Nemer e a fluidez das formas

José Alberto Nemer, nascido em Ouro Preto em 1945, pertence à geração dos chamados Desenhistas Mineiros, artistas que tiveram destaque nacional a partir da década de 1970. O artista tem como foco principal de suas pesquisas o processo de criação. O desenho, em sua formação, é uma linguagem marcante e podemos dizer que a técnica de aquarela, utilizada por Nemer com muita sensibilidade, dialoga diretamente com ela.

Suas aquarelas atraem o olhar do espectador, levando-o a um lugar de conforto e segurança em suas formas orgânicas e fluidas. As grandes bolhas nascidas das manchas dos pigmentos que se diluem na água formam outras bolhas, outros desenhos remetendo a células, ovos, micro-organismos.

Nemer, aquarela sobre papel, 2020. Foto: Rafael Motta

Em suas aquarelas, o racional formal delineado e limitado se rompe em formas que vazam em uma nova ordem gerando formas abstratas que povoam nosso imaginário com arquétipos aquáticos ou organismos celulares.

A transparência, característica da aquarela, nos trabalhos de Nemer é fundamental para a comunhão das formas. O branco, o vazio, não pode ser desconsiderado para as configurações das imagens. Ele tem um papel importante, seja contendo, reprimindo as formas, seja se contrapondo a elas ou com elas interagindo, criando zonas mais claras, escuras, degradês.

Embora as formas fluidas sugiram um processo espontâneo – que a princípio surgem sem controle –, ao observar atentamente a composição percebemos uma técnica rigorosa na delimitação dos espaços. Talvez aí seja o trunfo do trabalho de Nemer: nesses contrapontos entre transparência e zonas mais opacas, entre estruturas orgânicas e estruturas mais rígidas.

Para Nemer, quando a aquarela – indomável que é – escorre e o pigmento se concentra onde não era o esperado, esses deslizes são parte do processo e assim deve ser na arte como um todo.

Referência:

Nemer – aquarelas recentes. Fundação Iberê. Disponível em: ˂http://iberecamargo.org.br/exposicao/nemer-aquarelas-recentes/˃. Acesso em: abril 2022.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.