Curso Básico de Expografia

CHAMA: 7 Acervos da Memória – 7ª Mostra da Escola de Artes Visuais – Cefart | FCS 

A sétima edição da CHAMA, realizada pela Escola de Artes Visuais (Escavi) da Fundação Clóvis Salgado (FCS), será levada ao público de forma virtual. Este ano, a temática escolhida é 7 Acervos da Memória. Aos estudantes do curso de Expografia foi dada a tarefa de pensar e construir uma proposta expositiva sob a perspectiva de um evento presencial. O resultado integra a exposição virtual no site da instituição.

O local escolhido para a realização da nossa proposta expositiva é a Pequena Galeria Pedro Moraleida, localizada no pavimento superior do prédio do Palácio das Artes. Com área total a ser ocupada de 78m2, o espaço estrutura-se como um corredor. Possui pé-direito de 4,10m, cerca de 24m de comprimento e 2,92m de profundidade. Uma de suas laterais é composta por painel de vidro, que permite a fruição da visão para além da galeria e a conexão dos visitantes com o pátio interno da FCS.

Nesta edição, a mostra CHAMA: 7 Acervos da Memória buscará reflexões acerca da arte e a relação com a construção da memória. Em nossa proposta expositiva, buscamos manter essa relação de forma pungente. O caminho a ser percorrido se inicia com homenagem à Yara Tupynambá, por meio da exposição de quatro obras da artista integrantes do acervo da FCS: as xilogravuras “Negrinho do Pastoreio” (65 x 96 cm), “Cobra Norato” (95 x 66 cm) e “Assombração” (96 x 64,5 cm), bem como o desenho em pastel a óleo sobre cartão “Meninos de Berilo” (70 x 90 cm).

A iniciativa permite a aproximação do público com o universo quase imaterial (e com a memória) de uma das mais relevantes artistas mineiras e evidencia a importância do acervo da instituição.

Também serão exibidos 25 (vinte e cinco) trabalhos de estudantes da Escavi, selecionados por meio de edital realizado pela curadoria da mostra com base na temática proposta. A iniciativa levará ao público imagens produzidas por estudantes da Escola de Artes Visuais, fomentando, assim, a formação e a experimentação e colaborando para a construção de memórias coletivas.

Em nossa proposta expositiva no formato presencial, também fomos convidados a pensar medidas de acessibilidade a partir da escolha de um público-alvo. Definimos que nosso público são pessoas cegas ou com baixa visão. Consideramos, a partir daí, a implantação das seguintes medidas: inserção de piso tátil, uso de Braile e etiquetas aumentadas na identificação de obras, a criação de audioguia e réplicas táteis das obras da artista homenageada Yara Tupinambá.

A CHAMA: 7 Acervos da Memória, em sua versão virtual, mantém, assim, o objetivo de inclusão e fomento da educação patrimonial, ainda que no período pandêmico, além de contribuir para a divulgação e visibilidade do projeto pedagógico, da história e da trajetória da Escola de Artes Visuais do Cefart.

YARA TUPYNAMBÁ

A artista homenageada nesta edição da mostra é a mineira Yara Tupynambá. Sua trajetória e de suas obras nos leva ao profundo universo que habita a relação entre arte e memória.

Pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora, Yara nasceu em 1932 na cidade de Montes Claros (MG). Foi aluna de Guignard (1896-1962), de Misabel Pedrosa (1927) e de Oswaldo Goeldi (1895-1961). 

Seu trabalho nos traz um universo que se desvenda por meio de perspectivas longínquas de paisagens e figuras surrealistas que transitam entre dramático e poético, entre a memória e o onírico. A obra da artista percorre aspectos profundos da chamada “mineiridade” e contribui, assim, para a construção de nossa identidade.

Yara Tupynambá foi escolhida pela crítica diversas vezes como destaque das artes e, em 1992, recebeu o título de Cidadã Honorária de Belo Horizonte do governo de Minas Gerais. 

PROPOSTA EXPOSITIVA

A memória é o local onde guardamos imagens e sensações que se fundem e, de forma fluida, nos guiam na compreensão do mundo e na construção de nossa individualidade. A arte ocupa lugar fundamental nessa construção, possibilitando narrativas e fortalecendo visões de mundo e experiências que se tornam coletivas. 

Nossa primeira ação na construção desta proposta foi representar com palavras, durante exercício conjunto realizado em aula, sentimentos, imagens e sensações que surgissem a partir de nosso entendimento acerca da memória e da arte. Essas palavras, identificadas, nos nortearam na construção da identidade deste projeto: memória, pertencimento, mineiridade, raízes, cotidiano, individualidade e terra. 

As cores escolhidas para as paredes e pilares nos levariam ao solo, à base, à terra. Possibilitam a imersão em trama tecida de forma delicada, construída como parte da memória coletiva que nos aproxima e onde guardamos o que nos é precioso. 

