Nuvens de Chumbo”, sobre memória e resistência, estreia na Funarte.
Sinopse
Fantasmas da ditadura civil-militar brasileira retornam e deambulam pelo espaço, procurando compreender o que lhes aconteceu. Esses seres dançam suas memórias, carregando seus objetos empoeirados, querendo em vão os seus corpos, vasculhando os vazios. E se deparam, patéticos, mais uma vez, com seus atos insones. O passado não forma nunca um todo fechado, mas não deixa de continuar passando.
Corpos em suspensão, vozes entrecortadas, gestos que dançam memórias e silêncios. Assim é o espetáculo “Nuvens de Chumbo”, que estreia no dia 3 de julho na Funarte MG. Com assinatura do professor e diretor Luiz Carlos Garrocho, a montagem marca a formatura da turma da manhã do Curso Técnico em Teatro do Cefart. A peça segue em cartaz com sessões gratuitas até 13 de julho, sempre às 19h, de quinta a domingo.
Sem reconstruções lineares, o espetáculo traz à tona a persistência de um tempo que não passa, convocando o espectador a reconhecer, nos gestos e nos silêncios, as marcas de uma ferida coletiva. A presença de corpos que tentam reconstituir suas histórias lança luz sobre um passado que ainda ecoa. Para isso, o trabalho investe em uma linguagem cênica fundamentada no teatro físico, na composição coletiva e na escuta do sensível.
A encenação parte de impulsos corporais, composições visuais e sonoras, atravessando o espaço com camadas de significado e jogo corporal. “Diria que é uma acrobacia afectiva da potência de ser modificado pelo outro”, afirma Garrocho. O desejo, segundo ele, foi cultivar um espaço de criação atento ao sensível, “onde a cena é antes uma escuta do que uma imposição”. Em sua fala, o diretor evoca a memória da infância em tempos de repressão: “Crescemos sob o regime do medo: nuvens de chumbo sobre nossas cabeças. Não é apenas um tema, é a nervura de uma experiência de mundo”.
O elenco formado por Fábio da Mata, Jeanne Angelino, Jesika Torres, Mateus Brant, Rosilene Barbosa e Vanessa Perroni dá vida a personagens que surgem do vazio: seres fragmentados, vulneráveis, fantasmas insistentes. A dramaturgia foi construída coletivamente. Seres espectrais vasculham vestígios do que foram, dançam lembranças difusas, sussurram fragmentos de vozes apagadas. “Nuvens de Chumbo” é também um exercício de formação artística.
Aos domingos, dias 6 e 13 de julho, as apresentações contarão com interpretação em Libras ampliando o acesso ao público surdo