O museu é o mundo

Vamos fazer uma pausa no nosso alfabeto para falar um pouco sobre o mundo, o museu e um artista que afirmou que “o museu é o mundo”. O nome dele é Hélio Oiticica e já apareceu no Educativo FCS. Quem quiser saber mais sobre seus processos, leia o texto “Hélio Oiticica e a pintura fora do quadro”, do eixo Criarte.

Palavras-chave: Hélio Oiticica, museu e mundo.

Bora falar de arte?

Ao entrar em um museu nos colocamos em uma postura de atenção, mais sensível às percepções daquilo que nos rodeia. Sabemos que estamos ali para observar e, em alguns casos, interagir. Esse espaço está preparado para garantir maior envolvimento do público com o que está sendo apresentado. Sua iluminação, sua organização e até a temperatura criam um clima adequado para o estado de apreciação daqueles que o visitam. Nosso corpo caminha diferente, mais lento, silencioso e aberto ao novo.

Já imaginou levar esse estado de atenção para o seu cotidiano? Talvez isso já tenha acontecido em alguns momentos. Caminhando pela rua da sua casa, você já notou algum detalhe que nunca havia reparado? Ou um acontecimento chamou sua atenção e você pôde apreciá-lo por um instante? A luz que incidiu por uma fresta, o vento que bateu na copa de uma árvore, o pôr do sol…

Foto: Daniela Parampal.

“O museu é o mundo, é a experiência cotidiana”

A afirmação “o museu é o mundo, é a experiência cotidiana” foi feita por Hélio Oiticica em meados dos anos 1960. Por meio dela, o artista afirmava que a vivência com a arte poderia acontecer em nosso dia a dia. O quadro, por exemplo, seria o mundo concreto em vez de uma representação bidimensional. Ao aproximar arte e vida, Hélio apropriou-se dos objetos comuns, não apenas levando esses objetos para os espaços de arte, mas também chamando o público até eles. Deixou de lado, assim, a exclusividade dos museus em exibir obras de arte e colocou, por algum momento, o mundo e o cotidiano como espaço dessa experiência. 

Foto: Daniela Parampal.

“Bólide lata” (1966)

Hélio relata que ao encontrar um objeto, ou um conjunto deles, e tomar posse com um significado, transforma-o em obra de arte. Em 1966, ele fez isso com uma lata de óleo com fogo (objeto usado para iluminar uma rua em obras). Esse encontro e escolha não foram aleatórios, há um interesse estético pela forma, pelo calor emanado, o movimento, a luz e o contraste com o escuro da noite.

A obra de arte intitulada “Bólide lata” não foi deslocada do local de origem para uma galeria ou um museu, ela permaneceu exercendo sua função. Mesmo assim, foi designada por Hélio Oiticica como arte e todo o mundo passou a ser o lugar da obra. O artista chama o público para a rua onde está a lata convertida em obra, mas qualquer outra rua que tenha uma lata sinalizadora será o ambiente da obra de arte. Assim, a experiência e a apropriação se ampliam no cotidiano: a obra se faz por quem a está vendo.

Foto: Daniela Parampal.

Faça uma experiência

Ao encontrar uma situação ou um objeto comum e que, por alguma razão, toque você, imagine que ele é uma obra de arte e olhe para ele como tal. Perceba o que nele o atrai, suas formas, texturas, movimentos, cores e o que mais você perceber. Guarde essa imagem na sua mente. Passado algum tempo, observe se a situação ou o objeto se repetirá em seu cotidiano. Caso se repita, mantenha o olhar em estado de arte para ele.

Olhe as coisas do mundo como arte e seu mundo será um museu!  

Foto: Daniela Parampal.

Na próxima publicação, nosso convite continua aberto: Bora falar de arte? Lembre-se de acompanhar as mídias sociais da Fundação Clóvis Salgado para se manter atualizado sobre a arte contemporânea!

Sobre as autoras:

Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.

Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS.