I de Isopor

Imagine você entrando em uma galeria de arte ou em um museu e deparando-se com pilhas de caixas coloridas e desgastadas pelo tempo espalhadas no espaço. Você passaria direto e procuraria a exposição de arte achando que entrou no lugar errado? Faria cara de que entendeu, mas continuaria em dúvida? Buscaria uma plaquinha para saber mais sobre a obra? Esse tipo de situação é mais comum do que imaginamos e, muitas vezes, não sabemos como lidar com isto: não entender por que aquele objeto está ali. Pensando nisso, montamos para você um glossário de A-Z de objetos poéticos nas artes visuais e realizamos uma curadoria cuidadosa de artistas e obras no contexto atual.

 

Bora falar de Arte?

 

Ilustração: Daniela Parampal.

 

Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “H” de hélice e alguns trabalhos do artista Guto Lacaz, que usa esse artefacto propondo situações lúdicas e inusitadas com bastante humor.

A próxima letra, seguindo a ordem alfabética, é o “I” e o objeto que foi escolhido é o isopor. O isopor é tanto uma matéria que constrói outros objetos quanto o objeto em si. Vamos ver como um artista que recolhe objetos com marcas do tempo se apropriou de isopores para fazer arte?

 

Isopor

O isopor é uma aglomeração de poliestireno e sua característica marcante é a fácil flexibilidade ou maleabilidade sob a ação do calor. É matéria-prima para objetos como: copo descartável, marmitas, bandejas, proteção para transporte de eletrônicos, entre outros. Embora não seja usual, é possível reciclar essa matéria-prima muito poluente. Qual outro objeto feito com isopor você conhece?

Tem também a caixa de isopor, mais conhecida somente como “o isopor”, que é usado para manter alimentos e bebidas geladas ou quentinhas. Costumamos levar para a praia e para o piquenique. Há também quem os use para trabalhar, carregando gelo e bebidas para vender. É desse isopor que iremos falar hoje e do artista Marcone Moreira que fez um trabalho usando esse objeto.

 

Marcone Moreira

Marcone Moreira iniciou sua produção nas artes visuais nos anos 2000 em Marabá, no Pará. Sua pesquisa gira em torno de materialidades já existentes no mundo e que apresentam a marca do tempo sobre elas. A relação de troca com os espaços, as coisas e as pessoas também são chaves no seu processo. Instalações, esculturas, vídeos e desenhos dão contorno aos seus projetos.

Linhas de Força (2017)

No final de 2017, Marcone apresentou a exposição Linhas de Força no Palácio das Artes. Essa mostra era composta por diversos objetos recolhidos do mundo real, como porretes de madeira usados por trabalhadoras que atuam na extração do babaçu. Esses materiais eram impregnados por marcas do tempo e de seu uso contínuo, contando histórias a partir desses vestígios. Histórias que, em seu contexto habitual, passariam despercebidas, já no contexto da exposição ganharam a atenção do nosso olhar.

 

Ilustração: Daniela Parampal.

 

Visualidade Ambulante (2009)

Visualidade ambulante é um trabalho iniciado em 2009, que vem do interesse de Marcone pela forma como os vendedores ambulantes de bebida ornamentam e protegem com fitas adesivas suas caixas de isopor. A partir daí, Marcone Moreira traça uma convivência com esses trabalhadores e troca os isopores usados por novos e as fitas adesivas para reforçá-los e decorar da forma que quisessem.

Ele passou mais de um ano acompanhando a rotina dos vendedores ambulantes para compreender e fazer as trocas que acabavam acontecendo nas casas dos vendedores. Nessas visitas o artista conhecia a família, tomava cafezinho e sabia mais da vida daquelas pessoas. Assim ele entendeu que seu trabalho não estava somente no objeto exposto, mas em todo o processo de construção e relações que a obra necessita.

Com os isopores, Marcone constrói instalações que evidenciam a materialidade. Para cada exposição, uma forma diferente de compor o espaço: construindo uma coluna muito alta, sobrepondo as caixas ou criando um labirinto com diversas delas espalhadas. Os visitantes podem caminhar por esse espaço criado, relacionando-se com o conjunto de isopores como se fossem esculturas ou monumentos grandiosos, o que se opõe à especificidade deles individualmente: um material simples usado no trabalho de vendedores ambulantes. Em cada montagem é apresentada uma configuração.

Marcone Moreira costuma dizer que o que ele menos quer é fazer mais coisas no mundo, ele entende que já existem muitas. Seu desejo, como artista, é reordená-las e reelaborar o seu universo, usando fragmentos do entorno para projetar pensamentos.

 

llustração: Daniela Parampal.

 

Você conhece algum outro artista que também usou isopores? Você pensou em outro objeto com a letra “I”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando @fcs.palaciodasartes e também as nossas hashtags: #educativofcs e #borafalardearte.

Semana que vem vamos conversar sobre a letra “J”, “J” de jornal, refletir sobre nossa relação com esse objeto no cotidiano e apresentar uma artista que trabalha com ele. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

 

Para curiosos:

Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? H de Hélice

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Conheça mais sobre Marcone Moreira aqui

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lustração: Daniela Parampal.

 

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.