Mercado de bananas: a polêmica obra de Maurizio Cattelan

“A arte contemporânea tem se tornado um mercado de bananas?” Obras de arte como “Comedian”, do artista italiano Maurizio Cattelan, geram críticas e questionamentos ácidos como esse, consequências das polêmicas que elas despertam.

“Comedian” é uma banana presa na parede com fita adesiva, mas que não tem valor algum, já que a obra em si consiste em um certificado de autenticidade com diagramas detalhados e instruções para sua exibição adequada. Tipicamente um exemplar da arte conceitual em que as ideias dos artistas e seus projetos valem mais do que o objeto em si. Tanto a banana quanto a fita adesiva podem ser substituídas de acordo com a necessidade, ou seja, são descartáveis. Tão descartáveis que na feira de arte contemporânea Art Basel de Miami a fruta foi comida pelo artista David Datuna em uma ação provocativa que foi a sensação da exposição. Afinal, ele ingeriu uma fruta que -simbolicamente – valia 120 milhões de dólares!

“Comedian”, Maurizio Cattelan, 2019. Fonte: site Click Museus

Cattelan é um artista reconhecido por seus trabalhos irônicos, sarcásticos e debochados. Sua banana com fita adesiva, vendida por milhões no mercado de artes, é uma troça com esse mesmo mercado que tem se tornado milionário, mas com critérios relativos. Desde que a arte conceitual abriu caminhos para se pensar e fazer arte integrando-a ao cotidiano e retirando um invólucro que a distanciava das coisas comuns abriu-se também uma porta para discussões, reflexões e críticas acerca da própria arte e do mercado que a legitima. No entanto, parece que tudo já foi visto e discutido tantas vezes que chega a ser irônico – assim como é a obra – que “Comedian” tenha causado tanto alarde e ganhado tamanha notoriedade. E é nessa mediação entre “ironias” que talvez esteja a arte em uma simples fruta. A banana remete à constante interrogação acerca do que seria ou não arte, quem seriam os negociantes por trás dela e quais critérios seriam utilizados para valorizar determinados trabalhos artísticos e suas narrativas e outros não.

Ironizar a arte e desconstruir padrões vem sendo motivação para artistas desde o século XX. Já vimos Marcel Duchamp pintar bigodes na “Mona Lisa”, Joseph Kosuth nos apresentar a mesma cadeira três vezes e até Chris Burden levar um tiro em nome da arte.

Uma banana apodrecendo sob uma fita adesiva não é nada tão especial diante de um acervo de inovações, escândalos e repetições na arte contemporânea.

Talvez o que a tenha tornado algo espetacular é, justamente, alertar para um cenário artístico desgastado que vem se alimentando de polêmicas e milhões, mas que parece refletir o vazio de uma sociedade baseada no imediatismo, na instantaneidade e na transitoriedade, sendo uma banalização da própria narrativa moderna. Afinal, assim como a vida e seus acontecimentos vão moldando a cultura, a arte vai se moldando de acordo com as referências que a cultura oferece. 

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora da Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.