O corpo e a carne de Fábio Magalhães

Fábio Magalhães é um artista fantástico! Nascido em 1982 na Bahia, cria obras que emergem de seu imaginário em uma constante relação entre imagem e corpo. Suas figurações realistas refletem um jogo entre a fotografia e suas performances/encenações bem articuladas, tendo a pintura como produto.

As cenas apresentadas por Fábio evocam certo desconforto ao destacarem o corpo humano em carne viva, pulsando, sangrando, agonizando, gritando. Os gestos das figurações causam desde sensações de claustrofobia até sensações de aflição como, por exemplo, em recortes de cenas em que dedos são prensados, uma língua grita perfurada por pregos, sacos plásticos cobrem uma respiração desesperada, entre outras imagens perturbadoras. Em suas séries de pinturas é possível ver também retratos de um Fábio combinado a elementos que parecem sem nenhuma conexão aparente, mas que unidos sugerem os devaneios do artista.

A estrutura das composições emite uma dualidade entre a fotografia e a pintura ao se manifestar, em um primeiro olhar, como algo real que se dilui na ideia de pura representação de uma não realidade.

Por meio de suas pinturas hiper-realistas que manipulam a realidade ressignificando-a desde as fotografias-base, o artista consegue propor um diálogo entre o “discurso” da arte contemporânea e a pintura tradicional. Suas obras desvirtuam o padrão de beleza clássico, mas nem por isso deixam de ser belas em sua essência, notavelmente refinadas em sua técnica impecável.

A frequente presença de carne humana ou fragmentos de animais mortos criam uma atmosfera viva da morte e ao mesmo tempo nos convoca a refletir sobre o corpo perecível como matéria, como organismo em suas entranhas.

Fábio nos convida a pensar sobre realidade e representação, sobre os limites do corpo em suas partes sem o todo, sobre nossas contingências e o quanto podemos nos abalar ao perceber nossa fragilidade em um amontoado de vísceras.

Referência:

Fábio Magalhães. Disponível em: ˂fabiomagalhaes.com.br˃. Acesso em: 08 de nov. 2021.

Sobre a autora:

Isa Carolina é especialista em História da Arte, mediadora cultural e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.