O beijo dourado

Neste mês de junho, em que se comemora o dia dos namorados, nada melhor do que apreciar um beijo. “O beijo”, tela pintada por Gustav Klimt em 1907-1908 e que pertence à chamada fase dourada do artista – por usar folhas de ouro nos trabalhos –, é uma ode ao amor. A enorme tela de 180 cm x 180 cm apresenta um casal em um momento de cumplicidade e intimidade, no gesto suave de um beijo dado pelo rapaz no rosto de sua amada.

Com o fundo ornamentado por ouro em pó e com lâminas de ouro e estanho nas vestes do casal ao centro, a pintura possui uma textura potente. A manta que cobre o corpo do homem, de maneira a não deixar visíveis suas formas anatômicas, cria uma espécie de auréola que envolve o casal e que confunde-se com o vestido da mulher, negando-lhe também uma nítida definição das formas. O traje que cobre o homem é estampado com desenhos geométricos verticais, fálicos, enquanto a figura da mulher é coberta por um traje com ornamentação floral e circular que remete ao feminino e ao ciclo da fertilidade. Uma das inspirações para a composição do quadro foram os mosaicos bizantinos que Klimt viu em Ravena, na Itália.

“O beijo”, Gustav Klimt. Fonte: Wikiart

A cena do casal apaixonado pode instigar várias interpretações ao nos darmos conta de que a figura masculina está em solo firme, mais elevado, enquanto a feminina, de joelhos, se entrega ao abismo, próxima a um declive. Sua proteção está nas mãos do amado que a segura pela cabeça e lhe aperta as bochechas para beijá-la. Não vemos o rosto do homem que está de perfil com os lábios colados à bochecha rosada da mulher que se entrega suavemente, de olhos fechados ao beijo.

Toda a atmosfera dourada da pintura evoca um lugar de pureza envolvente de amor onde o casal parece recortado do fundo como a flutuar em um espaço de sonho.

Um beijo – que é o toque dos lábios em outra pessoa, animal ou objeto – é um tema que entre estudos de antropólogos gera discordância se é algo instintivo ou aprendido. O fato é que seja um gesto de afeição, de reverência, de respeito, de carinho, de amizade ou de erotismo, beijar está intrínseco em nós, principalmente quando se trata de amor. E a pintura de Klimt demonstra isso com doçura e refinada beleza.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.