A memória é um cabedal infinito do qual só registramos um fragmento.
(Eclea Bosi, Memória e sociedade: lembranças de velhos, 1979, p. 3.)
No ato próprio de evocar do que se lembra, todo o esquecimento e ocultamento vem à tona. Num paradoxo, falar da memória é falar do que se esquece e do que não se diz. Quantas são as memórias? E quantos são, em oposição, todos os esqueceres? Para cada artista eternizado na História da Arte, quantas e quantos foram dissolvidos nas águas do esquecimento?
Há quem diga que a origem da palavra “recordar” vem do latim “ver com o coração”. Assim, o ato de relembrar seria produtor e produto de afetos que atravessariam quem recorda e também quem participa do recordar. Afeta quem lembra, afeta quem ouve. Afeta quem é esquecido e quem não tem direito às próprias memórias.
Memórias podem ser breves ou tão imensas quanto a própria vida. Espalham-se por frestas, entranham-se na terra, autoproclamam-se território de (re)criação. Lembrar também é inventar, criar, tendo como matéria-prima a própria lembrança. Memória como processo autofágico para sua própria existência. Entre o viver, o inventar e o criar, a memória é alvo também de disputas, conflitos, tensões que “craquelam” e reivindicam espaço. Memória é território não homogêneo, não conformado, instável e inconstante.
7 acervos da memória se desvelam na sétima edição da mostra.
7 caminhos que se entrecruzam para a criação de caminhos outros.
7 encruzilhadas nos territórios insones da memória, espalhando inúmeras tramas translúcidas que costuram esquecimento, território e reparação.
Memória; memórias. Múltiplas, muitas, multidões. Contraditórias, contrapostas, contrastes. Caminhos diversos que se espalham em seus territórios, retornam e se reinventam no próprio existir. Memórias mutáveis, potências criadoras de vida, ancestralidade, resistência. Caleidoscópios repletos de minúsculos e infinitos fragmentos de existências individuais fundidas na coletividade.
Esquecimento impregnado nas brechas, material intangível que recobre outras possibilidades de lembrar, outras formas de se inventar a memória. Oculta, abafa, torna invisíveis e inaudíveis as vozes, os ecos e os rastros que chegam das margens. Tecido pegajoso e seletivo, o esquecimento impede reivindicações enquanto oculta a face do poder.
Territórios cartografados pelos vestígios da vida. Afetos telúricos reinventados por palavras, imagens, sons, sensações, aflorados pelas bocas que falam memórias e pelos ouvidos que as escutam, percorrendo caminhos singulares de chegada e partida. Aterrar, ser terra, territorializar, compartilhar. Solo que nutre e serve de derradeiro descanso, se molda, encharca, seca, racha. Terra como lugar de partilha e comunhão, separada, dividida, fronteiras imaginárias que se erguem e frutificam conflitos, disputas.
Reparação “performada” em três atos: I) lançar o olhar sobre algo atrativo; II) consertar o que se quebrou; III) restabelecer, promover reparação por/para um erro. Reparar como possibilidade de ampliar espaços, de proporcionar encontros, de trazer à tona o que estava oculto, tal qual o mar em seus dias de ressaca. Reparação como proposta irrecusável, à qual nenhum olhar resiste.
Esquecimento, território, reparação. O que entrevê, o que aterra, o que atrai. Três perspectivas alinhavadas pelas costuras da memória, manancial infinito de (re)criações.
As etapas da criação do sistema de identidade visual da edição CHAMA: 7 Acervos da Memória vão desde a paleta de cor, a tipografia e a padronização de uso, até o texto conceitual da marca.
As pesquisas, as gerações de alternativas e o desenvolvimento foram realizados por estudantes como parte integrante do trabalho final da disciplina de Comunicação Visual do Curso Formação Inicial Continuada em Assistente de Produção Cultural.