O de Ouro

Um corpo coberto de ouro, que dança ao som de bossa-nova e convida você para dançar junto a ele, criando uma oportunidade para um momento de afetividade e trocas entre artista e público.

Você já viu algo inesperado em uma exposição ou até mesmo na rua? Alguém fazendo algo diferente ou vestida de forma inesperada? E já considerou que isso pode ter sido uma ação intencional, uma performance artística? 

A arte nos convida a olhar de outras maneiras para o mundo, possibilitando-nos refletir e questionar o que nos é dado. E, para ampliar nosso repertório nas artes visuais, estamos criando um glossário de A-Z de objetos poéticos, a partir de uma curadoria de artistas e obras no contexto atual.

Bora falar de arte?

Colagem: Daniela Parampal.

Na postagem anterior, conversamos sobre a letra “N” de nó e conhecemos um pouco da pesquisa da artista Mira Schendel de sua série Droguinhas, feita de esculturas de papel construídas usando nós. 

A letra de agora é o “O” e o objeto escolhido é o ouro.    

Ouro

O ouro faz parte do grupo dos metais preciosos, cobiçado por seu brilho e propriedades, mas principalmente por seu valor econômico e sinônimo de poder. É um material raro, encontrado na natureza em forma de pepita, comumente usado combinado com outros metais, para formar ligas. A pureza do ouro é indicada por quilates, porém raramente é usado puro por ser muito mole, dobrando-se facilmente. É bastante resistente à corrosão e por isso mesmo pode ser usado como camada para proteger contatos eletrônicos delicados. O ouro está presente em eletrônicos como TVs, computadores, câmeras e celulares.

Élle de Bernardini

Élle de Bernardini é uma jovem artista brasileira e sua produção apresenta relevância no cenário nacional, presente em acervos e coleções. Sua formação inicial é em ballet clássico, que deu a primeira base para um trabalho expressivo com seu corpo. A performance foi a primeira linguagem em que Élle desenvolveu seus trabalhos de criação artística. Atualmente ela transita, além da performance, pela pintura, fotografia, vídeo, objeto e instalação. Sua obra é permeada por questões biográficas e suas vivências como uma mulher transexual.

Colagem: Daniela Parampal.

Dance with me (2018)

Com o corpo coberto de mel e folhas de ouro 18 quilates, Élle entra na galeria ao som de MPB e bossa-nova, começa a dançar, sua expressão corporal demonstra muita segurança e presença, como se o espaço pertencesse a ela. O convite feito é para que os espectadores dancem com ela, logo uma fila é formada para receber o afeto e um pouco do ouro preso no seu corpo. 

Essa é a performance Dance with me, em que a artista interage com o público e coloca seu corpo a serviço da obra. São muitas as questões levantadas nesse trabalho, uma delas é a presença/ausência de corpos transexuais em espaços de poder, como eles são negados e invisibilizados. No momento em que a artista se mostra como é e, ao mesmo tempo, reveste-se de ouro, as pessoas se aproximam mais facilmente, embaladas pela música e com o desejo de dar e receber afeto; vivência muitas vezes negada às pessoas transexuais.

Colagem: Daniela Parampal.

Élle entende que todo trabalho em que o artista utiliza seu próprio corpo contém algum grau de incerteza e risco. Assim, cria situações limítrofes que rotineiramente não ocorreriam, para causar sensações e convocar uma participação do público. 

Você conhece algum outro artista que também usou ouro em suas obras? Pensou em outro objeto com a letra “O”? Conte para nós por meio das mídias sociais, usando as hashtags #borafalardearte e #educativofcs.

Na próxima publicação, vamos conversar sobre um objeto com a letra “P” e refletir sobre nossa relação com algum objeto, além de conhecer um artista que trabalha com ele. O nosso convite continua aberto, bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Para curiosos:

Leia o conteúdo anterior, Bora falar de arte? N de Nó

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Escute o podcast Arte: Cura e Risco (com Élle de Bernardini) aqui

Colagem: Daniela Parampal.

Sobre as autoras:

Clarissa d’Errico é técnica em Comunicação Visual, bacharel e licenciada em Artes Visuais e professora na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.