Workshop “Sobre Tons na Dança” celebrou a potência da diversidade e da arte como ferramenta de transformação social em Belo Horizonte nos dias 9 e 10 de julho
Um evento marcante que celebrou a potência da arte como ferramenta de transformação. O workshop “Sobre Tons na Dança” aconteceu nos dias 9 e 10 de julho no Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes. O evento foi uma parceria com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) através de seu programa “Sobre Tons”, que tem viabilizado diversas ações artístico-culturais antirracistas em parceria com a FCS desde 2024, abrangendo música, artes visuais, cinema e dança. Este encontro marcou a união da Cia de Dança Palácio das Artes (CDPA) com o coletivo Cia Favelinha (anteriormente Favelinha Dance), do Centro Cultural independente Lá da Favelinha, localizado no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
As trocas entre as companhias ocorreram nos dias 7 e 8 de julho e o resultado dessa interação foi apresentado ao público em forma de espetáculo, mesclando as diversas técnicas de dança utilizadas pelos dois grupos. As apresentações ocorreram nos dois dias posteriores, seguidas por uma roda de conversa com temática antirracista, mediada pela comunicadora Fatini Forbeck e pela bailarina Negona Dance, da Cia Favelinha. Mais de 200 jovens da rede pública de ensino da Região Metropolitana de Belo Horizonte, do Parlamento Jovem de São José da Lapa e da Associação Profissionalizante do Menor (Assprom) participaram da iniciativa. No segundo dia, após a apresentação, Fatini pediu para que os jovens descrevessem, com uma palavra, o espetáculo que haviam acabado de ver. “Representatividade”, “felicidade” e “maravilhoso” foram algumas das respostas dadas pelos alunos.
Segundo os artistas, o processo de criação, embora intenso e breve, foi profundamente enriquecedor para ambos os grupos. O convite para a Cia Favelinha partiu de Maxmiler Junio, bailarino da Cia de Dança Palácio das Artes. “Eu já era muito fã do trabalho deles. Já trabalhei com a Negona e acompanho o grupo, então, quando a direção me chamou, foi o primeiro nome que a gente levantou. Eu fiquei muito na expectativa, pensei ‘nossa, se eles falarem não, eu vou sofrer muito’. E que bom que falaram sim, porque eu sei da correria que é [para a Cia Favelinha], então eu tô muito feliz mesmo. Foi muito especial para a gente”, disse o artista.
Tiphany Gomes, da Cia Favelinha, contou sobre o processo de criação e ensaio do espetáculo apresentado, após receber o convite da CDPA. “A gente tá nessa transição de grupo para companhia, e aí achamos que seria uma experiência massa ter essa troca com uma companhia já estabelecida. Desde o primeiro momento a gente foi muito bem recebido, a gente trocou muita ideia sobre isso também. Acho que foi um encontro de técnicas dos dois lados. Tivemos algumas aulas de contemporâneo e hoje a gente fez de balé. Eu estava comentando com os meninos que a mesma concentração que todo mundo tinha para fazer aula de contemporâneo, tinha para fazer de balé e de funk, entendendo essa leitura de que é uma técnica que eu ainda não domino. Então, teve toda essa receptividade e esse respeito. Eu acho que a gente meio que tentou se preparar e aí fluiu de uma maneira muito mais leve, foi muito mais uma troca de conhecimento, saber e energia”, explicou a bailarina.
Para Paulo Weslley, bailarino da Cia de Dança Palácio das Artes, o workshop reacendeu uma paixão adormecida. “Faz muito tempo que eu não vivo assim, sabe? Eu já tô nesse ‘corre’ profissional desde 2018, e aqui na Companhia eu entrei em 2019. Léo [Garcia, atual coreógrafo da Cia Favelinha e ex-integrante da CDPA] tava aí, uma galera tava aí. E quando eu entrei nesse espaço, menos ainda eu me sentia incluído nisso tudo. Parecia uma coisa muito distante o que eu tinha aprendido pro que eu tava vivendo dentro da companhia. Eu também vim de projeto social, da capoeira e da dança contemporânea. Mas a gente quando tá nesse ‘rolê’ de companhia, a gente tá ali cumprindo nosso ofício, nosso serviço. Acaba que a dança, a gente não faz só por prazer, a gente vai cumprindo. Desde que os meninos [da Cia Favelinha] chegaram, rolou uma identificação, uma vontade de fazer um negócio que há muitos anos eu não tinha assim. E também tem essa ‘parada’ do lugar de fala que eles trazem. De como eles levam essa dança que no corpo ela fala, não precisa de muito para ser explicada. E eu queria agradecer o Léo, o ‘moleque’ tava comigo quando a gente chegou aqui, eu participava das rodas de conversa e pensava ‘meu Deus, onde é que eu tô?’. Tipo assim, ‘o que é que esse povo tá falando, que palavra é essa?’. E obrigado à gestão também, obrigado ao maravilhoso Max que fez essa ponte, aos meninos que aceitaram essa troca. Eu espero que seja apenas o começo”.