Escolhemos, então, o tom terroso com textura do barro para a parede principal, tom médio para os pilares e cortiça para a parede do fundo. Juntos, evidenciam a estrutura da galeria e criam um interessante contraponto com a transparência do vidro (da parede oposta) que nos contata pelo olhar com o pátio interno.

Como medidas de acessibilidade, as informações textuais, recurso de orientação e informação, serão distribuídas ao longo da galeria, nas paredes e pilares, na cor branca e com uma fonte simples, permitindo assim uma boa leitura. 

Os quadros e fotos escolhidos pela curadoria da mostra serão dispostos nas paredes de forma não linear. Agrupados, nos remeterão à expressividade da disposição de imagens e objetos encontrados em salas de ex-votos ou em relicários. 

A escolha dessas duas referências (salas de ex-votos e relicários) justifica-se, uma vez que ambos são locais de registro coletivo de histórias que constroem, juntos, novas camadas de imaginários socialmente compartilhados e estéticas que, por vezes, perduram por gerações.

Beneficiada pela estrutura da galeria, dividida espacialmente por pilares, a exposição se organiza em 5 (cinco) espaços, aqui denominados módulos, que compõem harmoniosamente a proposta. Eles recebem cores, obras e textos estruturados de forma semelhante para que mantenham a fluidez da visita.

O módulo inicial é o primeiro contato presencial com a mostra. Nele, além do nome da exposição, temos informações específicas impressas na parede, divididas em três temas principais: a mostra, a Escola de Artes Visuais do Cefart e a ficha técnica. Essas informações permitirão ao visitante se instrumentalizar, se ele assim o desejar, para percorrer o espaço.

O segundo e o terceiro módulos são dedicados a Yara Tupynambá. Além das quatro obras da artista escolhidas para exibição, serão expostas fotos de sua vida e carreira. O objetivo é aproximar o público das memórias da pintora e torná-las parte das nossas para além das obras.

O quarto módulo receberá trabalhos dos estudantes da Escavi, submetidos ao edital vinculado à sétima edição da mostra. A organização proposta dialoga com as premissas do trabalho realizado pelo Cefart. A exposição das obras foi pensada para manter a identidade de cada trabalho, ao mesmo tempo que, expostas em conjunto, criam a dimensão coletiva a partir da apresentação do grupo. 

Uma vez que a proposta expográfica quer lidar com a memória individual de seus visitantes, propomos um espaço para que lembranças, reminiscências, objetos, escritos ou o que mais se queira, possam ser compartilhados, do individual ao coletivo, formando uma obra participativa. 

Dessa forma, o último módulo intensifica a expressividade e o imaginário das salas de ex-votos e relicários propostos para o conjunto da galeria, possibilitando a construção de espaço de memória coletiva, onde o visitante compartilhará suas memórias por meio de objetos ou textos. Para receber estes objetos, projetamos um mobiliário com materiais rústicos que nos aproximam de uma experiência afetiva com as nossas raízes. O mobiliário consiste em prateleiras em madeira, suspensas no teto por cordas de sisal, e uma parede em cortiça para receber os textos. Juntas possibilitam a criação coletiva de um espaço-obra não permanente como parte da exposição, enquanto os materiais, cores, referências e formatos remetem à identidade mineira e nos levam à obra da Yara Tupynambá, artista homenageada nesta edição.

A ação valoriza o processo ao aproximar o público do espaço expositivo e da proposta. Cada visitante poderá contribuir com o espaço-obra, de forma voluntária, deixando um objeto, texto ou imagem que representa e/ou dialogue com as emoções percebidas e sentidas durante a visita. 

A escolha por participar e o que deixar é do visitante, cocurador da proposta. Ao final da exposição, o espaço-obra será fotografado antes da desmontagem. As imagens, registro final da ação para além do espaço expositivo, serão exibidas nas redes sociais da Escola de Artes Visuais do Cefart.

Nesse caminho de construção artística, estão nossas memórias individuais e a possibilidade da construção de camadas múltiplas de memórias coletivas, só possíveis em função da arte, que nos conduz por emoções, ideias, pluralidade de culturas e visões de mundo.

TEXTOS CURATORIAIS

MÓDULO 1 – A MOSTRA

A arte é um espaço de memória. Ela nos guia na compreensão do mundo, possibilita narrativas, fortalece experiências coletivas e gera memórias. 

O conceito de arte é plural por ser perceptível a partir de um vasto campo de significações entre tempos e lugares diferentes para cada sujeito. Ela pode ser compreendida como um produto da cultura dos povos, reinterpretando crenças, valores, emoções e princípios – sua apreciação parte da presença da memória e do pertencimento diante das relações socioculturais. 

Acervos da Memória retoma a arte no espaço expositivo por meio da rememoração e da elaboração das memórias, recorrendo a representações da relevância do acervo da FCS. A mostra evidencia a mineiridade por meio das obras da artista Yara Tupynambá (belo-horizontina homenageada nesta mostra), juntamente com trabalhos dos estudantes da Escola de Artes Visuais.

