Magister Raffaello: Uma clássica experiência contemporânea

Em cartaz até o dia 27 de fevereiro, a exposição “Magister Raffaello”promovida pelo Consulado Geral da Itália em Belo Horizonte, pela Fundação Clóvis Salgado e pela Magister Art, em celebração aos 500 anos de morte de Raffaello Sanzio, homenageia um dos maiores nomes do renascimento italiano, que é um marco na cultura ocidental como um período de grandiosas conquistas e avanços nos campos das artes, da ciência e do pensamento humano.

Considerado um período voltado ao humanismo e ao individualismo, nas artes os pintores e escultores buscavam representar o mundo real de maneira ideal. Estudos anatômicos e de perspectiva em espaços de duas e três dimensões deixaram um legado de beleza e de harmonia em obras que até hoje são referência especial na história da arte e da humanidade. Raffaello Sanzio foi um artista ativo nos centros urbanos do renascimento italiano. Com destaque para as temáticas religiosas, ele reproduzia os ideais de beleza clássicos utilizando técnicas requintadas da época, como o sfumato e o chiaroescuro combinados a claridade e amplitude dos espaços representados.

Exposição “Magister Raffaello”. Foto: Isa Carolina

Na exposição, podemos ver a magnitude do trabalho de Raffaello mediado pelo avanço do tempo e de tecnologias que nos oferecem a possibilidade de contato com obras do século XVI em um formato característico do século XXI: em projeções, movimento e luzes. Se por um lado estar diante de um Raffaello “moderno”, atual, que se comunica com uma geração que cada vez mais dialoga por meio de telas é uma manifestação do quão democrática pode se tornar a apreciação da arte a partir dos avanços digitais, por outro, naturalmente, fica o desejo de podermos contemplar a alma das pinturas em sua materialidade pictórica.

É preciso que façamos o exercício de reflexão sobre como é ver obras de arte de séculos atrás com o intermédio de uma narrativa digital, pois existe um deslocamento para a fruição estética. Certamente a experiência se torna mais sensorial do que poética ou contemplativa, a princípio. As projeções que se movimentam dando ênfase aos detalhes das pinturas, os tamanhos em escalas diversas na apresentação das reproduções, o jogo de claro-escuro feito por luzes artificiais e não mais pela técnica do pintor, a perspectiva e o volume oferecidos pelos vídeos ao invés das camadas de tinta e contrastes de cor são um convite à vida moderna que nos cerca de neons e imagens sobrepostas. 

Uma das características da arte renascentista é a representação da natureza como se alguém estivesse observando por uma janela (toda imagem deveria caber nos limites da tela). A natureza deveria ser representada fielmente e, em busca dessa fidelidade, a pintura a tornava idealizada. A exposição propõe um simulacro do simulacro onde toda a experiência flui por uma imersão em janelas digitais, proporcionando a idealização do contato direto com a obra. A digitalização de obras de arte e de espaços culturais ao redor do mundo possibilita as visitas virtuais e o acesso à cultura de uma maneira nunca antes registrada na história. Podemos “entrar” em museus e galerias como se lá estivéssemos experienciando um contato simulado com o real. Cada vez mais tem se tornado natural vivenciarmos uma virtualização das relações da fruição artística que acompanha o progresso das relações da vida mediadas pela era digital. Na exposição “Magister Raffaello”, o clássico se confunde com o contemporâneo e nos apresenta um novo olhar sobre a arte, o belo e o ideal.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora da Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.