Uma obra sobre a arte como princípio de vida e de fé, de liberdade, criação e realização plena de direitos. O média-metragem Ressonâncias, de Ana Amélia Arantes, toma a pianista e educadora Berenice Menegale para mostrar seu cotidiano na Fundação de Educação Artística (FEA), suas memórias e ideias para destacar a importância da cultura na formação e na transformação do ser humano.
O documentário tem pré-estreia na terça-feira, dia 18 de novembro, no Cine Humberto Mauro. As sessões são às 18h30, com acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva e visual, e às 19h, para o público em geral, seguido de bate-papo com a equipe. O projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e patrocínio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). A entrada é gratuita.
Não à toa, a diretora e roteirista escolheu umas das figuras mais importantes da cultura de Minas Gerais para revelar o papel central da arte na formação da sociedade. Berenice Menegale é apresentada em seu dia a dia de trabalho na Fundação de Educação Artística, lecionando e discutindo temas relacionados à cultura e à história da Fundação.
A documentarista mantém seu olhar próximo, porém sem interferir nas ações, como uma “fantasminha” (apelido atribuído a ela pela própria Berenice) que acompanha o desenrolar do cotidiano a uma certa distância. O filme tem a delicadeza e simplicidade da personagem retratada. Não se trata de um perfil exaustivo, mas de um olhar poético para vislumbrar a figura de Berenice e seus ideais de liberdade, criatividade e direito universal à arte, sempre em constante renovação.
Berenice Menegale teve iniciação precoce nas artes e, aos 3 anos, já tocava piano, além de ter, em casa uma ampla formação humanística. Aos 15, ingressou no Conservatoire National de Paris (França) e, mais tarde, diplomou-se na Akademie für Musik de Viena (Áustria). Atuou em concertos e gravações de música brasileira para rádios no Brasil, Suíça, Itália, Espanha e Áustria. De volta ao Brasil, percorreu vários estados do país, onde constatou a ausência de cursos e escolas para a formação de músicos.
Em 1963, junto a um grupo de jovens músicos, criou a Fundação de Educação Artística, entidade que aposta na liberdade de ensino e criação musical e artística. Em 1967, foi uma das criadoras do Festival de Inverno – posteriormente Festival de Inverno da UFMG –, evento cuja área de música coordenou até 1986.
Através da FEA, abrigou incontáveis propostas artísticas inovadoras, músicos e grupos artísticos de reconhecida relevância como o Uakti, Grupo Oficcina Multimedia, O Grivo e outros. A intensa atividade da FEA nas décadas de 1970, 1980 e 1990 foram responsáveis por uma profunda inovação no ensino e na difusão da música em Minas Gerais. Diversos Ciclos de Música Contemporânea, quatro Encontros de Compositores Latino-Americanos, coordenados por Berenice, tiveram papel decisivo na transformação do panorama musical em Belo Horizonte, com repercussões nacionais.
Berenice foi ainda representante da Comunidade no Conselho Universitário e professora da Escola de Música da UFMG, pela qual se aposentou em 1999 e a qual lhe condecorou com a Medalha Reitor Mendes Pimentel, ao lado de Ailton Krenak e Nilma Lino Gomes.
Na esfera pública, participou da criação da Secretária Municipal de Cultura de Belo Horizonte, a qual geriu de 1989 a 1992, período em que foram criados os primeiros Centros Culturais nas regionais da cidade, o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, o Centro de Referência Audiovisual, o Conselho Municipal do Patrimônio, entre outras importantes construções do sistema de cultura da capital mineira.
Acolheu e estimulou iniciativas como o Festival Internacional de Teatro, criado pelo Grupo Galpão. Em âmbito estadual, participou do diagnóstico que recomendou a criação da Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais que depois viria se tornar Secretaria de Estado da Cultura. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura e gestora titular da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, de 1994 a 1997. Foi diretora artística do Instituto Cultural Orquestra Sinfônica, de 2007 a 2009.
Aos 91 anos, Berenice prossegue incansável concebendo novos projetos e em suas atividades de professora de música na FEA. O documentário Ressonâncias tem como fio condutor imagens do cotidiano de Berenice Menegale e conversas sobre sua grande paixão que é a Fundação de Educação Artística. Seus pequenos gestos e ações traduzem sua visão de mundo em que a arte desempenha protagonismo.
Sinopse
O documentário Ressonâncias captura nas atividades da Fundação de Educação Artística os reflexos do pensamento e as marcas da personalidade de Berenice Menegale, sua fundadora e diretora há 62 anos. Os princípios de liberdade, renovação, criatividade e direito universal à arte, que fundamentam suas ações, podem ser atestados também na sua participação na história do desenvolvimento cultural de Minas Gerais e seguem sendo faróis para as gerações de hoje.