MÓDULO 2 – YARA TUPYNAMBÁ

Yara Tupynambá transborda cor, vivacidade e sintonia com o belo. Ainda em preto e branco e carvão, a cor se avizinha. Constrói sua trajetória como ciclos que se desenvolvem e se conectam como a memória. Cobra Norato e Assombração fazem parte da geração das gravuras em madeira. O Negrinho do pastoreio reforça sua atitude de valorização do conhecimento popular de sua brasilidade. E Os Meninos de Berilo confirmam seu “regionalismo universal” e sua aldeia interior e interiorana. Ao observarmos as quatro obras escolhidas, as memórias transbordam e vemos a menina de Montes Claros que fez seu avant-premiére numa travessura de desenhar na cabeça de um ilustre parente adormecido. 

MÓDULO 3 – SOBRE A ARTISTA

A pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora Yara Tupynambá nasceu em Montes Claros (MG) em 1932. Foi aluna de Guignard (1896-1962), de Misabel Pedrosa (1927) e de Oswaldo Goeldi (1895-1961). Nos anos 60, faz sua primeira exposição no Rio de Janeiro, com ajuda de Goeldi. Nessa mesma década, integra o quadro de professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Seu trabalho nos traz um universo que se desvenda por meio de perspectivas longínquas de paisagens e figuras surrealistas que transitam entre o dramático e o poético, entre a memória e o onírico. A obra da artista tem uma profunda ligação com a terra e a história mineiras, retratando o cotidiano dos moradores das Minas Gerais no trabalho e no culto religioso, percorrendo aspectos profundos da chamada “mineiridade” e contribuindo, assim, para a construção de nossa identidade.

MÓDULO 4 – A ESCOLA DE ARTES VISUAIS 

A construção de memórias coletivas a partir de experiências individuais ganha corpo com a exibição de 25 (vinte e cinco) obras de estudantes da Escola de Artes Visuais do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) aqui expostas. Selecionadas pela curadoria da CHAMA: 7 Acervos da Memória, os trabalhos nos convidam a percorrer caminhos por entre afetos, sentimentos e memórias dos artistas participantes, com base em técnicas variadas e diferentes suportes.

A Escola de Artes Visuais visa a democratização do acesso aos estudos das artes expositivas. Durante o período da pandemia foi possível ampliar remotamente esse acesso a seus estudantes, alunos de regiões mais distantes, com a oferta de cursos básicos e de formação inicial online, oferta que pretende tornar o aluno apto a historicizar-se socialmente e artisticamente nos aspectos que englobam os processos expositivos e museográficos, partindo da teoria e da prática da criação e da montagem de uma exposição. 

Produção Cultural, Expografia, Curadoria e Arte Educação são os cursos oferecidos pela Escavi. Esses cursos abordam a história da arte, o desenvolvimento curatorial, o projeto expográfico e muitos outros aspectos que compõem o objetivo de novas comunicações e interações na produção de conteúdo das artes visuais. Dessa maneira, a escola incentiva os alunos a praticarem tanto a criatividade presente nas artes quanto a inclusão dos espaços expositivos.

MÓDULO 5 – ESPAÇO DA MEMÓRIA

Propomos aqui a construção de um espaço-obra de memória coletiva. Você é parte dessa experiência. Compartilhe conosco narrativas, memórias, sentimentos e sensações. Deixe em nosso espaço um objeto, texto ou imagem que represente ou dialogue com as emoções percebidas e sentidas por você durante essa visita. Ao final da exposição, o espaço-obra será fotografado antes da desmontagem. As imagens, registro final da ação para além do espaço expositivo, serão exibidas nas redes sociais da Escola de Artes Visuais do CEFART. 

Projeto Expográfico

Desenvolvido por estudantes do Curso Básico de Expografia

Estudantes Ana Paula Santos Pinto, Beatriz Radicchi, Fatima Regina Silva, Flávia da Silva Lúzio Santos, Isadora Canela Martins Martins de Carvalho, Lila Gati Azevedo Silva, Lucas Marques Tarabal Silva, Paula Lemos Vilaça Faria, Ronaldo Tostes Ribeiro Filho, Sílvia Figueiredo e Yan Nicholas Sauâne de Benedetti

Texto de apresentação e textos curatoriais Lila Gati Azevedo Silva, Lucas Marques Tarabal Silva, Fatima Regina Silva, Beatriz Radicchi, Sílvia Figueiredo, Isadora Canela Martins Martins de Carvalho e Ronaldo Tostes Ribeiro Filho

Planta baixa Flávia da Silva Lúzio Santos e Yan Nicholas Sauâne de Benedetti

Elevações e Fachada Ana Paula Santos Pinto e Paula Lemos Vilaça Faria

Professores orientadores Alexandre Ventura, Bruna Gonçalves e Nathália Bruno