lugares. A possibilidade de unir pontos em escala nacional é instigante e desafiadora, já que muitos estudantes do Cefart vivem em outras cidades e estados. Como mais um ponto dessa costura, o homenageado desta edição da Mostra é o artista mineiro Jarbas Juarez.

A exposição traz duas obras do artista que pertencem ao acervo da Fundação Clóvis Salgado: “Colhendo Café” (29 x 22 cm), com a técnica de xilogravura do ano de 1977, e “Nu” (33 x 24 cm), com a técnica de aquarela sobre papel do ano de 1978. A iniciativa permite a aproximação do público com o acervo da FCS e com esse artista versátil, que contribuiu muito para a arte mineira.

Serão exibidos também 23 (vinte e três) trabalhos de estudantes da Escola de Artes Visuais, selecionados por meio de edital realizado pelo Curso Básico de Curadoria, com base na temática proposta. A iniciativa levará ao público as imagens produzidas, fomentando, assim, a formação e a experimentação e colaborando para a construção das conexões e costuras das propostas de alunos e de Jarbas Juarez.

A CHAMA: tramas em sua versão virtual mantém, assim, o objetivo de inclusão e fomento da educação patrimonial, ainda que no período pandêmico, além de contribuir para a divulgação e visibilidade do projeto pedagógico, da história e da trajetória da Escola de Artes Visuais do Cefart.

Jarbas Juarez

O pintor, escultor, gravador, ilustrador e jornalista Jarbas Juarez Antunes nasceu na cidade de Coqueiral, interior de Minas Gerais, no dia 15 de janeiro de 1936, mas ainda bebê foi morar na cidade de Nepomuceno. Nascido em pleno decênio de 1930, quando a arte estava muito em voga em nosso país, Jarbas foi influenciado por ela, juntamente com a literatura mineira.

Jarbas cursou a Escola de Belas Artes em Belo Horizonte, entre os anos de 1957 e 1959, tendo o próprio Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) como seu professor. Após formar-se, ingressou em outra faculdade, no curso de Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), formando-se em 1964. Atuou por um tempo como jornalista, mas as artes falaram mais alto e, em 1965, passou a dedicar-se somente a elas.

A cidade de Nepomuceno inspirou-lhe desde pequeno; apaixonado pelas paisagens mineiras, não pintou a realidade, mas trouxe elementos do estado em suas obras. Uma de suas inspirações é o barroco mineiro, principalmente das igrejas, mas não no sentido religioso, e sim na referência da arquitetura dos monumentos em si.

Rompendo com os ditames de sua época, em 1964, participando do neo-vanguardismo, lançou um manifesto na véspera dos resultados da seleção do XIX Salão Municipal de Belas Artes (SMBA-BH), em que a ordem era: “Guignard está morto, descubramos nossos próprios caminhos!”.

Suas obras Colhendo Café (1977) e Nu (1978) são trabalhos revolucionários, que trazem justamente esse neo-vanguardismo, juntamente com a mineiridade.

Proposta Expositiva

A palavra trama tem diversos sentidos. A trama como história, uma narrativa de acontecimentos, a trama que se entrelaça para formar um tecido, a trama de elementos interligados como em uma rede, etc.

Para a exposição, trazemos a ideia da trama no fazer com as mãos: colher, cozinhar, catar, bordar, costurar, tear e outras ações que remetem à mineiridade. Também à ideia das conexões e relações que criamos ao longo da vida, podendo ser elas afetivas, sociais, de trabalho, familiares e de ajuda, e que todas extrapolam as fronteiras geográficas.

A partir daí, nossa primeira tarefa na construção desta proposta foi pensar, em conjunto, adjetivos e frases sínteses que representassem a ideia da exposição e, assim, planejar a exposição por circuitos e módulos. Essa ação foi importante para nortear as outras atividades que viriam dentro do planejamento do projeto expográfico.

Com orientação da professora Bruna Gonçalves, os estudantes desenvolveram a paleta de cores da exposição. A proposta reforça o conceito da pluralidade da palavra “tramas”, que remete às relações sociais, conexões do mundo digital e ao entrelaçamento dos materiais. As cores “vermelho tomate seco” e “azul porcelana” foram inspiradas nas obras do artista Jarbas Juarez. Já a cor “palha” nos faz lembrar a tradição dos materiais naturais, muito utilizados nas produções artísticas em Minas Gerais. A cor “verde” nos remete às montanhas que emolduram a paisagem mineira.

No painel de vidro da galeria, que permite a visão ao pátio interno da FCS, de onde também é possível avistá-la, foi instalado o biombo “Mar de Montanhas”, inspirado nas montanhas encontradas nas obras do homenageado, que nos conecta com a intenção de criar diálogos, afetos e percepções. “Uso a nossa mania de querer ter praia e não ter, coloco um Pão de Açúcar no meio do cafezal, misturo mar com montanha” (Jarbas Juarez, 2019).

A base do biombo em aço remete às conexões, às torres de transmissão, aos cabos elétricos, uma entre as muitas funções do aço. As montanhas aparecem em tecido feito em teares, uma prática artesanal da tecelagem conhecida nas propriedades particulares de Minas Gerais há pelo menos 300 anos. Essa antiga técnica de tecido feito à mão, mais conhecida como “repasso mineiro”, foi desenvolvida em teares de quatro pedais, onde desenhos são gerados a partir da combinação e da quantidade de fios passados em cada liço e da ordem da pisada nos pedais. O desenho do “repasso mineiro” é extremamente rico não só em termos culturais, mas também tecnológico. O tecido é confeccionado no tear a partir do entrelaçamento de linhas chamadas de urdume e trama.

As obras dos alunos foram agrupadas em “grids”, elemento utilizado por designers para organizar os elementos de forma harmônica e padronizada. As obras foram dispostas assim para que ficassem alinhadas umas com as outras. As duas obras do artista homenageado presentes na exposição estão dispostas no centro da parede, com moldura “passe-partout” em fundo na cor palha dando destaque.

Os materiais expográficos planejados dentro da proposta são artesanais, como o banco amadeirado e sua base de aço, trazendo a mesma conexão da base do biombo e das molduras amadeiradas dos quadros dos estudantes. A madeira e o aço empregados no mobiliário buscaram resgatar os materiais tradicionais usados no estado mineiro.

Beneficiada pela estrutura da galeria, dividida espacialmente por pilares, a exposição se organiza em 5 (cinco) espaços, aqui denominados módulos, que compõem harmoniosamente a proposta. Eles recebem cores, que marcam os assuntos, além de texto, obras e frases estruturadas de forma que tragam fluidez à visita.

O módulo inicial é o primeiro contato com a Mostra. Nele, temos informações da exposição e da ficha técnica. Esse módulo está na cor palha, trazendo um contraste sutil com as informações que permitirão ao visitante inteirar-se sobre a exposição para percorrer o espaço.

O segundo e o terceiro módulos recebem trabalhos dos estudantes da Escavi submetidos ao edital da oitava edição da mostra. Nos módulos, encontramos uma obra de cada artista, entre quadros únicos e composições, como dípticos (compostos de 2 quadros), trípticos (3 quadros) e polípticos (mais de 3 quadros). 

O quarto módulo é dedicado ao homenageado Jarbas Juarez. Suas obras estão dispostas na parede de cor vermelha “tomate seco”, que traz a tonalidade de suas obras. A frase desse módulo é uma citação do próprio artista: “A linha é a forma mais simples de interpretar as ideias” (Jarbas Juarez, 2011).

O último módulo tem a sala de vídeo, com uma televisão na parede ao fundo, exibindo 4 vídeos didáticos e poéticos do Curso de Formação Continuada em Assistente de Produção Cultural. Cada vídeo traz um tema, que apresenta de forma resumida as inspirações dos alunos. As paredes na cor “azul porcelana” recebem a frase “Tramas afetivas que conectam”, confeccionada em tecido artesanal de tear.

Acessibilidade

Em nossa proposta expositiva, foram elaborados alguns recursos, com base na NBR 9050, destinados às pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com deficiência visual. Consideramos, a partir daí, a implantação das seguintes medidas no projeto expográfico:

  •  Pessoas com deficiência visual – contraste entre a fonte preta sobre o fundo claro do texto expositivo para facilitar a leitura; circulação na galeria pela direita de forma linear e sem obstruções; piso tátil e televisão de 50” polegadas.
  •  Pessoas com mobilidade reduzida – espaço de circulação na galeria com medidas ajustadas às orientações da norma e assento posicionado estrategicamente de forma a não obstruir a circulação, prezando pelo conforto e segurança do fruidor.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. 2004. Rio de Janeiro, 2004.

Casa Belarmina. O repasso mineiro e a padronagem nos tecidos artesanais. Disponível em: <https://casabelarmina.com.br/o-repasso-mineiro-padronagem-nos-tecidos-artesanais/>. Acesso em: 18 mar. 2022.

JUAREZ, Jarbas. Mini-currículo. 2010. Disponível em: <https://jarbas-juarez.webnode.com.br/biografia/>. Acesso em: 23 mar. 2022.

TV Imago. Circuito Atelier Jarbas Juarez. YouTube, 2011.

VIDIGAL, Raphael. Pintor Jarbas Juarez fala sobre sua trajetória. Artes plásticas. O Tempo. 2019. Disponível em <https://www.otempo.com.br/diversao/pintor-jarbas-juarez-fala-sobre-sua-trajetoria-1.2143446> Acesso em: 18 mar. 2022.

Projeto Expográfico

Desenvolvido por estudantes do Curso Básico de Expografia

Estudantes: Ana Barros, Ana Luiza Luciano Marques, Bruna Ribeiro Diniz, Daniela Angelo Jorge, Daniela de Assis Fernandes, Dariane Martiól, Diego Armando Dias Medeiros, Eduardo Shiiti Jacob Toma, Gabriella Diniz Mansur, Laura de Castro Pereira, Letícia Santos Borém, Luciana d’Ávila Lage, Marcus Vinicius Sousa de Andrade, Talita Bárbara Costa de Oliveira e Wendell Lopes de Assis.

Professores orientadores: Alexandre Ventura, Bruna Gonçalves e Nathália Bruno

Texto: Bruna Ribeiro Diniz, Daniela Angelo Jorge, Gabriella Diniz Mansur, Laura de Castro Pereira e Talita Bárbara Costa de Oliveira. Revisão: Luciana d’Ávila Lage

Planta baixa: Ana Luiza Luciano Marques, Letícia Santos Borém e Marcus Vinicius Sousa de Andrade.

Croquis do processo: Diego Armando Dias Medeiros e Eduardo Shiiti Jacob Toma.

3D e render: Ana Barros e Daniela de Assis Fernandes.

Vídeo: Daniela de Assis Fernandes, Luciana d’Ávila Lage e Wendell Lopes de Assis.

Confira aqui um vídeo de simulação deste projeto expográfico na Pequena Galeria.

Para baixar este material, clique aqui.

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